Os metros que separam o transporte público da sua casa ou firma, a existência de uma ciclovia ou de um parque no bairro, e até mesmo os estabelecimentos nas redondezas são fatores que impactam a prática de atividade física. Essas três conclusões obtidas em pós-doutorado incentivaram o docente Alex Antonio Florindo, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, a elaborar um estudo que identifica a influência do ambiente em indicadores de saúde.
A pesquisa “Ambiente construído, atividade física e estado nutricional em adultos” tem duração de cinco anos — de 2019 a 2024 — e analisa a vivência de aproximadamente quatro mil residentes da cidade de São Paulo, com auxílio da Fundação de Amparo e Pesquisa (Fapesp). É um projeto temático que pretende traçar um paralelo entre resultados obtidos no pós-doutorado de 2015 com os que serão vistos em 2020. Para isso, o docente entrará em contato com as mesmas pessoas que participaram da pesquisa na época.
A pesquisa anterior utilizou dados do Inquérito de Saúde de São Paulo de 2014-2015 e os relacionou com a localização de trabalho e moradia. Isso foi feito com a ajuda da base de dados GeoSampa, que tem disponibilidade gratuita e pública para pesquisadores. “Identificamos estruturas que poderiam ter relação com atividade física, e fizemos a geocodificação de transportes, como pontos de ônibus e estações de trem ou metrô; e também de ambientes alimentares, por exemplo supermercados e padarias”, afirma Florindo. Após a geocodificação, houve cálculo do raio em torno das residências e trabalhos dos entrevistados.
Como resultado, verificou que uma proximidade de até 500 metros de espaços públicos abertos, como praças, parques e ciclovias, está relacionada com o aumento de caminhada no período de lazer. Essa mesma distância quanto às ciclovias incentiva o uso de bicicleta como transporte. Outro ponto é que quanto maior número de estabelecimentos diferentes na localidade — ou seja, a possibilidade de misturar de destinos (por exemplo supermercado, parque, estação de trem ou metrô) — maior a chance de se caminhar a pé como forma de transporte. Agora, o projeto temático busca novos resultados.
“Vamos ver o que aconteceu com as pessoas ao longo desse período entre o pós-doutorado e hoje. Se algum fator de saúde mudou, verificar se está associado com o ambiente onde as pessoas vivem e trabalham”, afirma Florindo. Isso será feito com a ajuda da geocodificação de pontos de transporte público, comércio de alimentos e locais de lazer ou ciclovias que foi feita e que será reavaliada em 2020. “Também serão considerados indicadores de violência, nível socioeconômico e poluição do ar, porque a literatura mostra que tudo isso tem relação”, pontua o docente.
Cinco indicadores de saúde servem de base para a pesquisa atual. O primeiro é a atividade física, no tempo de lazer e como forma de transporte (caminhada e uso de bicicleta). Em seguida, a alimentação, com aspectos positivos (consumo de frutas, verduras e legumes) e negativos (consumo de açúcares). Em terceiro está o Índice de Massa Corporal (IMC). Depois, o estado nutricional que mostra um excesso de peso ou obesidade. E por fim, em quinto, a saúde emocional.
O estudo conta com participação de lideranças de setores como cicloativistas, defensores de mobilidade a pé, secretarias públicas da Prefeitura e empresas particulares como Uber e Yellow. “Eles falam os problemas que gostariam que fossem resolvidos, de acordo com nosso objetivo de relacionar ambiente com saúde, para que a gente tente trazer solução com a pesquisa. A ideia é que eles acompanhem o projeto para saber dos resultados no final”, explica Florindo. A partir desses frutos, o pesquisador aponta que é possível inclusive criar políticas públicas específicas para associar o ambiente com a saúde de maneira positiva.
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