A grande batalha do século 21 é a diminuição da emissão de gases de efeito estufa que colocaram o mundo em emergência climática. Nesse cenário, o dióxido de carbono é o líder em emissões, representando cerca de 60% delas. É observando essa emergência, e visando a descarbonização dos processos industriais, que o grupo de pesquisa do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo, o Suscarbon, trabalha no desenvolvimento de soluções sustentáveis e inovadoras para converter o dióxido de carbono em produtos de alto valor em diferentes segmentos de mercado.
“Nosso grupo desenvolve sistemas para trabalhar com o dióxido de carbono, queremos transformar ele, que é um problema, em uma solução”, afirma Pedro Vidinha, professor e pesquisador líder do Suscarbon.
O processo e o produto
O professor explica que a partir do CO2, é possível criar e utilizar outras moléculas— como hidrocarbonetos, álcoois e ácidos—, realizando o processo reverso que uma combustão normal faria. “Para fazer esse processo reverso, o gasto de energia é muito alto e se torna inviável. Por isso, utilizamos um catalisador e, assim, conseguimos realizar todas as ligações necessárias em condições mais suaves e seguras, tanto de temperatura quanto de pressão”, conta Vidinha.
Entre as diversas possibilidades de reutilização do dióxido de carbono, o grupo se dedica à produção de metanol que é apontado, não só como um combustível protagonista na transição energética, mas também como uma molécula plataforma, ou seja, molécula que pode ser a origem de diversas outras.
Atualmente, a maior parte do metanol produzido no mundo vem do petróleo, do carvão ou do gás natural, e o mesmo metanol pode ser produzido de forma sustentável a partir do CO2. “Todo o processo de produção e seu resultado continuam os mesmos, a única coisa que fazemos é mudar a origem do insumo”, afirma o professor.
De onde vem
Vidinha conta que um dos benefícios desse processo é que o CO2 pode ser retirado de inúmeros locais diferentes, até mesmo da atmosfera, “em um processo chamado de direct air capture, que não é o mais fácil porque na atmosfera temos uma concentração relativamente baixa de CO2, o que faz essa opção ter um alto gasto de energia”.
O pesquisador aponta a produção brasileira de etanol a partir da cana de açúcar como uma grande fonte do insumo. Isso porque, de acordo com Vidinha, para cada molécula de etanol, uma molécula de CO2 é produzida, o que resulta em cerca de 25 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano. Se essa quantidade de CO2 fosse transformada em metanol, um terço da meta mundial anual seria atingida.
Na atualidade, a transformação do gás carbônico em combustível pode ser utilizada tanto em navios quanto em aeronaves. Mas, a expectativa é que esse processo se torne cada vez mais protagonista na transição energética do Brasil, sendo adequado inclusive para o uso em carros e veículos populares.
Para aumentar a produção da pesquisa, o Suscarbon passará, nos próximos meses, a dividir um galpão laboratório com outros dois grupos do IQ. A estimativa é de que o novo endereço tenha capacidade para produzir cerca de uma tonelada de metanol por semana.
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