O livro da pesquisadora Magaly Prado, Fake News e Inteligência Artificial: O poder dos algoritmos na guerra da desinformação busca responder o como por trás da disseminação de fake news por algoritmos. Ela investiga o que precede as fake news, e não só seu conteúdo inverídico, focando nas disseminadas no período de eleições. O estudo se originou de uma pesquisa de pós-doutorado, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), e será lançado em julho de 2022, pela editora portuguesa Almedina.
Muito se discute sobre fake news em tempos de eleições. A expressão originou-se na campanha presidencial de Donald Trump, nos EUA, que acusava a grande imprensa de publicar mentiras. Por isso, Magaly prefere o termo mensagens fraudulentas. “Obviamente, se é news [notícia] não pode ser fake [falso]”, diz. Há uma forte propagação nos mensageiros instantâneos por não ter muito controle, afirma a autora. “A indústria das fake news é disseminada principalmente no digital, onde ela cresce, se expande e ganha escala. Há uma velocidade muito rápida e a ajuda de bots de disseminação em massa”.
Magaly reforça que fake news têm uma estrutura lógica similar à da propaganda. “A propaganda quer te vender algum produto, ou uma campanha de um candidato, tudo a partir dos perfis”, explica. “Ela pode te vender um tênis, mas também pode te empurrar um candidato em que ela faz a campanha”. Esse método direciona a mensagem falsa, que ambiciona modular o comportamento de seu alvo por meio de manipular seus pensamentos. “As fake news são direcionadas para grupos. Se é certo que você vai votar em um candidato X, não vão direcionar fake news para você. Vou mandar para aquele que está indeciso, que está chateado, irritado, que não entende de política ou que é ignorante às coisas… As pessoas mais mazeladas [feridas pela sociedade]. É para esse grupo que as fake news são enviadas”.
Para combater a desinformação em massa, a pesquisadora propõe ferramentas que podem servir de soluções, diminuindo a quantidade de fake news proferidas a médio e longo prazo. Uma delas é implantar regulamentação legal. Magaly faz parte do grupo de pesquisa Jornalismo, Direito e Liberdade e pesquisou as leis que buscam restringir as fake news discutindo possíveis restrições e Projetos de Lei. Recentemente, houve uma proibição de proferir fake news para pessoas envolvidas nas eleições, com punições de multa e cassação de mandato.
Outra possibilidade é incentivar a educação midiática: ensinar a duvidar de informações recebidas com pensamento crítico e não compartilhar qualquer mensagem. “Às vezes, a pessoa até sabe que é mentira ou mesmo fake news. Mas ela crê naquilo, ela quer acreditar e ela manda para todo mundo por que é como ela quer que seja. Portanto, é preciso trabalhar também com as emoções das pessoas”, adiciona a pesquisadora.
Recursos como a estrutura blockchain alardeiam segurança nos meios digitais. Estes “blocos de informação”, ligados um ao outro, e que dificultam a invasão para pessoas que buscam alterar informações na Internet e adaptá-las a seus propósitos e inverdades. “Sabemos da ocorrência de alguns ataques de hackers, mas é muito mais difícil atacar uma plataforma blockchain porque ela é feita de blocos de formação, ligados um ao outro. Tem todo o esforço de tarefa para conseguir derrubar tudo e alterar”, ela explica. “É uma barreira a mais para não deixar que as pessoas usem seu material para criar fake news”.
Por último, Magaly também aponta como paliativo agências de checagem especializadas em explicitar o que é ou não é uma fake news. O obstáculo, para a pesquisadora, é que o processo leva tempo; até uma agência declarar uma fake news, centenas de novas surgem. Outro questionamento é se as agências alcançam os alvos das inverdades. “A agência de checagem tem um certo público e manda para muitos, mas não vai chegar para todo mundo. O tio do WhatsApp não vai pegar, ele não acompanha as diversas agências de checagem”, afirma.
Recentemente, a inteligência artificial pode ser utilizada para detectar fake news com algoritmos, mas, para Magaly, esse tipo de tecnologia pode falhar em identificar subjetividades. “Pessoas morreram, outras já foram linchadas por causa de fake news. Se tem uma ferramenta que possa detectá-las a fundo e na sua totalidade, ótimo. Mas desconheço uma ainda que consiga solucionar o problema”.
Não basta só uma das soluções propostas para acabar com o problema, afirma Magaly. “A gente tem que tentar de tudo, todo tipo de solução”. O livro da pesquisadora está em pré-venda e os interessados em receber um cupom de desconto podem entrar em contato.
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