Esgotamento psicológico no trabalho: quando a hora extra cobra o preço

Ambiente profissional opressor colabora para o adoecimento mental de funcionários

Pessoa sofre pressão de seus colegas no ambiente de trabalho | Imagem: Pixabay

Por Amanda Capuano, Caio Santana, Carolina Fioratti e Marcelo Canquerino

Viver em função do trabalho, tomar remédios controlados para manter a produtividade, lidar com situações de estresse e tomada de decisões constantemente. Essas são apenas algumas das situações que trabalhadores de diversas áreas enfrentam diariamente.

Entre os serviços mais propícios ao surgimento de doenças, Carla Julia Segre Faiman, psicóloga da área de Medicina do Trabalho da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), cita, com base no que observa no ambulatório do Hospital das Clínicas, as atividades em bancos, telemarketing, professores da rede pública, policiais, motoristas e cobradores de ônibus. Para cada um, há justificativas: bancos são ambientes ultra competitivos e com métodos que podem ser equiparados a assédio moral usados para pressionar produtividade, além da forte competição interna; o trabalho em telemarketing é mecanizado e controlado, sendo o profissional sempre mal recebido por ter que vender produtos para quem não quer comprar; professores da rede pública que estão em cantos pobres da cidade e favelas comandadas pelo tráfico são submetidos a situações de violência; os policiais também são expostos diariamente à violência e outros fatores e, por fim, motoristas e cobradores de ônibus lidam com a pressão do público, da SPTrans, da empresa, do trânsito e enfrentam a falta de infraestrutura. Ao fazer um longo trajeto, chegam ao ponto final e muitas vezes não possuem um refeitório para realizar suas refeições ou mesmo um banheiro à disposição.

Prevalência dos eventos violentos no ambiente de trabalho relatada por participantes de amostra da tese “Afastamento do trabalho por transtornos mentais e fatores associados: um estudo caso-controle entre trabalhadores segurados da Previdência Social” de João Silvestre da Silva Júnior, 2011. | Imagem: Carolina Fioratti

24h na função

Os relatos de sofrimento psíquico no trabalho são muitos. Uma policial militar da ROTA, que preferiu não se identificar por questão de segurança e aqui chamaremos de Ana, expôs como a convivência diária com a violência das ruas afeta os profissionais da segurança. Segundo ela, a maior pressão que a profissão impõe aos seus trabalhadores é a constante perda de colegas devido à alta periculosidade. “Toda hora chega nos nossos grupos de whatsapp a morte de policiais militares. A gente não sabe se pode tirar o carro da garagem ou o que vai acontecer na porta da escola do nosso filho, então, esse é o tipo de pressão que a gente enfrenta”, conta ela.

Policial da ROTA veste roupas de seu ofício | Reprodução

O risco iminente da morte tem seus impactos também fora do ambiente de trabalho. Um levantamento feito pelo G1 mostrou que, em 2018, 307 policiais foram assassinados no Brasil. Ataques em represália a paisanas não são incomuns, e a consequência disso é um sentimento constante de apreensão e insegurança que afeta, inclusive, as relações sociais desses profissionais. “Com o tempo nós vamos nos isolando da sociedade, vamos evitando lugares muito movimentados. A gente vai ficando cada vez mais dentro de casa e evitando ficar em lugar onde tenha tumulto”, explica a policial. Ana relata ainda uma constante postura defensiva engatilhada pelo medo. De acordo com ela, é impossível desligar-se da profissão. Mesmo em atividades do dia-a-dia e em momentos de lazer, a postura defensiva está sempre presente. “Nós somos policiais 24 horas. A gente senta no restaurante já em um posicionamento de defesa, entramos no ônibus posicionados para se defender, andamos nas ruas observando tudo e todos”.

Além de toda a questão da violência, a baixa remuneração é mais um motivo de estresse. Muitos policiais, para complementar a renda, submetem-se a empregos informais, os chamados bicos, nas folgas da corporação. A dupla jornada gera uma sobrecarga, já que emendam escalas de 12 e até 24 horas com trabalhos secundários. Adiciona-se à isso o fato de muitos desses bicos também possuírem alta periculosidade, como segurança particular, de estabelecimentos comerciais e até a escolta de carros forte. “Eu sou obrigada a ter, pela minha segurança, um padrão de vida que o meu salário não comporta. Então, preciso trabalhar duas vezes mais para manter a segurança da minha família”, conclui Ana.

