Por José Paulo Mendes – jpmendesg13@gmail.com
As abelhas são os principais agentes polinizadores das angiospermas, isto é, plantas com flores, sendo responsável por até 90% dessa ação em algumas regiões. No entanto, as mudanças climáticas afetam o nicho ecológico desses animais e podem levar a redução de suas populações, o que inevitavelmente implicaria em alterações na segurança alimentar da raça humana.
Além disso, as abelhas também possuem um importante papel na manutenção de áreas silvestres, pois, como agentes polinizadores, elas não somente auxiliam na produção do fruto como também na reprodução das plantas. Ou seja, o desmatamento ataca o meio ambiente direta e indiretamente, tanto por derrubar árvores como pela consequência que isso tem na repopulação vegetal, isto é, na formação de novas áreas verdes.
Um dos exemplos de como as mudanças climáticas afetam as abelhas pode ser encontrado no nordeste brasileiro, onde um trabalho realizado pela EACH em parceria com entidades locais atua no mapeamento genético destes animais. Mais especificamente a espécie conhecido popularmente como Jandaíra (Melipona interrupta) ― muito criada por apicultores para produção de mel, cera e afins, assim como também para polinização comercial.
Ao longo dos últimos de períodos de glaciação e interglaciação três linhagens diferentes da Jandaíra foram selecionadas pelos diferentes ambientes do nordeste, desde o litoral até próximo do norte do Brasil. Porém essas populações distintas têm sofrido com as mudanças climáticas que ocorreram nas últimas décadas e em virtude de outros fatores ― alguns já mencionados, como o desmatamento ― cada uma a sua maneira.
“Na natureza, geralmente a jandaíra faz ninhos em ocos de árvores de diâmetro maior, para que possam ocupar o ninho. Mas esse tem sido um problema pela preferência dessas árvores para produzir carvão e pelo desmatamento na região da caatinga. Justamente as árvores que as abelhas escolhem para ocupar são as primeiras a serem derrubadas”, afirma o professor Tiago Mauricio Francoy, um dos coordenadores da pesquisa.
As linhagens identificadas na pesquisa se dividem em três áreas do Nordeste: a zona da mata ― região litorânea e de clima mais úmido ―, na caatinga e na região do Maranhão e Piauí chegando até no leste do Pará. Tal identificação só foi possível graças a um investimento tanto em DNA mitocondrial quanto, principalmente, através do envio de amostras para fora do país, nas quais se realizaram as análises mais modernas de DNA que existem no mundo hoje.
A partir disso, o grupo procura entender como surgiram as genealogias atuais, por meio da soma dos estudos de DNAs mapeados e das modelagens históricas dos climas pelos quais aquelas regiões passaram. Com esses dados, é possível identificar possíveis fatores responsáveis pela atual distribuição da Jandaíra pelas áreas ocupadas atualmente.
Além disso, a partir da descoberta desses fatores existe a possibilidade de se procurar fazer previsões com bases nos relatórios do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC). Com esses cenários futuros em mãos, também é possível estabelecer um plano de conservação para as próximas décadas a fim de preservar as diferentes linhagens da Jandaíra no nordeste.
“O passo da pesquisa que estamos agora é o de que uma vez com esses dados em mãos, podemos fazer modelagens de cenários futuros. Selecionar onde vão ficar as áreas prioritárias de preservação com o melhor ambiente de cada uma das linhagens”, conclui Francoy.
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