Influencers literários discutem o impacto das mídias sociais no consumo de livros

Segundo influenciadores, facilidade que jovens têm para acessar seus conteúdos exige que eles selecionem com maior cuidado as obras que vão indicar

Garota ao redor de livros
Festa do livro (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Na 12º Festa do Livro da USP Leste, os influenciadores Tiago Valente e Carol Zaghetti debateram sobre o impacto das mídias sociais na literatura. O convite para participar do evento realizado na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) surgiu por conta do público majoritariamente formado por leitores de ambos.

Juntos, eles possuem mais de 300 mil seguidores apenas no Instagram – o suficiente para encher ao menos três estádios da proporção do Maracanã (RJ). Como uma grande parte dessas pessoas está na adolescência, ambos afirmam ter muito cuidado com as obras que consomem e recomendam.

A seleção se dá não só por tema, como também pela forma como ele é tratado. “Precisamos fazer um filtro porque estamos em um período muito sensível”, diz Valente. Segundo o mestre em Letras, é importante dar visibilidade a obras de diferentes tipos de autores.

Responsabilidade enquanto influencer

Zaghetti destaca que esse movimento de atenção aos potenciais malefícios de um livro inadequado e valorização da representatividade é algo recente. “Lembro que, quando tinha 13 anos, não havia essa preocupação. Indicavam coisas absurdas, a gente lia e era afetado negativamente”, conta.

A estudante de psicologia chama atenção para o fato de que a responsabilidade de influenciar é muito grande. “Hoje, se alguém me pede uma recomendação, logo pergunto a idade”, comenta.

Na visão de Valente, “as coisas que lemos interferem muito em como queremos nos mostrar para o mundo”.

Tiago Valente e Carol Zaghetti
Tiago Valente e Carol Zaghetti relatam ficarem felizes com a quantidade de seguidores que criaram o hábito de ler por conta deles (Imagem: Reprodução do YouTube)

Início da paixão

Os dois produtores de conteúdo desenvolveram um amor pela leitura de forma distinta. Enquanto um sempre teve acesso à literatura, o outro nem tanto.

“Cresci do jeito mais propício para se tornar um leitor, que é ter pais com uma livraria. Então, era meio difícil não gostar de livros vendo eles lidarem com isso o dia inteiro”, conta Valente.

Ele diz que se tornou o tipo de pessoa que lê uma obra atrás da outra muito por conta da série Crepúsculo, escrita por Stephenie Meyer: “Hoje a gente vê diferente e dá uma julgada, mas, na época, minha vida se resumia a ser fã dessa saga. Me ajudou a conhecer novos gêneros e a fazer amigos”.

Já Zaghetti teve uma descoberta mais tardia. “Não fui uma criança que tinha muitos livros ao meu alcance, mas lembro claramente da época do Tumblr. Tinha 13 anos e conheci ‘A Culpa é das Estrelas’ por lá”, diz.

Virada de chave

Ambos influenciadores iniciaram a carreira produzindo conteúdos com um enfoque diferente do atual.

Tiago Valente relata que começou a publicar no TikTok por causa de uma demanda do mercado. “Eu queria mostrar meu trabalho como ator e cada vez mais estão exigindo números de redes sociais para projetos no teatro”, diz.

A mudança de motivação só aconteceu quando ele se apaixonou pelo audiovisual e passou a tratar os vídeos como um desafio. “Vi uma oportunidade de todos os dias fazer um mini-filme. Então, comecei a encarar com mais profissionalismo, vi que realmente podia levar aquilo para frente”, afirma.

Nesse período, Valente queria se sentir representado e abordar suas paixões na plataforma, mas não tinha muitas pessoas falando de livros nela ainda. Por isso, sentiu um certo receio. “Na minha cabeça, iam me julgar e achar esquisitíssimo. Mas decidi fazer um vídeo sobre Dom Casmurro para ajudar quem ia fazer vestibular e teve 100 mil visualizações”, conta.

Isso o fez perceber que havia um interesse por literatura e, a partir daí, passou a aumentar a frequência de posts sobre o assunto. “Eu me comprometi a fazer um conteúdo 99% literário, 1% de Taylor Swift”, brinca.

Carol Zaghetti, por sua vez, começou a fazer lives jogando na pandemia e percebeu que sua audiência se interessava pelos livros que comentava. Para “unir o útil ao agradável” e estudar enquanto trabalhava, então, resolveu largar os games e entrar na Twitch (serviço de streaming de vídeo) para ler ao vivo.

“Fiz essa transição para os livros aos poucos para o meu público não se assustar. Achei que uma boa parte das pessoas fosse deixar de me acompanhar, mas isso não aconteceu. Fiquei surpresa”, conta.

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