Toda essa pressão acarreta em problemas psicológicos, e nos casos mais graves, na tomada da própria vida. Segundo dados do relatório da Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo, quatro policiais cometeram suicídio por mês em 2018. Nos últimos dois anos, foram 71 vítimas entre polícia civil e militar. De acordo com Ana, existem projetos e palestras voltados à prevenção do suicídio na categoria, além do Centro de Reabilitação da PM (CRPM), que fornece tratamento psicológico aos profissionais. Mas o apoio não parece ser suficiente, já que muitos se recusam a buscar ajuda. “Têm muitos policiais que não querem dar o braço à torcer e reconhecer que precisam de ajuda devido a uma cultura deles, por não aceitarem ser submetidos a um tratamento. Aí sim encontramos a maior dificuldade”, analisa.

Tal situação parece corroborar o que foi dito por Carla Faiman: oferecer atendimento em uma organização de trabalho massacrante e adoecedora tem efeito limitado. É preciso focar no ambiente. E a cultura militar de negação frente a doenças psicológicas parece ser o principal empecilho para a melhora do quadro. Apesar disso, Ana não considera o quartel como sendo a causa do adoecimento. Para ela, o ambiente militar não se diferencia dos demais, e compartilha de problemas comuns de convivência. “Nós temos banheiro, alimentação, tudo dentro do possível. Às vezes as relações interpessoais não são tão boas, mas isso é normal dentro de qualquer instituição ou empresa”, explica. Mesmo assim, os casos de afastamento por estresse são comuns dentro das corporações, muitos deles feitos compulsoriamente, indicados pelo próprio batalhão e pelos superiores, já que a busca voluntária ainda é um problema a ser solucionado.

Levantamento do número de policiais afastados do trabalho em função de transtornos mentais em alguns estados do Brasil realizado por reportagem da Revista Exame. Demais estados alegaram não possuir dados ou se negaram a compartilhar com a publicação. | Imagem: Exame

Terapia ao terapeuta

Os profissionais da área de psicologia, que lidam com determinadas áreas, também podem ser afetados por problemas como estresse e depressão em função de seu trabalho. A psicóloga Tatiana de Aquino Mascarenhas explica que o acompanhamento psicoterapêutico tem potencial para beneficiar trabalhadores que lidam diretamente com morte e sofrimento humano. No caso específico dos psicólogos, principalmente aqueles que trabalham com atendimentos clínicos, fazer terapia ou análise se torna uma ferramenta de trabalho tão importante quanto se manter atualizado nos estudos. “É a única forma que temos de, diante de um sujeito que sofre, escutarmos suas questões e angústias, não deixando que as nossas próprias atravessem aquele momento, tomando um espaço e um tempo destinado a acolher o outro”.

Tatiana já trabalhou em hospitais, em um cursinho pré-universitário e, atualmente, atende em um consultório. Ela conta que cada um desses trabalhos a colocou em situações diferentes em relação a manifestação de sofrimento. “Na medida em que me disponho a estar verdadeiramente com o outro, preciso entrar em contato com aquela dor”, explica. Nesse ponto, a importância do acompanhamento psicológico para o próprio psicólogo fica evidente. São tratamentos que possibilitam ao profissional atender um paciente sem tornar a dor do mesmo, sua. “Tudo isso também é algo que vamos aprendendo com a experiência profissional. Lembro bem que essa separação entre as minhas próprias questões e as do paciente era muito mais difícil em meus primeiros atendimentos.”

Paciente realizando terapia | Imagem: iStock/Getty Images

Da mesma forma que é importante para o psicólogo conseguir lidar com o paciente sem absorver a dor do mesmo para si, é essencial que seus problemas pessoais também não interfiram no seu cuidado com o outro. Torna-se necessário encontrar um equilíbrio entre sentir de menos e de mais. Estar diante de alguém que sofre, de dor física ou psicológica, causa uma sensação. O ideal é que o profissional não se anestesie de sentimentos, mas também não “sinta demais, deixando que questões pessoais atravessem nossa escuta e nosso olhar, nosso cuidado com o outro”.

