A corrida espacial nos dias de hoje

Estação Espacial Internacional vista de perto. // Foto: Tim Peake/ESA/NASA/Reuters

“Se tivesse uma corrida espacial hoje, eu diria que ela ficaria entre os EUA e a China”, diz Amaury Augusto de Almeida, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. No entanto, ele também afirma que os esforços para a compreensão do espaço não estão mais polarizados como antigamente, diferentes países têm despontado no cenário astronômico internacional.

É o caso da China, citada pelo professor, que tem se destacado com planos ambiciosos para competir com a hegemonia da Nasa. Em janeiro de 2019, a Administração Espacial Nacional da China (CNSA) pousou com sucesso uma nave no lado oculto da Lua. É a primeira vez na história que alguma agência espacial consegue fazer isso e, para o ano que vem, eles pretendem ir a Marte. 

Com um orçamento governamental de US$ 8 bilhões, o programa espacial chinês perde apenas para o estadunidense, que gasta aproximadamente US$ 20 bilhões por ano. Agora, o país asiático já começa a trabalhar para construir sua própria estação espacial, chamada de Tiangong, com previsão de lançamento para 2022. 

Hoje, já existe no espaço uma Estação Espacial Internacional, que serve como um laboratório e pode ser utilizada por diversos países. Sua construção foi feita em conjunto pelos EUA, Rússia, Japão, Canadá e os países europeus que integram a Agência Espacial Europeia (ESA). Mas, os chineses já mostraram que preferem investir seu tempo e dinheiro na criação de uma estação exclusiva.

Amaury também cita a Agência Espacial Europeia e a importância de suas descobertas. “A sonda Rosetta teve a capacidade de orbitar um cometa, pousar em sua superfície, retirar uma amostra desse material e mandar as informações dele para a Terra. Um feito histórico”, diz o professor que estuda cometas e acompanhou de perto a missão. Rosetta rodou o espaço por 12 anos e congregou mais de 13 países coletando preciosos dados como resultado.

Tentativa Brasileira

Criada em 1994, a Agência Espacial Brasileira (AEB) surgiu para centralizar a coordenação do programa astronômico no Brasil. Chegou a ensaiar uma participação na construção da Estação Espacial Internacional, mas por não conseguir financiar sua parte acabou sendo excluído do programa em 2007.

Apesar de ter sofrido um grande contratempo logo no início, quando a explosão de um foguete matou 21 técnicos, seu primeiro lançamento de sucesso aconteceu em 2004. O VSB-30 partiu do Centro de Lançamento de Alcântara para uma missão suborbital, e foi seguido de várias outras bem-sucedidas. 

Segundo o atual presidente da AEB, Carlos Augusto Teixeira de Moura, várias iniciativas estão sendo promovidas para ajustar o posicionamento do Brasil frente ao mercado espacial. “Ele tem crescido de forma consistente, com projeções indicando que deverá triplicar nas próximas duas décadas.”

Contudo, Moura afirma que a conjuntura momentânea é bem difícil em termos de investimento, o que os deixa com pouquíssima condição de empreender. “A AEB tem trabalhado, em parceria com diversas instituições públicas e privadas, na revisão do Programa Nacional de Atividades Espaciais para atualizar diretrizes, promover alinhamentos estratégicos, fomentar capacitações que viabilizem projetos mobilizadores de nossa indústria espacial.”

Ainda para o presidente, o espaço deve ser investigado e utilizado como um bem comum, como nova fronteira para a humanidade. “Vivemos um importante momento de revisita e ajuste nas legislações nacionais e nos tratados multilaterais. De maneira geral, podemos esperar que, em vista dos elevados investimentos requeridos e dos riscos incorridos, os protagonistas da conquista espacial procurarão arranjos adequados para viabilizar novos empreendimentos.” 

Monopólio da Nasa

Apesar de todos esses avanços, a Nasa continua sendo a maior e mais influente agência espacial do mundo hoje. Criada em 1958, ela cresceu muito graças ao embate entre EUA e União Soviética, que dividiam o mundo entre socialismo e capitalismo, na época. Dentre suas principais conquistas a ida do homem a Lua foi a maior delas. Atualmente ela investe em missões espaciais para vários cantos do nosso Sistema Solar, tentando entender sua real dimensão e os corpos que o compõem. 

Diagrama da missão Voyager 2 até junho de 2019, com a distância mostrada em unidades astronômicas (distância entre Sol e Terra). // Imagem: NASA/JPL-Caltech

Algumas de suas missões espaciais tiveram papel crucial nisso. É o caso da Voyager que, com suas duas sondas, viajou durante mais de 40 anos pelo Universo. No entanto, embora várias notícias digam que as Voyager 1 e 2 já saíram do nosso Sistema Solar, Amaury discorda. “A sonda não está no meio interestelar, ela saiu da região de influência do vento solar, mas ela continua presa gravitacionalmente ao Sol. A estimativa mais otimista para sair completamente é de 70 mil anos.”

A sonda New Horizons, que a princípio tinha o objetivo de investigar Plutão, também é muito importante. “Foi uma missão muito bem-sucedida e como a sonda ainda tinha combustível eles propuseram o que se chama extended mission, para estender a missão e descobrir o que mais pudessem daquela região”, conta Amaury. Foi essa sonda também que ajudou a observar um brilho distante que parece existir na fronteira do nosso sistema solar e está intrigando astrônomos. Mas, por ser algo ainda muito recente e pouco estudado o professor diz que é preciso ter cautela e esperar por maiores descobertas. 

De qualquer forma, explorações como essa ainda sustentam a Nasa na vanguarda da conquista do Universo. Para o professor isso tem muito a ver com os investimentos e as tecnologias desenvolvidas. “Essas missões serão cada vez mais promovidas e nos fornecerão ainda mais dados para compor esse grande quebra-cabeça que é o estudo da formação e da origem do Sistema Solar.”

Considerando isso a perspectiva de Amaury para o futuro é bastante otimista, tanto com o desenvolvimento científico dos outros países, quanto com a nova geração de pesquisadores do assunto. “A geração que está vindo agora, meus estudantes e a próxima, vão continuar de onde nós paramos, dando um grande passo no entendimento do Universo.”

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