O Centro de Biologia Marinha da USP (CEBIMar) abriga diversas pesquisas que buscam ampliar o entendimento sobre ecossistemas marinhos. Uma das mais recentes investigações, conduzida por Guilheme Loyola, mestrando do CEBIMar e do Programa de Pós-graduação em Zoologia do Instituto de Biociências, foca na biodiversidade e conservação de peixes recifais em ecossistemas mesofóticos — áreas situadas entre 30 e 150 metros de profundidade, ainda pouco conhecidas pela ciência.
A pesquisa busca quantificar a cobertura das Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) em ecossistemas recifais rasos e mesofóticos em uma escala global, além de avaliar o estado de saúde das comunidades de peixes nessas áreas.
Segundo ele, os ecossistemas mesofóticos se diferenciam dos recifes rasos principalmente pela menor disponibilidade de luz, temperaturas mais baixas e variações na presença de nutrientes. Essa combinação de fatores cria habitats únicos, que abrigam espécies muitas vezes exclusivas dessas profundezas. “Determinados peixes ou corais só serão vistos nos recifes profundos, enquanto outros apenas nos rasos”, explica o pesquisador.
Recifes profundos e impactos ambientais
Apesar de sua relevância, os recifes mesofóticos ainda são menos protegidos em comparação aos recifes rasos, o que preocupa o pesquisador. Ele destaca que, embora se acredite que esses ambientes mais distantes possam servir de refúgio para recifes rasos ameaçados, eles também são impactados pelas mesmas pressões ambientais.
As ameaças aos recifes se dividem em escalas locais e globais. Entre as primeiras, estão a pesca predatória, a poluição e a mineração marinha, atividades que podem comprometer rapidamente as populações de peixes e corais. Já em escala global, o maior vilão é o aquecimento dos oceanos, que provoca impactos físico-químicos, além de contribuir para o aumento do nível do mar. “Essas questões afetam diretamente os organismos formadores dos recifes, como corais e algas calcárias, fazendo com que toda a cadeia ecossistêmica seja impactada”, alerta o pesquisador.
No contexto da conservação, Guilherme destaca a importância de se ampliar o debate e as ações em torno dos recifes mesofóticos, destacando que a atual década do oceano — período de 10 anos declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para promover a saúde do oceano e a sustentabilidade — tem promovido um crescimento da conscientização sobre a necessidade de proteger esses ambientes singulares. “Na prática, ainda há um longo caminho para alcançar níveis satisfatórios de proteção ambiental em uma escala global”, ressalta.
Alto custo e complexidade
Um dos desafios para quem trabalha com esses ecossistemas profundos é a dificuldade logística e financeira. O estudo da biodiversidade em profundidades entre 30 e 150 metros requer equipamentos especiais e mergulhadores altamente qualificados, o que eleva os custos e limita o número de pesquisadores capacitados para atuar nesses ambientes. “Determinados tipos de amostragens, como a coleta de peixes, de organismos novos para a ciência e a coleta de dados populacionais, são majoritariamente realizadas por meio do mergulho”, explica.
Segundo ele, mesmo em áreas bem estudadas, mergulhos em recifes mesofóticos frequentemente revelam espécies até então desconhecidas, o que evidencia o quão pouco se sabe sobre esses ecossistemas. “Ainda temos muito a aprender sobre esses ambientes, e é crucial que essa exploração venha acompanhada de esforços de conservação.”
Faça um comentário