O atendimento aos pacientes, dentro das circunstâncias mencionadas, pode ser comprometido. A falta de acompanhamento, quando necessária, tem chances de resultar em profissionais distantes e que colocam facilmente suas convicções pessoais, preconceitos e crenças acima daqueles que atendem, ficando comprometida sua capacidade principal: a de escutar e ajudar. “Em todas essas situações, a pessoa atendida não se sentirá, de fato, escutada ou compreendida”, pondera Tatiana.

E justamente na escuta que se estabelece uma maior aproximação do paciente com o profissional psicólogo. Sendo essa, inclusive, a diferença entre uma conversa com um bom amigo e com um profissional. Por isso a importância da terapia, que nada mais é do que tirar um tempo para se ouvir, através de uma escuta do outro, como falou uma psicóloga que preferiu não se identificar — chamaremos de Lúcia. “A diferença de um psicólogo e um bom amigo para dar conselhos é o ouvido, a escuta. Temos conhecimento de todos tipos de transtornos de personalidade. Pelo o que estudamos, sabemos como que é e quem tem esses transtornos”, declara.

A escuta, segundo ela, se faz diferente da feita pelo amigo, porque quem é bipolar, por exemplo, vai receber do amigo a opinião dele com o seu próprio parâmetro de vida, falando de acordo com a experiência dele. “A minha experiência é a de estudar esse comportamento e todos os outros transtornos. Logo a minha escuta é diferente, porque eu não vou falar algo de acordo com o que eu acho. Essa é a diferença”, afirma Lúcia.

Lúcia conta um caso que aconteceu em seu consultório, onde a escuta dela e a própria tomada de decisões foram cruciais, mesmo com ela considerando um momento difícil de sua carreira, que já se aproxima dos 20 anos. Ela comenta que tinha uma paciente que falava muito em morrer, mesmo estando em processo de terapia, com tratamento e medicamentos. Porém, o querer morrer da paciente ainda era um pensamento recorrente, apesar de ela nunca ter cometido, de fato, uma tentativa de suicídio.

“Uma vez, o namorado dela chegou no meu consultório sem avisar nem nada. Após se identificar e por sorte eu ter um tempo entre as consultas, ele falou: ‘Você sabe que ela pensa em se suicidar, né?’. Eu respondi que sim. E ele respondeu: ‘Então eu gostaria de interná-la, para que isso não ocorra’.” Lúcia disse que nesse momento ela teve que explicar que no caso da namorada dele não era preciso internação, porque ela nunca tentou se matar de fato, apesar da insistência dele na necessidade de interditá-la. “Até que eu alertei que se ele fizesse isso, o quadro dela poderia piorar. Sem contar que a questão familiar dela era muito complicada, porque a mãe sabia desses pensamentos, mas o pai não, por ele ter uma série de enfermidades. E como que você fica nessa situação? Foi um momento difícil”, relata.

Lúcia fala ainda do não reconhecimento de não validação dos sentimentos. Muitos deles, aliás, tidos como não nobres, e que podem gerar culpa na pessoa por ela estar sentindo aquilo, provocando raiva e inveja, por exemplo. “Todos esses sentimentos precisam ser olhados e elaborados. Eu sentir e ver onde eu sinto, para dar um destino bom para o sentimento, pois ele foi causado por algum motivo. Eu tenho que entender isso e dar um destino para isso”, explicita.

De acordo com ela, se a pessoa não pensar sobre o sentimento, ela pode desejar mal para alguém e fazer coisas para prejudicar outra pessoa. Ao partir para a ação sem pensar, é possível ver casos, por exemplo, de colegas puxando o tapete de outra pessoa pela força do sentimento. “É um colega que teve promoção no cargo e o outro agir e atuar para prejudicá-lo, fazendo fofoca ao chefe. Isso não é bom para a pessoa, porque a vítima pode se defender de várias formas. Se eu não pensar sobre meus sentimentos e seus destinos, eu atuo. E a atuação muitas vezes é prejudicial para a própria pessoa”, conta. Tomar conhecimento disso e se ajudar, ao ir em consultas e fazer terapia, é essencial, mas não é uma tarefa fácil.

