
Ciclones são fenômenos atmosféricos capazes de gerar um enorme volume de ventos e chuvas. Aqueles descritos como de escala sinótica – grandes dimensões – possuem forte influência nas condições de clima e tempo, sendo responsáveis por eventos climáticos extremos.
No contexto da bacia do Oceano Atlântico Sul, região por muito tempo reconhecida por não ter condições que permitiriam a ocorrência desses sistemas, estudos meteorológicos recentes apontam novos tipos de classificações que rompem com essa concepção. “Hoje entendemos que um ciclone pode mudar de característica ao longo do ciclo de vida por não ser um fenômeno instantâneo. É um sistema com começo, meio e fim”, afirma Rosmeri Porfírio da Rocha, professora e chefe do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG).
A análise de ciclones que se desenvolvem na América do Sul é interesse de estudo de Rosmeri desde 2004, mesmo ano em que o Catarina foi oficialmente classificado como o primeiro furacão da bacia do Atlântico Sul. A atual pesquisa da meteorologista, intitulada Investigando o passado e as tendências futuras de formações/transições de ciclones na bacia do Oceano Atlântico Sul, busca reanalisar dados centenários a partir de novas classificações, assim como verificar a ocorrência de outros ciclones tropicais antes e depois do Catarina.
O projeto se baseia no uso de registros meteorológicos datados desde o início do século passado, indo de 1900 até o ano de 2010. “A primeira coisa é procurar os ciclones. Eles são regiões de baixa pressão, onde você é capaz de caracterizá-los tanto por mínimos de baixa pressão quanto de vorticidade (rotação) em seus centros”, explica Rosmeri. Após a identificação desses eventos por meio de algoritmos, a análise parte para a estrutura térmica e a velocidade de vento presentes em cada sistema. Isso permite especificar as trajetórias e classificar as diferentes fases dos ciclones – extratropical, tropical ou subtropical.
“Essa geração de modelos do HighRes MIP, um projeto especial dentro do CMIP6, resolveu alguns erros anteriores”. A meteorologista dá o exemplo de simulações em três regiões importantes de ciclogênese: a costa do Sudeste, o Sul do Brasil próximo ao Uruguai e a Argentina. “Uma coisa que os modelos sempre tiveram dificuldade é de projetar esses ciclones na Região Sul e no Uruguai. Agora, a maioria dos modelos do HighRes MIP estão fazendo isso melhor do que outros mais tradicionais.”
Da mesma forma, Rosmeri declara que ter conhecimento desses dados também auxiliaria em outras questões que não as científicas. “Além de saber o impacto das mudanças climáticas nos ciclones, esses resultados podem servir para a sociedade: uma boa previsão de um ciclone ou de um evento extremo associado ao ciclone pode evitar mortes e desastres”.
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