Práticas hospitalares nem sempre necessárias interrompem o primeiro contato da mãe com o filho, o que gera uma experiência traumática no início da maternidade. Segundo Laís Peccia, mestranda em saúde pública pela Universidade de São Paulo, essa violência está ligada, em muitos casos, à necessidade de produtividade dos hospitais, os quais buscam liberar as salas obstétricas rapidamente para fazer o máximo de partos possível.
A especialista afirma que a importância do toque no pós-parto está associada a diversos fatores: a mãe tem uma descarga de ocitocina, contrai o útero e, por isso, a chance dela ter uma hemorragia diminui; há uma regulação da temperatura do bebê e a possibilidade dele ter uma hipotermia é reduzida; a mulher aumenta sua autoconfiança e, dessa forma, as taxas de amamentação crescem; a mortalidade neonatal é comprimida.
“Apesar dos benefícios postos e de apenas 10% dos bebês precisarem ter esse contato interrompido, a taxa de contato pele a pele fica entre 40% e 60% e, em alguns hospitais, chega a 20%”, segundo Peccia. Ou seja, existe uma diferença significativa entre os dados e, muitas vezes, bebês que poderiam ter o acesso, não o tem. Ela completa: “Em clínicas particulares, a tendência é que o contato seja ainda menor”.
O protocolo hospitalar é entregar o filho para a mãe assim que ele nasce, a única exceção é se o bebê não consegue respirar e precisa de uma reanimação neonatal. Depois da primeira hora de vida da criança, fazer seu registro, a marca do pé, dar banho, pesar, medir e vacinar. Além disso, a primeira avaliação do pediatra, que ocorre no primeiro e quinto minuto de vida, pode ser realizada com o bebê no colo da mãe. Na prática, os profissionais de saúde realizam todas as avaliações e processos, que poderiam ser postergados, antes de passar o filho para ela.
Para Peccia, “reduzir a mulher a uma barriga com um filho que precisa nascer é desrespeitá-la como sujeito. Não considerar a vontade da mãe no pós-parto é uma forma de violência obstétrica”. Segundo a Organização Mundial da Saúde, isso diminui “a autonomia da paciente e a capacidade de tomar suas próprias decisões livremente sobre seu corpo e sua sexualidade, o que tem consequências negativas em sua qualidade de vida”. A conduta, no entanto, não é considerada crime pelo Código Penal.
A mestranda afirma que a ausência do toque entre a mãe e o filho assim que ele nasce não faz parte de um período crítico, ou seja, o vínculo entre os dois pode acontecer de outras formas posteriormente. Mas isso não minimiza a importância do contato assim que a mulher dá à luz e, portanto, a janela de oportunidades para que a relação se desenvolva positivamente.
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