Por isso, muitas vezes, a busca por auxílio acontece tarde. Carla Faiman acredita que as pessoas procuram ajuda apenas quando não é mais possível suportar o problema. “Por um tempo, elas negligenciam porque a ameaça de ficar sem trabalhar é muito grande e é muito difícil você conciliar o tratamento. Nem toda empresa aceita atestado de que o funcionário vai à terapia diversas vezes na semana”. Há um medo enraizado de ser visto como doente e afastado do cargo e, embora o afastamento tenha a finalidade de propiciar restabelecimento e retorno, encontra-se dificuldade em voltar.

Mas afinal, qual é a causa geral?

Estresse, depressão e esgotamento profissional (síndrome de burnout) são apenas alguns dos problemas aos quais diversos profissionais são submetidos. Metas inatingíveis, pressões insuportáveis e ambientes de trabalho insalubres contribuem para o adoecimento da população.

Em Paris, na França, uma onda de suicídios acometeu trabalhadores entre os anos de 2008 e 2009. Foram registrados, em média, 30 mortes na empresa France Telecom, atual Orange. Entre as possíveis justificativas, os funcionários declararam haver um “clima de extrema tensão” e assédio psicológico por parte de executivos, os quais visavam o pedido de demissão dos empregados.

Carla Faiman explica que cada indivíduo, ao enfrentar uma pressão maior do que aquela que tem condição de aguentar, dependendo de sua condição emocional, é suscetível ao adoecimento. Apesar de ser um problema recorrente, Carla não considera necessária a obrigação de haver atendimento psicológico nas empresas, pois as pessoas podem não querer tal auxílio. Para ela, o foco deve estar na organização do trabalho. “Não adianta você oferecer atendimento em uma organização do trabalho absolutamente massacrante e adoecedora”, explica.

Prevalência dos tipos de morbidades com atendimento médico relatada por participantes de amostra da tese “Afastamento do trabalho por transtornos mentais e fatores associados: um estudo caso-controle entre trabalhadores segurados da Previdência Social” de João Silvestre da Silva Júnior, 2011. | Imagem: Carolina Fioratti

O modo como a empresa opera tem influência direta no bom desenvolvimento do trabalho e para a saúde de quem exerce a função. Carla diz que “deve-se atentar para a organização do trabalho, a forma como ele é desenvolvido, as metas, o respaldo que o trabalhador tem naquela ambiente, seja de chefia ou de colegas, para as relações que se estabelecem no contexto de trabalho. A pessoa se sentir acolhida, segura, acompanhada e respeitada em suas necessidades muda tudo”. O atendimento psicológico não seria necessário em ambientes confortáveis para a equipe.

Por outro lado, o atual cenário socioeconômico do país também possui influência direta sobre a saúde do trabalhador. Muitas pessoas, apesar de inseridas em um cenário em que não são felizes com seu ofício e não recebem assistência de suas firmas, vêm-se obrigadas a permanecer no cargo, pois fora dele não há outras opções. “O mercado está desaquecido, se ela sair, fica sem emprego, então vai tentar aguentar”, exemplifica a psicóloga. Carla continua mostrando as consequências do fato para os outros funcionários: “naquele ambiente, várias pessoas vão estar desgastadas e o setor fica desfalcado, pois sempre terá algum profissional da equipe adoecido, deixando os outros ainda mais sobrecarregados”.

Em situações de economia estável e com maior oferta de emprego, o profissional, tendo a possibilidade de transitar de funções, encontra também condições de trabalho mais favoráveis e, consequentemente, não desenvolve problemas de saúde mental. Carla finaliza expondo que “sempre que pensarmos em oferecer atendimento, estamos pensando em correr atrás do prejuízo. O ideal é ter organizações de trabalho menos opressivas, menos competitivas, que possam respeitar mais a necessidade e a possibilidade dos trabalhadores.”

Incidência de transtornos mentais entre homens e mulheres | Dados retirados da Coordenação Nacional de Saúde do Trabalhador/Ministério do Trabalho através do site Metrópoles.com | Imagem: Carolina Fioratti

Competitividade no escritório

“Se o trabalho contribuiu para que a pessoa adoecesse, como voltar para ele?”, indaga Carla. Ocorre então um distanciamento e instaura-se um medo de não aguentar novamente. Além disso, passar por problemas mentais influencia na contratação em novas empresas. O contratante quer sentir segurança em sua contratação e visa alguém com condições de aguentar diversas situações. Ao entrevistar um candidato que já adoeceu, não é possível ter pleno conhecimento de sua fragilidade individual, prejudicando-o ainda mais.

