Visitas a cemitérios são nova maneira de se aprender geologia, história e arte

Estudos do IGc geram roteiros turísticos para divulgar e preservar patrimônio geológico da cidade de São Paulo

Montagem com exemplos de rochas ornamentais do Cemitério da Consolação, em São Paulo (Imagem: Divulgação GeoHereditas)

Existe muito mais história nos cemitérios do que as pessoas imaginam. Estudos do Instituto de Geociências (IGc) da USP, liderados pela professora Eliane Del Lama, deram origem a uma diversidade de roteiros turísticos por cemitérios, igrejas e monumentos de dentro e fora da cidade de São Paulo. Esses roteiros já são abertos ao público e têm o objetivo de ensinar sobre o patrimônio geológico e histórico da região de maneira econômica, prática e segura.

“É um conceito novo, mas a ideia já vem do século XIX”, conta a pesquisadora Eliane Del Lama. “Queremos levar o ensino da geologia tanto para quem já estuda, quanto para os leigos no assunto”. Del Lama, que faz parte do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo, o GeoHereditas, conta que além de levar a geologia ao público, os roteiros também são uma maneira de disseminar o trabalho dos pesquisadores da área. Os estudos que deram origem a estas publicações usaram técnicas não destrutivas para obter informações sobre as rochas, como a medição da velocidade de ondas dentro delas. “É uma boa forma de apresentar isso ao público de maneira acessível”, conta.

A acessibilidade do projeto é outro fator interessante, tendo em vista que os materiais de estudos estão dentro da própria cidade. Segundo Del Lama, “é muito mais fácil do que levar as pessoas na pedreira, onde a rocha muitas vezes está suja ou erodida”, explica. “Indo a um cemitério ou uma igreja, a rocha já está trabalhada e pode ser observada sem risco ou obstáculo nenhum”.

Para a pesquisadora, esta é uma boa forma de integrar o estudo da geologia à história e arte: “É uma ótima maneira de mostrar como as pedras podem contar a história”. Del Lama usa como exemplo um ponto conhecido da cidade: o cemitério da Rua da Consolação. “Conseguimos mostrar um catálogo inteiro de rochas ornamentais e como isso mudou ao longo dos anos”, comenta. “Por exemplo, quando ele foi fundado, eram usadas pedras importadas. Após a quebra da bolsa, começou-se a usar muito mais pedras nacionais”, conta. “Podemos mostrar tudo isso analisando as rochas ornamentais usadas nas lápides”.

Segundo Eliane, os roteiros não se restringem à cidade de São Paulo. “Já estamos trabalhando em roteiros na cidade de Santos e em diferentes locais do litoral Norte”. Os interessados podem acessar os roteiros pelo site do GeoHereditas, e acompanhar novos roteiros publicados todo mês pelo Núcleo. Neste próximo mês de julho, será lançado o roteiro do Centro Velho de São Paulo e seus principais pontos geoturísticos.

A pesquisadora fala ainda sobre a importância do projeto para a preservação deste patrimônio geológico: “Temos a falsa impressão de que a rocha é eterna, o que não é verdade”, comenta. “Esse contato auxilia no conhecimento e na preservação”. Del Lama encerra sua fala com uma citação: “Só se preserva o que se conhece”. “Conhecendo a pedra e seu papel na história, levamos a conscientização da necessidade da sua preservação ao público”.

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