Proteína regeneradora é criada no Instituto de Química da USP

Testada em camundongos diabéticos, proteína TGF-β1 demonstrou eficácia na regeneração de feridas

Uso de proteínas recombinantes humanas aceleram a cicatrização. Imagem: Reprodução.

Quando uma pessoa se fere, seu corpo trabalha para realizar três etapas importantes: coagular o sangue, formar novos vasos sanguíneos e remodelar os tecidos atingidos. A regeneração da pele, porém, pode demorar dias, como ocorre também com sua cicatrização. Com a proposta de acelerar o processo, a pesquisadora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), Gabriella Christina Gonçalves Manini de Paula, construiu, em seu mestrado junto ao grupo de pesquisas Nucel, uma proteína capaz de regenerar tecidos humanos mais rapidamente.

O alvo de Gabriella Manini para a construção da proteína foi o fator de crescimento chamado TGF-β1. Esse fator, além de muitos outros, está presente durante a fase inflamatória que ocorre após o ferimento na pele, e ajuda no recrutamento de células capazes de regenerar tecidos conjuntivos, os fibroblastos. A intenção da pesquisadora era separar este fator para que, em um futuro próximo, seu grupo de pesquisa pudesse juntá-lo a diversos outros fatores para curar, de maneira guiada e precisa, feridas.

Para isso, fez testes in vitro e in vivo a fim de verificar a atividade da proteína gerada e comprovou que, além de curar feridas no dorso de camundongos diabéticos mais rapidamente, o processo de cicatrização se deu de melhor maneira quando aplicada a proteína recombinante humana TGF-β1.

“Havia um grupo que trabalhava com diabetes que já tinha um modelo de diabetização de camundongo, então resolvemos aproveitá-lo para fazer os testes da atividade biológica”, comenta Gabriella. Assim, foram escolhidos camundongos saudáveis e diabéticos. “Em alguns aplicamos o TGF-β1, e em outros uma proteína já produzida e que usamos como controle positivo, pois sabíamos que funcionava para regeneração, e em alguns animais não colocamos nada. Vimos que funcionava, que tinha atividade biológica e que as feridas que tratamos com TGF-β1 reagiram melhor e cicatrizaram mais rapidamente”.

A produção do TGF-β1 foi feita através de células de ovários de hamster chinês. Gabriella conta que o primeiro passo para que a síntese desse certo foi a replicação da região do DNA que efetivamente envia a mensagem para a produção da proteína ativa, o cDNA. Uma vez replicado, foi inserido em um vetor, que, então, teve sua mensagem replicada em uma bactéria. Com número suficiente de bactérias produzindo o DNA, ocorreu sua extração e aplicação na célula de um mamífero no caso, as células de ovário do hamster. 

“A partir do momento em que essa construção está dentro da célula, sua maquinaria passa a ser responsável por replicar a proteína. Toda proteína que é produzida sai da célula, por ela ser aderente, e fica disponível no meio de cultivo. Quando selecionamos a proteína, tiramos a célula do meio e é nele que se encontra a proteína de interesse, o TGF-β1”, explica a pesquisadora.

O grupo de pesquisa em que Gabriella produziu sua pesquisa é responsável, também, pela criação de outras proteínas recombinantes. Por ora concluídos, seus estudos devem ser explorados, além do Nucel, por empresas desenvolvedoras de terapêuticos que, no melhor cenário, passariam a produzir a proteína de Manini em larga escala, com o propósito final de levá-la ao consumidor.

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