Desarticulação de unidade de saúde dificulta acesso à reabilitação

Encaminhamentos incorretos e insuficiência na comunicação limitam atendimento eficaz

“A porta de entrada para os processos de reabilitação é a atenção primária à saúde” diz pesquisadora (Foto: Prefeitura de São Paulo)

A limitação do acesso aos serviços de reabilitação, além da desarticulação entre os equipamentos de saúde, dificulta a gestão do cuidado e agrava a deficiência nos diferentes níveis da atenção à reabilitação. A pesquisadora Flávia Rupolo Berach, do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito) da Faculdade de Medicina da USP, em sua dissertação de mestrado “Rede viva: a realidade da rede de atenção à reabilitação na região do Butantã, São Paulo – SP”, analisa os fluxos relacionados à reabilitação nos equipamentos de saúde e discorre a respeito de como se dá a gestão do cuidado.

A pesquisa foi desenvolvida na região do Butantã devido a existência de um fórum de discussão específico sobre reabilitação. Atualmente esse fórum não existe mais, terminando suas atividades em 2017, mas possibilitou a realização de rodas de discussão durante o período do estudo. Nessas rodas, participaram 57 profissionais de diferentes categorias que elaboraram fluxogramas referentes aos equipamentos de saúde.

A partir desses fluxogramas, foi possível observar que os profissionais de saúde entendem o processo de trabalho e organização do equipamento de saúde no qual se inserem. Porém, a falta de articulação entre os equipamentos de saúde também é explícita. “O olhar deles sobre a rede de reabilitação evidenciou a desarticulação com os outros equipamentos de saúde e a insuficiência dos dispositivos formais e protocolares de comunicação já estabelecidos”, afirma Flávia. 

A pesquisadora também adicionou à pesquisa um fluxograma feito pelos usuários. Enquanto os elaborados pelos profissionais da saúde contemplavam a organização formal das redes, os feitos pelos usuários apresentavam como se dá o uso desta rede e quais outros espaços, profissionais e iniciativas são possíveis. “Apesar de representarem experiências singulares, acrescentaram também características intersetoriais e da iniciativa civil para o cuidado que por vezes são negligenciadas pelos profissionais de saúde.”

Abordagens coletivas de cuidado em reabilitação

Através da análise do fluxo de encaminhamentos de demandas de reabilitação da Atenção Primária à Saúde para a Atenção Especializada no período de 2012 a 2016, foi possível levantar diferentes tipos de estratégias de cuidado. Segundo Flávia, uma delas é a abordagem de cuidado coletiva em reabilitação, pois elas rompem com os atendimentos individuais a médio prazo. 

Essa abordagem é especialmente interessante por incluir a interação social, além do acompanhamento em longo prazo. Pode beneficiar também a reintegração social de pessoas com deficiência, além de ser uma estratégia de cuidado a mais na rede de saúde.

Os relatos dos encaminhamentos de demandas de reabilitação também permitiram reflexões sobre as redes informais como as maiores facilitadoras do acesso aos recursos tecnológicos, pois melhoram esse acesso por aquisição, doação de equipamentos ou prescrição por profissionais (em específico nas escolas). “Isto se relaciona ao alto custo, a baixa oferta e ao longo tempo de espera para obtenção de recursos nas redes formais”, aponta Flávia.

Processo de reabilitação

O estudo observou também que a porta de entrada para os processos de reabilitação é a atenção primária à saúde, mais especificamente as Unidades Básicas de Saúde, que são responsáveis por responder às demandas de cuidado ou encaminhar para equipamentos de saúde especializados. O acompanhamento na UBS é longitudinal, então se houver perda do acompanhamento ou alta, os usuários devem retornar para serem incluídos em atividades de cuidado ou reencaminhados para a especialidade.

A pesquisa ainda levanta possíveis caminhos para facilitar o acesso ao cuidado, como o aumento da quantidade de profissionais na atenção primária à saúde e atenção especializada, o aprimoramento da articulação da rede de reabilitação e a educação permanente dos profissionais. Todas essas resoluções podem vir a solucionar os problemas que dificultam a gestão do cuidado e agravam a deficiência nos diferentes níveis da atenção à reabilitação. “A educação permanente dos profissionais poderia aumentar a resolutividade das terapias, melhorar a comunicação entre os equipamentos de saúde, elaborando projetos de cuidado compartilhados e reduzir o número de encaminhamentos incorretos, qualificando melhor as demandas de reabilitação”, conclui a pesquisadora.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*