Vacina com células dendríticas potencializa proteção contra COVID-19

Técnica de imunização desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas da USP aumenta resposta imunológica sem expor o organismo ao vírus

Imagem: Wikimedia Commons

Apesar do fim da pandemia de COVID-19 e do controle do vírus, as constantes mutações virais e as variantes emergentes são tema de preocupação e pesquisa para os cientistas, que seguem na busca por mais vacinas que sejam efetivas e seguras para a população. No Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, pesquisadores desenvolveram uma nova técnica vacinal a partir do uso de células dendríticas — que são um tipo de leucócito parte do sistema imunológico — introduzidas no organismo de forma a estimular o próprio corpo a produzir mais anticorpos sem o uso do vírus inativado.

A resposta imune do organismo humano contra o vírus SARS-CoV-2, causador do COVID-19, é direcionada principalmente à proteína superficial Spike, ou proteína da espícula, que carrega o RBD (receptor binding domain, ou domínio de ligação ao receptor) que se liga às células humanas e causa a infecção. “A partir do momento em que o sistema imunológico começa a reagir, o vírus inicia as mutações para impedir que seja destruído. Nós fundimos o RBD com as células dendríticas, que são moléculas muito estáveis e resistentes, de forma a aumentar a circulação do RBD no organismo e consequentemente o tempo que o corpo tem para produzir anticorpos”, explica a professora Silvia Boscardin, do Departamento de Parasitologia do ICB.

A glicoproteína Spike, ou proteína da espícula, é responsável por se ligar às células humanas, causando a infecção – Imagem: Wikimedia Commons

A pesquisadora ainda fala como o método desenvolvido em seu laboratório é importante para a construção da imunidade. “Quando o organismo começa a montar a resposta imunológica, é importante que haja bastante antígeno na corrente sanguínea, para que o corpo tenha tempo suficiente para identificar o patógeno e produzir anticorpos”. Os testes, realizados em modelos animais, revelaram que o método induziu uma resposta imunológica de maior magnitude, ao mesmo tempo em que não expôs o organismo ao patógeno inativado — tendo em vista que apenas a proteína RBD é utilizada e não o vírus inteiro.

Vantagens na imunização

As vacinas que utilizam as células dendríticas como potencializador da imunização resolvem dois problemas que são apresentados pelos métodos mais comuns: a baseada em vírus inativado e a vacina de RNA. “No caso da vacina com o vírus inativado, se houver qualquer problema com a inativação, é possível que a própria vacina cause a infecção, então ela não é recomendada, por exemplo, para algumas faixas etárias e para pessoas com comorbidades”, explica Silvia Boscardin.

“A vacina de RNA é fantástica em termos de eficácia, mas tem a desvantagem do armazenamento. Por ser feita a partir do mRNA (RNA mensageiro), sua estrutura é facilmente destruída, necessitando estar congelada a -70ºC para proteção e durabilidade, o que é inviável em diversas partes do Brasil”, completa. Outra desvantagem da vacina de RNA é a intensa resposta imunológica que provoca, o que pode ser prejudicial para alguns grupos.

Apesar das vantagens da vacina para COVID-19 baseada no uso de células dendríticas, o grupo não tem pretensão de colocá-la em circulação. “Já existem muitas vacinas para o SARS-CoV-2, todas elas muito eficazes, e a pandemia já está controlada. Nosso objetivo com esse método era provar que o conceito funciona e pode ser utilizado, e agora estudar a aplicabilidade dele em outras doenças”, comenta a pesquisadora, se referindo às pesquisas do grupo em dengue, zika e febre amarela.

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