Por Fernanda Giacomassi – fegiacomassi@gmail.com
Em junho de 2015 o Ministério do Esporte lançou o primeiro Diagnóstico Nacional do Esporte, levantamento que visa identificar tanto o perfil do praticante de exercício físico no Brasil, como o dos sedentários. A intenção do programa era entender melhor em quais condições o cidadão tem acesso às práticas esportivas, sabendo que o país receberia o maior evento esportivo mundial: os Jogos Olímpicos Rio 2016. Ao todo, foram realizadas 8.902 entrevistas com pessoas entre 14 e 75 anos e os resultados estão disponíveis para consulta no site oficial do órgão governamental, assim como no vídeo abaixo.
A pesquisa analisou tanto as atividades físicas, práticas vinculadas à promoção da saúde e qualidade de vida, quanto as modalidades esportivas, atividades que visam melhorias na condição física. Em ambos os casos, e também em outros levantamentos já realizados, nota-se que a corrida e a caminhada aparecem entre as primeiras escolhas dos brasileiros. Segundo a fisioterapeuta Maria Isabel Roveri, em sua dissertação para o Programa de Ciências de Reabilitação da Faculdade de Medicina da USP, isso ocorre principalmente devido ao fácil acesso a estas modalidades e ao baixo investimento em equipamentos necessários para sua execução.
A pesquisadora, que integra o Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana (Labimph), coordenado pela professora Isabel Sacco, tinha a intenção de estudar a influência da experiência em corrida na biomecânica do correr, porém se deparou com uma questão que deveria ser respondida em primeiro lugar: como diagnosticar e classificar a experiência de um corredor?
Na literatura, segundo Roveri, existe um modelo teórico da década de 70 que determina que, a partir do décimo ano de prática de uma atividade, podemos identificar uma pessoa como experiente. A ideia contempla não só o desempenho esportivo, mas, também, diferentes atividades, como aprender a tocar um instrumento musical ou se especializar em uma prática cirúrgica. No entanto, a pesquisadora discute que esta classificação está ultrapassada por não levar em conta outras tantas variáveis que podem ser determinantes para esta categorização.
A pesquisa
Com financiamento da CAPES, fundação do Ministério da Educação (MEC), a pesquisadora desenvolveu um novo sistema de classificação da experiência em corrida, baseando-se na lógica fuzzy, um método matemático que lida com incertezas de identificação: “Diferente de uma lógica clássica, que classificaria dicotomicamente o experiente e o não experiente, essa ferramenta consegue identificar um continuum desta experiência, sem necessariamente estratificá-la em níveis, o que se assemelha muito ao que ocorre em fenômenos biológicos”, relata Roveri.
Para identificar quais variáveis seriam mais adequadas para serem usadas neste modelo fuzzy e portanto nesta classificação, a pesquisadora contou com a ajuda de especialistas em corrida, como as assessorias esportivas ME VIlela, Nelson Evencio e Vitor Tessutti, que usam o espaço da USP para o treino de seus atletas. Segundo Roveri, estes profissionais são uma fonte valiosa de conhecimento para as pesquisas da Universidade, e podem ajudar como forma de retorno pelo uso do espaço físico da instituição. As mesmas colaboraram tanto com o conhecimento prévio sobre corrida, quanto disponibilizando seus alunos como voluntários para a pesquisa.
Algumas das variáveis eleitas como essenciais para entender a experiência em corrida foram: frequência, tempo, condição e volume de treino, assim como a experiência em provas de corrida. O sistema fuzzy foi depois validado por outro grupo de especialistas em corrida, que mesmo não tendo participado desta primeira escolha de dados, elegeram as mesmas variáveis como imprescindíveis para a classificação da experiência.
Para Roveri, o modelo se mostrou efetivo para a identificação de um atleta por sua experiência. Os resultados podem ser úteis, por exemplo, para que técnicos esportivos ou profissionais da saúde saibam em que momento da prática esportiva seu atleta ou paciente está, e assim possa estruturar melhor seus treinos ou reabilitação. Além disso, o modelo traz dados fiéis que podem ser utilizados em pesquisas futuras.
O modelo desenvolvido pode ser usado pelos interessados por meio da plataforma Matlab, mas a intenção da pesquisadora é registrá-lo como um software e disponibilizar a metodologia para torná-la mais acessível.
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