Terapia fonoaudiológica em grupo mostra eficácia para crianças e adolescentes com autismo

Dissertação de mestrado é inovadora nos estudos a respeito do espectro autista

O estudo é resultado do mestrado defendido na FMUSP por Clarice Tosetto (no centro) [Imagem: Reprodução/Instagram Autismo e Linguagem]

O dia 6 de julho marca o aniversário de nove anos da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146). Em comemoração à data, a Agência universitária de Notícias (AUN) divulga pesquisa sobre os avanços importantes no tratamento de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). O estudo, conduzido por Clarice Tosetto e amparado pelo Laboratório de Investigação Fonoaudiológica nos Distúrbios do Espectro do Autismo (LIF-DEA) da USP, revela que a terapia fonoaudiológica em grupo pode trazer melhorias significativas na comunicação e interação social desses jovens.

Nos últimos anos, a incidência do TEA cresceu consideravelmente, aumentando a demanda por atendimentos especializados. Em resposta a essa necessidade, a terapia em grupo tem ganhado destaque por sua capacidade de atender mais pacientes de forma eficaz. O estudo acompanhou nove participantes, entre oito e 15 anos, divididos em três grupos. Durante 18 meses, os grupos foram acompanhados pelos mesmos dois terapeutas, com avaliações regulares utilizando o Perfil Funcional da Comunicação e a Escala de Adaptação Sócio-comunicativa.

Mariella Ometto, psicóloga especializada em Neuropsicologia pelo Instituto de Psiquiatria da FMUSP e mãe de uma criança com TEA, destaca a relevância desse estudo, afirmando que a terapia em grupo oferece benefícios significativos ao desenvolvimento cognitivo desses jovens, além de atender a uma maior demanda. “Intervenções em grupo são valiosas porque treinam a comunicação em um ambiente natural, com interação entre pares da mesma idade, o que torna o processo mais genuíno e motivador para a criança,” explica Ometto.

As sessões foram cuidadosamente planejadas para atender tanto aos objetivos individuais quanto aos do grupo, permitindo uma abordagem personalizada. Os terapeutas observaram diversas melhorias qualitativas, como a redução de ecolalias. “Ecolalias são repetições automáticas de palavras ou frases que a criança ouviu anteriormente, frequentemente utilizadas como uma maneira de comunicação, mesmo que não eficaz,” esclarece a especialista. Houve também uma melhor estruturação do discurso e compreensão aprimorada de expressões linguísticas, além de maior facilidade na troca de turnos nas conversas. A formação de vínculos entre os participantes também foi um destaque positivo.

Em termos quantitativos, houve um aumento no uso do meio comunicativo verbal, redução do uso de meios gestuais e vocais, e um aumento na proporção de atos comunicativos interativos. De acordo com a neuropsicóloga, esses resultados demonstram que os participantes tornaram-se mais engajados e eficazes na comunicação.

A pesquisa de Tosetto demonstra que ampliar a oferta de terapias em grupo pode ser um passo crucial para o desenvolvimento comunicacional e cognitivo de crianças com TEA, reforçando a importância de políticas públicas que apoiem e expandam o acesso a essas terapias. A psicóloga destaca a necessidade de estratégias terapêuticas diversificadas para atender às variadas demandas. “A terapia em grupo pode complementar o atendimento individual, proporcionando uma experiência de aprendizado mais eficaz e inclusiva.”

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