As diversas facetas da Agrofloresta

Pesquisa aponta a relação entre experiências agroflorestais, construção civil e cidadania

Foto: Idesam.org

Baseado em seu doutorado, concluído em 2000, a docente e pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU), a arquiteta Anália Amorim, desenvolve um estudo sobre agroflorestas e como estas experiências relacionam-se com um possível desenvolvimento sustentável de comunidades que recorrem a esta prática. Para isso, através de uma análise da questão, busca promover uma reflexão sobre a importância das questões que envolvem preservação do solo, produção agrícola e geração de riqueza para a agricultura familiar. ”Temos que tomar consciência sobre tratamento do solo e produção agrícola em termos de produção de riqueza. Nem tanto em relação ao agrobusiness, mas pensar como se privilegia a agricultura familiar”, defende.

Por sistemas agroflorestais – SAF – entende-se um conjunto de práticas agrícolas, pecuárias e silvo culturais utilizadas visando gerar riqueza ao produtor, riqueza à terra e prosperidade social, beneficiando inclusive áreas degradadas. Em algumas experiências de SAFs, espécies de rápido crescimento, inclusive árvores, disponibilizam biomassa para cobrir e fertilizar o solo. Outro fator relevante para os sistemas agroflorestais, segundo a pesquisadora, é a consorciação e rotação de culturas agrícolas e pecuárias. Esta prática ameniza os efeitos erosivos e recupera a qualidade do solo. A explicação para isso reside no fato de cada espécie agrícola e animal poder consumir e prover distintos nutrientes durante seu crescimento.

Em um primeiro momento, a arquiteta Anália Amorim foi levada a esta pesquisa a fim de avançar na sua investigação sobre o papel da madeira na arquitetura e na construção civil. Historicamente, a madeira perdeu parte do seu protagonismo arquitetônico e estrutural, após a Revolução Industrial. ”A política de construção de floresta brasileira desconhece a madeira como material construtivo. Ela vai na vertente que enxerga a madeira como produtora de celulose, de papel, produção de carvão e termoelétrica”, diz a pesquisadora. Entretanto, o uso da madeira em edificações apresenta diversos benefícios.

Trata-se do único material que se planta e se colhe. Se comparada com os demais materiais construtivos e estruturais, a madeira é a que apresenta o menor consumo de energia, desde sua origem na floresta ao estágio final. Se bem projetados, detalhados e construídos, os edifícios em madeira podem contar com uma durabilidade milenar; os templos japoneses são o melhor exemplo desta durabilidade. Tratamentos garantem sua resistência ao ataque de xilófagos nas madeiras mais brandas, sem contar que espécies mais densas e amargas raramente sofrerão ataque de cupins. A madeira não oxida. Quando em seções estruturais, resiste a altas temperaturas, permitindo que os ocupantes dos prédios disponham de tempo para desocupar o edifício. Para a pesquisadora, o Brasil deveria aproveitar este potencial para construir moradias e outras formas de infraestrutura utilizando este material, uma vez o País tem madeira de altíssima qualidade, tecnologia de plantio, cultura arquitetônica e construtiva capazes de conduzir o usufruto de uma boa arquitetura fabricada não apenas com a madeira, mas com a junção da madeira a outros materiais construtivos.

Por outro lado, a pesquisa destaca a importância de se construírem sistemas agroflorestais e do uso sustentável desses ecossistemas. ”A recuperação dos sistemas agroflorestais e o plantio de novas espécies auxiliarão no processo de sequestro de carbono”, analisa Anália. Isto é, com maior quantidade de árvores, aumenta-se o nível de carbono capturado pelas espécies vegetais para a realização da fotossíntese. Este processo, mesmo que em pequena escala, atenua os efeitos do aquecimento global. A fixação deste carbono sequestrado poderá ser conseguida, dentre outros dispositivos, através do uso da madeira na construção de edifícios e infra-estrutura.

Docente da FAU, a arquiteta considera primordial que se incentive a agrofloresta. ”Temos que alterar nossa mentalidade quando o assunto é agricultura. As agroflorestas produzem alimentos mais saudáveis ao homem e ao solo”, enfatiza. Em se tratando de Brasil, é necessário destacar que, segundo a Anvisa, em levantamento feito em janeiro deste ano, o país ocupa a primeira colocação no ranking de consumo de agrotóxicos.

Dados: Fundação Copel

Portanto, consumir produtos derivados da agrofloresta atenua os riscos degenerativos causados pelos certos compostos químicos. Outro fator importante diz respeito à geração de renda a pequenos agricultores. O plantio de hortaliças, árvores frutíferas, árvores madeiras, o manejo de animais, dentro dos sistemas agroflorestais, se bem orientados e conduzidos, além de recuperar o solo, darão ao agricultor sustentação econômica e bonança para comunidades locais.

Em sua consideração final, a pesquisadora defende que o Estado saiba defender os interesses da agricultura familiar, uma vez que, não bastasse a desleal competição com o agronegócio, este expressivo e significante setor da população brasileira historicamente sofre com a marginalização e condições de vida subumanas.

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