“O protagonismo da juventude que, diante da ameaça que as mudanças climáticas representam para sua vida, bem-estar e para gerações futuras, posiciona-se globalmente enquanto líder na luta por justiça pelo ecossistema.” Com esse entendimento, Tainata Modesti, estudante de Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP), desenvolve seu Trabalho de Conclusão de Curso intitulado a atuação da sociedade civil contra a emergência climática: identificando potencialidades e desafios do ativismo ambiental, apresentado no 32º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP (Siicusp). A pesquisa foi financiada pelo Programa Unificado de Bolsas de Estudo para Apoio à Formação de Estudantes de Graduação da USP (PUB-USP).
O estudo aponta um importante ponto de partida para a criação de grupos ativistas ambientais pelo mundo: o movimento Fridays to Future, iniciado por Greta Thunberg em 2018. A estudante sueca, ainda com 15 anos, começou a faltar às aulas da escola todas as sextas-feiras para segurar um cartaz em frente ao parlamento de seu país escrito “greve escolar pelo clima”. Os protestos de Greta se tornaram mundiais rapidamente.
Em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN), Tainata afirma que “essas manifestações de Greta influenciaram, por exemplo, a realização de greves globais pelo clima em março e maio de 2019 em mais de 125 países, com protagonismo dos jovens.” A partir desses movimentos, foi possível a estruturação de grupos ativistas formais, especialmente aqueles ligados a organizações estudantis de universidades.
Um exemplo dessas organizações foi o Jovens pelo Clima, iniciado na Universidade de Brasília. Inspirados por Greta, seis jovens organizaram um protesto em frente ao Congresso Nacional no dia 22 de abril de 2019, consolidando-se como pioneiros desse segmento no Brasil. Na pesquisa, Tainata entrevistou membros dessa e de outras três organizações, que comentaram sobre suas histórias, realizações e dificuldades enquanto ativistas.
Um ponto de destaque da pesquisa é a diferença nas consequências das mudanças climáticas em lugares variados do mundo. “É evidente que cada economia ao redor do mundo contribui de forma diferente para o estado atual da crise a partir de suas emissões e que as consequências das mudanças climáticas são sentidas de forma diferente e desigual pelos Estados do Sul e do Norte globais e pelos determinados territórios dentro de um mesmo Estado”, afirma Tainata. Essa diferença está intimamente relacionada às condições sociais, quanto mais precária a situação financeira, mais uma família sentirá os efeitos da crise.
O futuro do planeta e desses movimentos é incerto, porém, segundo a pesquisadora, é possível perceber uma maior importância dada à pauta ambiental no âmbito político, especialmente internacional. Esse fator deve-se muito aos movimentos citados e à preocupação constante da nova geração com seu futuro.
“A ação dos jovens é essencial para informar a sociedade sobre a pauta e para exercer pressão para que os representantes proponham e executem políticas específicas contra as mudanças climáticas e tomem a sustentabilidade ambiental como fator transversal em todas as políticas públicas”, afirma Tainata. Entretanto, “para além disso, é necessário que os jovens assumam postos de representação formal nas instituições públicas e que estas criem mecanismos de escuta e resposta à juventude”.
Este é um desafio apontado pelos entrevistados da pesquisa e que ainda não encontra soluções. “É necessário que as instituições nacionais e internacionais criem mecanismos de escuta e participação da sociedade civil, em especial dos jovens em matéria climática, a fim de que as demandas territorializadas sejam levadas em conta neste processo e que os políticos prestem contas sobre suas respostas a elas.”
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