Por Gabriel Campos – gcampos544@gmail.com
A pesquisadora Marcia Minakawa, em tese de mestrado defendida em maio desse ano, buscou estudar o processo de medicalização na sociedade. Para isso, foi atrás de quatro dos principais teóricos desse processo, suas análises e suas contribuições, para atender o efeito dessa prática no modo em que vivemos. Em voga nas pesquisas médicas desde os anos 70, Irving Zola, Ivan Illich, Peter Conrad e Michel Foucalt foram os pesquisadores que deram início à essa discussão, e os que são estudados na tese.
O termo medicalização não possui uma definição concreta, está sempre sujeito a ser alterado de acordo com as mudanças na sociedade, mas a pesquisadora, utilizando da teoria de Conrad, a define da seguinte forma: “é quando se atribui uma linguagem médica a questões sociais e culturais da sociedade que possam ser problemáticas.” A pesquisadora ainda cita exemplos: “O parto de cesária, no Brasil, é considerado uma epidemia. É um processo fisiológico natural, mas que teve atribuído a ele uma série de procedimentos técnicos. Outro exemplo é o luto, apesar de algo também natural e inevitável, depois de uma semana da morte de alguém querido, a pessoa já está sob medicamentos.”
Apesar de contemporâneos, os quatro teóricos apresentam divergências e complementações em suas análises. Zola apresenta indícios de que o Estado e a Indústria teriam levado a sociedade à dependência da medicina. Para Illich, a medicina, por si só, detém o monopólio de força desse processo, se comparada às outras instituições. Para Michel Foucault, a medicina deixou de ser uma ciência pura e transformou-se numa instituição subordinada a um sistema econômico e de poder, enfim a uma lógica subjacente às regras de governo. Em contrapartida, para Conrad a medicalização não constitui um empreendimento exclusivo da medicina, prevalecendo os interesses de outras instituições e organizações sociais.
A medicalização começou a ser discutida por eles na década de 70 e, por possuir alguns pontos distintos em sua definição e motivação, apresentou uma série de forças motrizes que a potencializam. Marcia elencou as quatro forças: a Indústria, Instituições, Estado e a própria Medicina. Até os anos 2000, a Medicina era tida como o principal motor desse processo, contudo, os outros 3 fatores têm crescido bastante para impulsioná-lo, muito em função da lógica de mercado e do contexto econômico atual, em que não há possibilidade de interromper a produtividade em função de questões emocionais ou psicológicas. “A gente vive um sociedade em que a pessoa precisa estar trabalhando e fazendo dinheiro o tempo todo. Não se permite que a pessoa viva a tristeza”, comenta Marcia.
Além dessas quatro forças mais evidentes, Marcia ainda cita uma quinta potência, a mídia. “Os próprios pacientes já pedem o medicamento quando passam por momentos ruins. Existe todo um esforço midiático em mostrar que tristeza não é normal, que existe um remédio para cada um dos seus problemas.”
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