
Estudo da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo analisa como diferentes modelos de agendamento impactam a disponibilidade e acessibilidade de vacinas no território nacional. A pesquisa, concentrada no Programa Nacional de Imunizações (PNI), concluiu que a recepção ao usuário influencia diretamente a aceitabilidade à vacinação, mas o acesso à imunização depende de outras variáveis mais significativas, como fatores logísticos e desinformação.
A pesquisa é dissertação de mestrado em Ciências da Saúde de Daniela Silva Campos, enfermeira atuante desde 2002 em Unidades Básicas de Saúde (UBS) na Atenção Primária à Saúde (APS).
A APS é o “primeiro ponto de contato, oferecendo atendimento abrangente, acessível e comunitário”, como explica a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), órgão regional da Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com Daniela, há uma escassez de pesquisas sobre o acesso à saúde e à imunização focado em APS, o que levanta questionamentos sobre como diferentes modelos de agendamento podem afetar a disponibilidade e o acesso às vacinas. O estudo, realizado entre junho e agosto de 2023, busca refletir sobre essa questão, com base na análise de aceitabilidade, satisfação e adesão à vacinação por parte dos usuários.
No entanto, os resultados foram inconclusivos, e outros fatores parecem ser de nível igual ou mais determinante. A falta de uma abordagem sistemática e contínua sobre a imunização nos serviços de saúde é vista como obstáculo crucial para a melhora da cobertura vacinal.
“A gente tem as diretrizes da OMS, e uma delas é oportunizar a vinda do usuário ao serviço de saúde para ofertar vacinas. Mas quando se fala de vacina, se pensa na criança – só que tem outros grupos também”, conta a pesquisadora. De acordo com Daniela, um dos principais obstáculos para a adesão adequada é que a imunização ainda não é tratada como prioridade durante as consultas, o que impacta diretamente no envolvimento da população. “Não dá para falar que é aplicável a todos os serviços, mas o estudo dá uma pista de que, independente do modelo de acesso, os profissionais ainda abordam muito pouco a questão da vacina nos seus atendimentos”, completa.
Obstáculos e soluções
“Na década de 80, as pessoas vivenciavam conhecidos que tinham sarampo e morriam, ou ficavam com alguma sequela. A população hoje fala de poliomielite como algo quase impossível de acontecer”, comenta Daniela, explicando sobre como a melhora da cobertura vacinal acaba, paradoxalmente, invisibilizando sua importância.
A enfermeira ainda destaca a desconfiança suscitada pelas fake news e pelo movimento antivacina no Brasil, que se intensifica com a pandemia de Covid-19. “A desinformação sobre vacinas, que circula principalmente pelas redes sociais, se tornou uma grande barreira. As pessoas hoje exigem informações detalhadas sobre as vacinas, como a origem, o laboratório, o fabricante, o que não acontecia no passado.”
Daniela chama atenção para os profissionais de saúde, que através de um trabalho de base precisam restabelecer uma relação de confiabilidade com a população: “a gente vive na era digital, com uma difusão de informações que confunde as pessoas. Qual a força que a gente tem para fazer o contraponto? São os profissionais da saúde que atuam, tem estudos que demonstram que a confiabilidade no profissional de saúde é um fator importantíssimo.” E conclui: “o paciente confia no que o profissional está falando, e isso traz uma mudança de comportamento importante. É trabalho de formiguinha”.
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