Nas últimas semanas, mais uma conquista espacial atraiu os olhos do mundo. No dia 18 de fevereiro, a sonda Perseverance, desenvolvida pela NASA, pousou em Marte. A missão, considerada a mais complexa e ambiciosa já realizada em solo marciano, tem como principal objetivo a busca por evidências de vida antiga no planeta.
A sonda, lançada em 30 de julho de 2020 da Estação da Força Aérea de Cabo Canaveral, na Flórida, viajou cerca de 470 milhões de quilômetros, durante sete meses, até seu destino final: a cratera Jezero. Acredita-se que a região abrigava um grande lago, há mais de 3,5 bilhões de anos, o que pode indicar condições propícias para o surgimento de seres vivos.
Engana-se quem pensa que o maior desafio da missão é o imenso trajeto entre os dois planetas. O momento do pouso é o mais crítico, sendo apelidado pelos controladores de “sete minutos de terror”. Roberto Costa, professor do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG – USP), conta que todas as decisões de pouso são feitas na hora, por inteligência artificial de computadores a bordo. “Tudo é muito complexo, para dar certo, muitas coisas devem funcionar corretamente, na sequência adequada, no instante adequado”, afirma.
Ao se aproximar de Marte, a sonda perde todo o contato com a Terra, entrando na atmosfera marciana a 20.000 km/h e suportando até 1.300 °C. Em seguida, o veículo espacial realiza a abertura do paraquedas para reduzir sua velocidade e, 20 segundos depois, faz a separação do escudo térmico. Neste estágio da aterrissagem, suas câmeras registram a área e ajudam a definir o local exato do pouso. A dois quilômetros do solo tem início a fase de retropulsão, na qual a sonda se desprende do escudo traseiro, para, finalmente, atingir o solo por um sistema de polias.
Parte dessa sequência foi divulgada em vídeo pela NASA, o primeiro registro já feito da chegada de uma missão ao planeta. Assista:
Os objetivos da visita a Marte
Além da busca por fósseis marcianos, a Perseverance está munida de diversos equipamentos para investigar o planeta vermelho. São quase 20 câmeras, 43 tubos para coletas de amostras e sete instrumentos científicos, dentre eles, uma broca para a exploração do subsolo de Marte, um feito importante e inédito, segundo Roberto Costa. “A Perseverance carrega uma pequena broca, que não vai cavar metros, mas algumas dezenas de centímetros, o que vai possibilitar, pela primeira vez, o estudo do subsolo marciano”, afirma.
Outro equipamento interessante transportado pela sonda é um conversor de gás carbônico, substância que compõe cerca de 95% da atmosfera de Marte. “O que esse equipamento faz é semelhante à fotossíntese das plantas aqui na Terra, elas quebram a molécula de gás carbônico e liberam oxigênio respirável”, explica Costa. “O objetivo é, eventualmente, produzir oxigênio para possíveis missões tripuladas, uma expectativa da NASA para a próxima década.”
Encontrando traços de vida em Marte ou não, a sonda Perseverance é um marco para a ciência. Para Costa, essa e outras missões são significativas para a construção do conhecimento sobre a origem e evolução do nosso planeta: “junto com a exploração, vem o conhecimento e o desenvolvimento tecnológico. Nós, como sociedade, nos beneficiamos coletivamente deste tipo de trabalho.”
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