Juliana Alencar, sanitarista e bióloga pela USP, desenvolveu seu mestrado e doutorado na Faculdade de Engenharia Civil da Poli-USP. Em seu mestrado, a pesquisadora trabalhou com revitalização de corpos d’água, acompanhando o Programa Córrego Limpo (iniciativa da Sabesp e da prefeitura de São Paulo), especificamente a recuperação dos córregos Ibiraporã, no Morumbi, e Sapé, no Rio Pequeno. Já no doutorado, Juliana procurou aprofundar seu entendimento sobre as técnicas de manejo de um rio, pois, segundo ela, até mesmo pesquisadores do ramo usam muito erroneamente alguns termos ligados ao assunto. Assim, a pesquisadora voltou-se, primeiramente, para a definição dos processos de renaturalização, revitalização e recuperação.
Renaturalizar um rio é devolver a ele suas características originais partindo das condições em que ele se encontra. Para esse processo seriam necessárias ações como a desapropriação da várzea e descanalização do rio para que ele volte a meandrar (irregularidades no curso de água). Devido a isso, Juliana considera que renaturalização não é a melhor opção de manejo para um rio urbano.
Revitalizar, por sua vez, engloba análises muito mais complexas, explica a pesquisadora. Trata-se de pegar um o curso d’água que está cheio de impactos e trazê-lo para uma condição de harmonia com a paisagem e equilíbrio. Dentro de um contexto urbano, Juliana pontua que a revitalização é uma técnica muito mais viável, já que propõe transformar um rio degradado de forma que a população possa interagir e garanta a qualidade da água.
A recuperação foi o tema abordado por Juliana em seu mestrado, o que a possibilitou destrinchar melhor devido às experiências vividas. Ao analisar a literatura nacional e internacional, ela notou que tal processo fica muito restrito a recuperação da qualidade da água isto é, foca-se muito no manejo direto do corpo d’água (tirar o lixo, coletar o esgoto e outras medidas) e não se pensa em melhorar a bacia ou em interagir a população.
Após pontuar que renaturalização, revitalização e recuperação são três coisas distintas, Juliana buscou um estudo de caso no qual desenvolveu uma série de estudos para aplicar cada uma dessas vertentes de intervenção no curso d’água. A pesquisadora conta que escolheu a bacia do Jaguaré, pois, como estava participando de um projeto para uma proposta de metodologia de revitalização de bacias hidrográficas em áreas urbanas no Centro de Tecnologia Hidráulica (CTH), ela poderia criar uma colaboração de dados e garantir a liberdade de suas propostas e expectativas.
Assim, Juliana elaborou uma proposta de revitalização da bacia do Jaguaré, levando em consideração toda sua complexidade enquanto bacia urbana. Seu projeto contempla o controle de esgoto, lixo, descarte direto de resíduos sólidos, as falhas nos sistemas de manejo desses resíduos e muitos outros problemas a serem solucionados para garantir a qualidade da água. Entretanto, a pesquisadora levanta que é praticamente impossível controlar 100% desses despejos, o que torna fundamental integrar a população no projeto de revitalização. Juliana ressalta que a literatura internacional comprova que todo processo bem sucedido de revitalização de rios foram aqueles que envolveram interação com a comunidade tentaram atender suas demandas, porque, como ela afirma, “não adianta fazer um projeto lindo e não adequá-lo à realidade da população local”.
Juliana reforça que, em seu doutorado, ela buscou muito a integração com a comunidade. “Na parte final, depois que montei todas as maquetes e os cortes que tinha proposto para o rio eu fui para vários pontos da bacia e fiquei o dia inteiro conversando com a população”, conta a pesquisadora. “Explicava a minha proposta de intervenção no corpo d’água, perguntava se achavam viável. Foi uma experiência muito legal, porque a verdade é que todo mundo quer uma área pública para poder usar, para poder desfrutar no final de semana, caminhar, correr, ir a um restaurante ao ar livre, mas, infelizmente, não tem muitas opções na cidade.”
Além de pensar essa relação social, a pesquisadora conta da parte técnica onde teve que dimensionar as estruturas de cada trecho e como seria feito o controle de resíduos. Dentro desses levantamentos e análises, ela desenvolveu uma matriz de decisão para que o gestor possa olhar para o curso d’água e enxergar quais são as possibilidades mais interessantes e viáveis. Aplicando a metodologia, ela propõe para o trecho inferior da bacia onde o rio está em uma galeria subterrânea, por exemplo, a abertura do canal e instalação de diversas estruturas de lazer, pois, segundo ela, “se o rio está vivo na paisagem, a gente tende a cuidar melhor”. Usando-se da mesma matriz e olhando para a região de nascente da bacia como outro exemplo, ela conclui que a região é passível de renaturalização, uma vez que é cercada de um fragmento florestal e o corpo d’água está degradado com lixo e esgoto.
Juliana deixa claro que, em sua pesquisa, há uma preocupação com o que é mais viável. Pensando em economia do ambiente, sustentabilidade e na arquitetura, ela fez um balanço dos custos econômicos e sociais para avaliar quais os benefícios ou malefícios que cada política de manejo irá gerar em cada contexto e localidade.
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