Pesquisa mantém blog sobre política urbana

Projeto desenvolvido em laboratório da FAU acompanha planejamento e regulação urbanística em São Paulo. Com abordagem crítica e acessível, monitoram-se processos de mercantilização da cidade

Blog integra o projeto de pesquisa “Estratégias e instrumentos de planejamento e regulação urbanística voltados à implantação do direito à moradia e à cidade no Brasil”. (Fonte: Reprodução/observaSP)

Por Mariana Gonçalves – mariana.vick.goncalves@gmail.com

Foi numa cidade inclinada a decisões pró-mercado que surgiu o blog observaSP. Criado em 2014, com o mote “pelo direito à cidade na política urbana de São Paulo”, o blog destina-se à divulgação de pesquisa e à cobertura dos processos de mercantilização da capital, com o objetivo de acompanhá-la e monitorá-la. Pautado por temas como legislação, desenvolvimento urbano, espaço público e políticas públicas, o blog já acompanhou debates como o do novo Plano Diretor Estratégico e o da manutenção do Parque Augusta, além de outros que evidenciam as atuais disputas pelo mundo urbano.

O blog é um produto do projeto de pesquisa “Estratégias e instrumentos de planejamento e regulação urbanística voltados à implantação do direito à moradia e à cidade no Brasil”, desenvolvido desde 2012 no Laboratório de Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Financiado pela Fundação Ford, o projeto, de proporções nacionais, conta com pesquisadores em outros lugares: os grupos Indisciplinar e Praxis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além de membros da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Laboratório de Estudos da Habitação (LeHab), da Universidade Federal do Ceará (UFC), realizam trabalho semelhante nas capitais onde residem.

Na FAU, coordenam o projeto as professoras Paula Santoro e Raquel Rolnik, que também escrevem para o blog. Além delas, o observaSP conta com uma equipe de sete pesquisadores, colaboradores externos e mais de 5 mil curtidas na página do Facebook. “Nós temos poucos, mas bons seguidores”, Santoro afirma. “Tem um clima por aqui [em São Paulo] de as pessoas discutirem a cidade”, completa Gisele Brito, jornalista do laboratório. “Mas acho que não é no nível das pautas que a gente discute, observando os instrumentos, a legislação. Isso é legal, porque o blog aprofunda as discussões. De 2015 para cá, nossos números estão crescendo.”

Em pauta

Embora diversos veículos de comunicação brasileiros abordem temas relacionados a cidades, os assuntos do observaSP não são recorrentes no mundo do jornalismo. “O critério de noticiabilidade que a gente usa é outro”, diz Brito. Num contexto de política e de mercantilização da cidade, as pautas mais interessantes para o blog estão ligadas a grandes decisões e processos do mundo urbano, em vez de ocorrências factuais e cotidianas, com a força do acontecimento de uma notícia. Entre as principais linhas de investigação do observaSP, estão os planos, as operações urbanas e as parcerias-público-privadas na cidade, por exemplo. Também definem as pautas os objetos de estudo das pesquisas teóricas, que antecedem a produção para o blog.

Para levar esse tipo de conteúdo a uma grande quantidade de pessoas, Brito nos conta que, além de simplificar a linguagem do texto — os posts do blog passam longe da escrita acadêmica —, a equipe do observaSP tem trabalhado com novas mídias. Produções de arte, de vídeo e até mesmo de GIFs estão sendo consideradas para complementar as postagens, expandindo os públicos a quem o blog se dirige. “[A questão] não é só alcançar gente da universidade, ou só quem está dentro, ali, no território onde incidem as políticas que comentamos”, diz a jornalista. A decisão tem sido essencial não só para a divulgação da pesquisa na FAU, mas para a formação crítica dos leitores, que têm fácil acesso ao conteúdo. “Essa é uma função fundamental da universidade”, afirma.

https://www.youtube.com/watch?v=WFqrIy-eBuM

Em agosto de 2016, o observaSP explicou a problemática em torno do Parque Augusta. Novas mídias têm popularizado o conteúdo do blog. (Fonte: Reprodução/LabCidade)

“Às vezes, nem é a pesquisa que mostramos, mas esse olhar crítico sobre uma situação”, continua Brito. Segundo a jornalista, a perspectiva do blog é fundamental para dar subsídio a movimentos, que se apoiam na informação acadêmica para organizar debates. Os coletivos chegam até a escrever para o observaSP, expondo sua visão sobre assuntos que lhes dizem respeito. “Muito se critica o distanciamento da universidade com as ações concretas”, diz a jornalista. “Acho que o blog é uma forma de, sem sair do campo da pesquisa, a gente dialogar com a sociedade.”

LabCidade

Segundo informações do site da instituição, a FAU conta hoje com 20 laboratórios de pesquisa, marcados pelo forte vínculo com a realidade urbana do Brasil e do mundo. O LabCidade não é diferente. Criado em 2009, sob coordenação da professora Raquel Rolnik, o laboratório trabalha com agendas de pesquisa que, apesar da motivação teórica, também envolvem a aplicação. “A gente tem que pensar propostas”, diz Paula Santoro. “Isso é tido na faculdade como pesquisa de extensão, ligada ao cidadão. Mas, no caso do observaSP, não é como se houvesse uma comunidade específica que estivéssemos ajudando. Como a gente tenta influenciar a política urbana da cidade como um todo, a pesquisa é interessante  para o paulistano em geral.”

Além do observaSP, o LabCidade desenvolve o Observatório de Remoções, em parceria com o Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LabHab) e a Universidade Federal do ABC (UFABC). O projeto, que busca identificar grupos impactados por remoções urbanas involuntárias em São Paulo e no ABC Paulista, tem trabalhado por meio do mapeamento de casos e de ações colaborativas — prestando, aqui, apoio direto às comunidades ameaçadas. Desde 2012, foram centenas de denúncias recebidas, e lugares como Água Espraiada e Ocupação Douglas Rodrigues tiveram acompanhamento de perto.

Outros projetos desenvolvidos no LabCidade envolveram direito à moradia, planejamento territorial, regulação urbanística e governança democrática, a exemplo do Observatório das Metrópoles.  A atual equipe do laboratório conta com 16 membros — incluindo Paula Santoro, Raquel Rolnik e Gisele Brito — e reúne arquitetos, geógrafos, advogados e comunicadores.

 

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