Estudo da Faculdade de Medicina da USP detecta presença de microplásticos ambientais no pulmão humano

É a primeira vez que essas micropartículas, resultantes da degradação de plásticos maiores, são encontradas no organismo humano

Foto: Carlos Miguel Forero

Pesquisadores do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina em parceria com o Instituto de Ensinos Avançados da Universidade de São Paulo desenvolveram estudo que identificou, pela primeira vez, a presença de microplásticos (MPs) ambientais no pulmão humano. Esses compostos são resultado da degradação de plásticos maiores em polímeros microscópicos, que são alvo de preocupação social e científica em vista de seus impactos no meio ambiente e na vida humana.

Partícula de microplástico identificada no tecido pulmonar humano com o auxílio de microscópio – Foto: Luís Fernando Amato

O grupo responsável pela pesquisa é o primeiro no mundo a obter e publicar esses resultados, em que dos 20 casos analisados, 13 apresentaram a contaminação principalmente por partículas e fibras de polietileno e polipropileno. A respeito dos impactos na saúde humana, o pesquisador Dr. Luís Fernando Amato e a orientadora Profa. Dra. Thais Mauad afirmam que eles podem ser inúmeros, em função da composição química dos MPs ambientais.

Segundo eles, uma vez que se esses compostos estabilizam no ambiente, podem se ligar a outros poluentes – como metais pesados ou compostos orgânicos – ou até mesmo a vírus e bactérias. “Os microplásticos ambientais servem então como vetores desses poluentes e microrganismos. São um tipo de ‘coquetel químico e biológico’”, explicam em entrevista à Agência Universitária de Notícias

Os impactos na saúde dos animais marinhos também já foram detectados em estudos anteriores: “Em animais, descobriu-se que a exposição aos microplásticos afeta negativamente a expressão gênica, a sobrevivência e a função reprodutiva de um organismo”, detalham. No entanto, o mesmo ainda não ocorreu na dos humanos, em variedade e complexidade na fórmula desses compostos.

Os doutores também destacam que os prejuízos causados por esses compostos já são um problema ambiental e de saúde pública. Para que esse quadro não se torne crítico, Thais e Luís afirmam que as autoridades públicas devem incentivar e apoiar estudos de monitoramento dos microplásticos tanto no ar quanto na água e pesquisas sobre o efeito na saúde humana. 

Além disso, também ressaltam a importância de implementar medidas efetivas que proíbam ou desestimulem o uso de itens plásticos de uso único, como sacolas, canudos, copos e outros. “Precisa haver um olhar mais atento para a Política Nacional de Resíduos Sólidos que tenta endereçar o destino das embalagens em geral, por meio da logística reversa. Mas isso ainda é extremamente incipiente”, concluem. 

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