Os avanços tecnológicos cada vez mais moldam o jornalismo. As grandes redações e jornais impressos foram substituídos por equipes reduzidas e uma página na web. Mas as mudanças não param por aí, o conteúdo dos textos também foi atingido pela ascensão da internet: jornalistas devem seguir as regras de SEO (Search Engine Optimization) se quiserem envolver um grande público com suas produções.
A otimização para mecanismos de busca, na sigla em português, é um conjunto de técnicas ao qual donos de sites e blogs que visam gerar tráfego em seus portais precisam se ater. Seguir as regras de SEO pode ser definido como uma estratégia de Marketing Digital, já que aqueles que o fazem têm maiores chances de serem indicados nas ferramentas de busca online e, automaticamente, a possibilidade de alcançar mais internautas.
Tão relevante quanto produzir jornalismo de qualidade, é fazer com que as pessoas tenham acesso a ele. Portanto, o sonho de todo veículo é aparecer nas primeiras posições da busca orgânica do Google; lá estão os links que serão mais acessados pelos internautas, já que poucas pessoas costumam passar da primeira página para encontrar as respostas que buscam.
As regras de SEO são bastante fluidas, já que constantemente passam por atualizações para atender a demanda dos pesquisadores digitais. Mas é possível listar alguns critérios clássicos que o mecanismo considera: definição de palavras-chave, expressão à qual o conteúdo será associado; utilização da palavra-chave em títulos, intertítulos e url; e boa disposição do termo ao longo do texto, representando no máximo 2% dele.
Com a ascensão da internet, os jornais impressos foram substituídos por páginas na web. Foto: Flickr
É inegável que a utilização dos mecanismos de otimização mudou a forma com que jornalistas de veículos online constroem seus trabalhos. Exatamente nesse ponto surge uma questão importante: e se, para cumprir os critérios, for necessário sacrificar aspectos da autoralidade do texto? A dúvida surge, pois, na teoria, o SEO amarra o texto, colocando empecilhos para que o jornalista o desenvolva como bem entender.
Sobre o dilema, a coordenadora do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Jornalismo e Mídias Digitais da USP, Elizabeth Saad Corrêa, avalia: “cada redação precisa ter ontologias (critérios para criação de tags, palavras-chave) próprias e, a partir delas inserir palavras para o rankeamento. Se esse processo interno não é bem feito, e se apenas utilizarem os critérios do Google, o SEO fica limitado àquilo proposto pela plataforma e, claro, deixa de lado termos autorais”.
Apesar de os critérios de otimização incentivarem, em partes, a realização de um jornalismo menos rebuscado e mais “robotizado”, procurar construir um meio termo entre a autoralidade e o mecanismo de busca requer um processo ainda mais atento que o de elaboração de um texto para jornal impresso.
“Seguir o SEO do Google e, ao mesmo tempo, direcionar palavras que o ranking captura exige um maior tempo na produção do conteúdo. Uma maior atenção do jornalista em seu texto. Isso, no cenário atual das redações é complicado, seja pela escassez de recursos humanos, seja pelas exigências do próprio ritmo de produção”, aponta Elizabeth Saad.
Para realizar com eficiência o “processo interno do SEO”, a docente do departamento de jornalismo recomenda que as redações fiquem antenadas nos anúncios periódicos do Google sobre alterações em seu algoritmo de ranking. Estar atualizado quanto aos critérios permite acelerar o treino da redação, que deve entender essa lógica narrativa. “O SEO não impede a autoralidade, ele apenas deixa mais complexo todo o processo”, conclui a especialista.
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