O trabalhador também tem medo de afastar-se do trabalho em razão de doenças e não conseguir garantir seu sustento. O Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) tem o compromisso de oferecer respaldo monetário àqueles que possuem carteira assinada e contribuíram, no mínimo, 12 meses para a previdência social, o que já caracteriza um público privilegiado. Caso o INSS reconheça nexo causal entre o trabalho e o adoecimento, o amparo se encaixará na categoria auxílio doença acidentário e, após feito o pedido, o indivíduo passa por perícia especializada. Caso o problema persista, é possível pedir aposentadoria por invalidez. Por outro lado, se o recurso for negado, o trabalhador pode entrar com pedido por ação judicial.

Tal situação, apesar de reconfortante, apresenta problemas. O paciente pode pedir que seu médico ou psicólogo atual faça um laudo comprovando sua doença e se prende a ideia de conseguir o recurso através do INSS. Se a pessoa não está doente a níveis de afastamento, pode desenvolver algo devido à angústia da espera e o desespero pelo sustento. “É muito diferente você estar lá com alguém que realmente quer ser curado e com alguém que quer de todo jeito mostrar que está péssimo, é um complicador e na terapia mais ainda”, diz Carla.

Quanto ao tratamento, deve-se entender que cada caso tem suas especificidades. As instituições de atendimento possuem propostas diversas, indo desde a psicoterapia até o uso de medicamentos. Há também auxílios como o dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (Sesmt), o qual é obrigatório em algumas organizações de grande porte, como a USP e o Hospital das Clínicas da FMUSP. “O Sesmt do HC faz mediação, ou seja, fala com a chefia, com o funcionário, com a equipe e com os Recursos Humanos para decidir se remaneja, se muda de setor. Ele tem um pouco mais de mobilidade”, explica Carla Faiman.

Há também a proposta baseada na linha teórica do psicanalista francês Christophe Dejours, a qual visa intervir na organização do trabalho por meio de trabalhos em grupo. A ideia é realizar conversas, levantar demandas, explicitar queixas e colocar questões em aberto para que possam ser discutidas e encontrar soluções. No entanto, a empresa deve estar aberta a tais intervenções.

Pessoas realizando terapia em grupo | Imagem: Getty Images

Carla diz que, no Brasil, uma companhia que apresentava preocupação com a saúde dos funcionários era a Petrobrás, tendo um bom esquema de atendimento para rearranjar alguns fatores e tornar as situações favoráveis, porém não na mesma linha citada de Dejours. “Para a empresa, é interessante que as pessoas estejam bem. Então, há aquelas que só oferecem convênio mantendo a ideia de que o problema é individual, mas existem outras, mais raras, que permitem enxergar um pouco o que pode ser feito na organização, mas é mais difícil.”

Uma ex-funcionária de banco que preferiu não se identificar 一 chamaremos de Maria 一 relatou seus últimos quatro anos na área comercial de um ambiente abusivo. “Para obter maior lucratividade, o banco reduz o seu quadro de funcionários, aumentando as atribuições e exigindo além do limite emocional de cada funcionário”. Os empregados também devem cumprir metas para assim receber um extra ao final do mês. No entanto, Maria conta que a qualidade de atendimento aos clientes e relacionamento entre funcionários se desgasta devido ao estresse gerado.

“As pessoas, no geral, têm muito medo de perderem seus empregos. Possuem filhos para educar, financiamentos de imóvel ou carro para pagar”, comenta Maria. “Esse ambiente gera a baixa auto-estima, as pessoas não se sentem capazes ou não têm coragem de sair do banco e, por acharem que não irão encontrar outro emprego que pague os lucros e os benefícios que o banco paga, não conseguem se dar conta de que a saúde é muito mais valiosa. Com dinheiro e sem saúde, não poderemos usufruir de nada”, completa a profissional que, hoje, trabalha em outra área.

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