Segundo levantamento do G1 realizado em janeiro de 2023, o governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro concedeu ao longo de seu mandato, em média, 691 registros de novas armas por dia para CACs (grupos que adquirem armamentos para fins de coleção, desportivos ou de caça). O número de registros para pessoas desses grupos aumentou em 474%, segundo dados do Anuário de Segurança Pública, em relação ao período anterior à posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República.
Os números citados mostram os efeitos práticos do discurso armamentista do ex-presidente, tema da pesquisa de Daniel Carvalho Mendonça, realizada na Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP (FEA). A partir de dados da Receita Federal, do Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o pesquisador identificou um aumento médio de 0,005% de novos clubes de tiro e de 0,8% de mortes relacionadas a armas no período que compreende cinco trimestres antes da divulgação dos resultados das eleições de 2018 até dez trimestres após essa data.
“Em termos práticos, isso significa que, em cada mil municípios, cinco tiveram a abertura de um clube de tiro durante o período. Embora o número pareça pequeno, representa um aumento de sete vezes em comparação aos municípios com votação abaixo da mediana para o Bolsonaro”, afirma Mendonça.
A motivação para investigar o tema surgiu da observação do aumento nas licenças de CACs e flexibilização das regras de posse de armas por decretos presidenciais. “Embora reportagens tenham associado o aumento de CACs a incidentes com armas, faltavam evidências causais e mensurações precisas da magnitude desse efeito. A relevância dada ao armamento pelo presidente nos motivou a investigar os impactos desse discurso sobre a criação de clubes de tiro e as mortes por armas de fogo”, diz o pesquisador.
Ele também afirma que a análise permite inferir que o discurso violento de uma liderança política pode influenciar o comportamento público, especialmente em áreas com maior acesso à mídia e maior adesão ao discurso presidencial.
“Embora a relação entre o armamento e seus impactos no campo ainda não esteja totalmente clara, entender esse fenômeno pode revelar mecanismos específicos de violência rural e seus desdobramentos socioeconômicos. Estudos adicionais poderiam explorar se fatores como o isolamento geográfico, a atividade agrícola intensiva e o discurso pró-armas contribuem para intensificar conflitos nessas regiões”, indicou.
Mendonça também afirma que os efeitos citados podem ser ampliados por fatores como o maior acesso a canais de comunicação e redes sociais, assim como a presença agrícola nos municípios em questão.
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