Um dos grandes desafios da atualidade é conseguir aumentar a produtividade agrícola reduzindo seu impacto ambiental e gasto de recursos. Para isso, é importante facilitar o acesso a insumos, tornar a mão de obra mais qualificada e disseminar informações para isso. E as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), têm uma influência em tudo isso.
Foi a essa conclusão que Luiz Fernando Amaral chegou em sua tese de doutorado, intitulada ICT and agricultural development: the impacts of information and communication-technology on agriculture (TICs e desenvolvimento agrícola: os impactos das tecnologias de informação e comunicação na agricultura, em tradução livre). A pesquisa foi desenvolvida no Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI) e orientada pelo professor João Paulo Cândia Veiga.
Amaral classifica sua pesquisa como sendo diferente do padrão dos estudos conduzidos no IRI. No geral, é adotada uma metodologia mais qualitativa, seguindo a área de ciências políticas. O pesquisador adotou um método quantitativo, partindo da econometria, aplicando-a em dois cenários de análise.
Uma novidade metodológica
Sua principal base foi a literatura acadêmica que relaciona os impactos da infraestrutura (desenvolvimento de estradas, uso de irrigação, entre outros), no desenvolvimento rural. Para sua pesquisa, ele comenta que “o que fiz foi usar essa mesma linha, mas substituir a variável clássica [desenvolvimento de estradas, uso de irrigação] pela infraestrutura de telecomunicações”.
Outra mudança foi na chamada variável dependente, ou seja, a consequência do objeto de estudo. Geralmente, ao estudar a agricultura, é analisado o impacto socioeconômico da mesma. Amaral decidiu focar em seu impacto ambiental. “Busquei determinar se a infraestrutura de telecomunicações impacta em como a agricultura usa o seu principal recurso natural: o solo”, comenta o pesquisador.
Para isso, o pesquisador partiu de dois modelos: um a nível global e outro regional. No nível global, Amaral analisou como o acesso à internet e a celulares impacta na evolução da produtividade de cereais. No aspecto regional, estudou-se como o acesso ao 3G em municípios da região amazônica impactou as taxas de desmatamento da região.
O pesquisador analisou 212 países, usando dados coletados de 1990 a 2014. Já para a Amazônia, usou dados de 2005 a 2009, considerando todos os municípios da região. Foram consideradas, também, outras variáveis ligadas à produtividade que são usadas em outras pesquisas, adicionando o acesso à internet nesse grupo.
Em relação às variáveis, Amaral comenta que não houve resultados conclusivos apenas na relação entre acesso a celulares e aumento da produtividade agrícola. Na análise global, foi possível constatar que, conforme os países vão ganhando mais acesso à internet, a produtividade aumenta. “Não foi possível determinar uma causalidade precisa nessa relação, mas foi possível observar a existência de uma relação de influência desses dois aspectos”, ressalta o pesquisador.
A Amazônia e as TICs
No nível regional, a pesquisa constatou que municípios com acesso ao 3G tiveram uma tendência menor de desmatamento da floresta Amazônica que municípios com menor acesso às TICs. Novamente, não foi possível determinar uma relação precisa de causalidade, mas foi constatada a existência de uma correlação e influência desses elementos.
Segundo Amaral, “a literatura [acadêmica] já indicava que uma maior qualidade do capital humano leva a um melhor uso de recursos”. “O aumento do acesso a informações sobre agricultura leva à realização de melhores práticas na área”, comenta o pesquisador. Ele decidiu, então, analisar se as TICs seriam um catalisador para o acesso a essas informações e, consequentemente, realização de melhores práticas, e seu estudo “indicou que é possível que as TICs levem a isso.”
O pesquisador observa que um dilema atual, que se intensificará nos próximos anos, é “produzir alimentos para mais pessoas, usando menos recursos e com menos impacto ambiental”. Para isso, é necessário ter acesso a mais insumos, informação e ter uma mão de obra mais capacitada, e as tecnologias de informação e comunicação são essenciais para gerar tudo isso.
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