Cananeia é um município litorâneo de São Paulo que é conhecido, principalmente, por seus atrativos turísticos. No entanto, analisando um outro lado da região, a dissertação Entre ritmos: As habilidades perceptuais de pescadores em paisagens multiespecíficas (vila de Pontal do Leste, Cananeia – SP), apresentada ao Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), do pesquisador Lucas Lima, estudou as percepções que a população desse vilarejo tem sobre os aspectos do meio onde habitam.
O interesse de Lucas em estudar a pequena vila de 45 habitantes veio do período no qual ele trabalhou com um órgão ambiental em Cananéia. Biólogo, ele afirma que, nesse tempo, só tinha a visão que um ambientalista tem sobre a comunidade com a qual trabalhava. No entanto, desejava saber qual era a visão que os habitantes daquele local tinham do próprio ambiente onde viviam, ou seja, como era a produção de conhecimento sobre determinados eventos locais. “Queria ver como a comunidade faz seu próprio conhecimento, sua própria ciência”, conta.
Para isso, o pesquisador realizou um estudo etnográfico: passou um tempo com aquela população para entender melhor como viviam. Mesmo assim, compreende a dificuldade que alguém externo àquela realidade pode encontrar para entender, e principalmente, registrar certas práticas. “O maior problema enfrenta do quando você quer trabalhar com estudo de percepção é perceber da forma que eles percebem as coisas. Você não consegue entender as coisas como eles entendem. É uma coisa muito difícil. Como traduzir isso e colocar no texto depois?”
Além disso, como uniu em sua pesquisa diversos saberes, abordando antropologia, biologia, estudos religiosos e ecologia, o IEB foi, para o pesquisador, um ambiente bastante rico para a realização teórica da pesquisa. “Uma coisa legal do IEB é que ele tem justamente o viés interdisciplinar.”
A população nativa e as políticas públicas
Ao estudar como se portam e qual a relação dos habitantes de vila de Pontal com o meio onde vivem, o pesquisador afirma que um de seus objetivos é apontar que o conhecimento produzido por essas pessoas deve ser considerado em toda a sua potência quando órgãos ambientais e estatais planejam políticas conservacionistas (de defesa do meio ambiente) para região. “Existe uma ideia do Criador (que é o Deus do catolicismo) de que para você ter o seu ganho, você precisa explorar, mas não de uma forma intensa”, conta Lucas.
O Criador, como é apontado na pesquisa, não está relacionado com as ideias de conservação do meio ambiente. Ele ensina que deve haver um respeito entre todos os elementos, bióticos e abióticos, já que estão todos relacionados. “Acho que o ponto principal que eu quero defender na minha dissertação é que o mundo é uma coisa muito anímica. Estamos sempre nos relacionando com seres que podemos considerar vivos e não-vivos, mas esta relação que temos com eles não nos dá o poder de hierarquizar isso. O animismo, reunindo diversos entendimentos, no geral, pode-se dizer que traz uma instabilidade aos processos, seres e entes que as vezes é esquecida por muitos cientistas”. Desta forma, como afirma Lucas, não há a necessidade de haver hierarquização entre os seres. “Não é tentar colocar o ser humano em um patamar e o meio em outro, mas sempre tentar simetrizar as coisas, afirmar que existem humanos, animais e plantas. Aqui eles estão sempre no mesmo patamar”.
Faça um comentário