Pesquisa conecta dois dos eventos mais dramáticos da história geológica do Brasil

Em tese de doutorado, Antomat Macedo amplia o estudo do grupo ParanaMagma

No dia 23 de maio, Antomat Macedo ministrou uma palestra online sobre seu projeto de pós-doutorado recém concluído. Organizado pelo projeto temático ParanaMagma e financiado pela Fapesp, o pesquisador procurou estabelecer uma conexão mais forte entre os eventos de derramamento de magma no nordeste do Brasil àqueles no sul e centro-oeste do País, há mais de 130 milhões de anos atrás.

As grandes províncias ígneas (GPI) são eventos recorrentes na geologia do nosso planeta. Geradas devido a instabilidades estruturais na crosta terrestre, tratam-se de erupções vulcânicas intensas e virtualmente ininterruptas por milhões de anos em uma mesma região, que eventualmente cobrem-a quase completamente de magma. “Tratava-se de um ambiente diferente de qualquer parte do planeta nos dias de hoje”, explica o professor titular do IGc e diretor do projeto ParanaMagma, Valdecir Janasi, “Realmente pode ser descrito como um inferno na Terra.”

Talvez as GPIs mais conhecidas sejam aquelas que cobriram a Índia e a Sibéria há 66 milhões e 250 milhões de anos respectivamente, ambas as quais são diretamente relacionadas a duas das maiores extinções em massa na história do planeta. Porém, as províncias ígneas da América do Sul e África, decorrentes do rápido deslocamento dos continentes após a quebra da Gondwana, também são de grande interesse para a comunidade científica. A grande província ígnea do Paraná-Etendeka, que cobriu grande parte do Brasil e do sul da África por mais de 4 milhões de anos, tem sido do interesse de geólogos há décadas, devido à forma como se relaciona diretamente com um dos eventos tectônicos mais extremos da história do planeta.

Mesmo assim, entre acadêmicos brasileiros, até recentemente o tema tem sido relativamente pouco estudado. Valdecir explica que “quando era ainda estudante do IGc, na década de 80 e 90, já viamos expedições e estudos sobre esse evento, mas sempre liderado, e às vezes inteiramente composto de pesquisadores internacionais, em geral ingleses e italianos”. Porém, a partir dos anos 2000, maior interesse sobre o assunto começou a aparecer dentre geólogos brasileiros, o que eventualmente levou-o a fundar o projeto temático ParanaMagma.

Unindo pesquisadores de universidades de todo o país, o projeto pretende ampliar o conhecimento sobre esse período essencial à formação da geologia de grande parte do território nacional. Com cinco anos de trabalho, o grupo já ajudou na elaboração de dezenas de artigos científicos, publicados em revistas nacionais e internacionais, produzidos em workshops e por pesquisadores individuais. Muito trabalho ainda há de ser feito na datação e, assim, na elaboração de uma cronologia detalhada dos eventos no continente, algo que Antomat pretendeu ampliar no seu trabalho. 

 

Província Magmática Paraná (Reprodução/Proposta de Projeto Temático ParanaMagma)

Através da reanálise de bases de dados já existentes utilizando Machine Learning (o uso de inteligência artificial na triagem de muitas informações, para encontrar novas conexões e conclusões, que vem sido crescentemente utilizado por geólogos) e após uma série de novas coletas de campo, o estudo foi capaz de estabelecer uma cronologia atualizada, conectando os derrames de magma na província Paraná com aqueles que ocorreram no nordeste do país, na Província Magmática Paraíba. Além disso, com a datação mais precisa das rochas na região nordeste do país, o estudo também ajuda pesquisas futuras em demais áreas, principalmente na paleontologia, que agora podem utilizar sua nova base de dados como referência para a datação de fósseis.

Atualmente, o projeto procura maior divulgação de suas pesquisas, para facilitar a execução de parcerias com demais projetos internacionais. “Temos aumentado bastante nossa projeção internacional recentemente, participando de pesquisas internacionais e conseguindo publicar mais artigos nas grandes revistas”, explica Janasi, “Mas ainda procuramos maior divulgação, visto que muitos não entendem a importância de nossos estudos, e da pesquisa de base como um todo.”

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