Pesquisadora do Museu de Arqueologia e Etnologia recebe prêmio de excelência em doutorado

Com inovações na área e contribuições para debates atuais, a tese foi reconhecida pela Sociedade Brasileira de Arqueologia como um dos melhores trabalhos de 2023

Luzio - Esqueleto 2 do Sambaqui fluvial do sítio arqueológico Capelinha. São Paulo. Local: MAE . foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A pesquisa contém os dados mais antigos sobre a amamentação no continente Americano [Imagem: Cecília Bastos/ USP Imagens]

Uma das grandes justificativas para o estudo da história é a compreensão de que a realidade dos nossos antepassados nos ajuda a entender e enfrentar problemas atuais. Recentemente, uma pesquisa que dialoga com essa afirmação recebeu o “III Prêmio SAB Excelência em Graduação, Mestrado e Doutorado”. A tese de doutorado de Marina Di Giusto, realizada no Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE),  demonstra como duas sociedades sambaquieiras alimentavam suas crianças, quantificando principalmente o tempo de duração do aleitamento.

Os sambaquieiros são os povos que ocuparam a costa litorânea do Brasil entre 2 mil e 8 mil anos atrás e construíram os sambaquis, monumentos de até 40 metros de altura compostos por conchas, ossos, areia e terra, onde é possível encontrar restos humanos. Os hábitos alimentares desses grupos são alvos de diversos estudos na Arqueologia Brasileira, mas pouco havia sido descoberto em relação à dieta infantil. Em resposta a essa lacuna, Marina decidiu estudar a dieta, os padrões de estresse na infância, e a relação entre eles nas populações do sambaqui costeiro Piaçaguera e do sambaqui fluvial Moraes, ambos localizados no estado de São Paulo.

Técnica inovadora e relação com a atualidade

Para descobrir as idades de desmame desses grupos de forma assertiva, a pesquisadora recorreu a uma técnica inédita no Brasil, as análises isotópicas do colágeno nos dentes. Em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN), Marina explica que o método consiste no seccionamento em mini fatias da ventina, tecido que compõe a maior parte do dente. 

“O dente tem um padrão de crescimento com intervalos de idade que a gente conhece.” Cada um dos fragmentos tem diferentes valores isotópicos e, com isso, foi possível encontrar diversos resultados para diferentes fases da vida dos grupos analisados. O interessante, segundo a pesquisadora, é “conseguir ver a infância” nos dentes de um adulto. Além de indicar a duração do aleitamento e do desmame, o método também determinou os tipos de alimentos consumidos pelas crianças após o desmame e pela população como um todo.

Embora aborde sociedades já extintas, o trabalho contribui com debates atuais. “[Os sambaquieiros analisados] vivem em ambientes com alta circulação de patógenos, com falta de saneamento básico ou até mesmo em períodos de escassez de alimentos, e eles usam estrategicamente a amamentação prolongada como uma estratégia de sobrevivência para as crianças”, esclarece Marina. A pesquisadora reitera a importância do leite materno, que é uma rica fonte de nutrientes e anticorpos, mas problematiza as atuais condições que impedem a continuidade da amamentação, como a licença maternidade de apenas quatro meses.

A Organização Mundial da Saúde recomenda a amamentação como alimentação exclusiva até os seis meses de vida [Imagem: Marcos Santos/ USP Imagens]

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