Avanços na nanomedicina proporcionam melhora no diagnóstico de câncer

Conjugação de quimioterápicos com partículas em escala nanométrica possibilita tratamento mais direcionado e específico

Ramo da medicina que trabalha em conjunto com a nanotecnologia traz perspectiva positiva para o diagnóstico de câncer. Foto: GenMedicina

A nanomedicina, ramo da pesquisa em saúde da contemporaneidade que conjuga a nanotecnologia e a medicina tradicional, proporciona uma melhora no diagnóstico e no tratamento de doenças. Com a proposta de ser sustentável, os novos sistemas usam nanopartículas e nano-robôs para tornar os tratamentos preventivos mais específicos e sensíveis. A tecnologia, porém, ainda é incipiente. Na USP, Roberta Mansini Cardoso propôs em seu doutorado no Instituto de Química (IQ) aprimorar os processos já conhecidos e desenvolver agentes de tratamento diagnóstico para câncer.

Assim, desenvolveu nanopartículas modificadas por quimioterápicos já conhecidos. Roberta trabalhou com duas nanopartículas no doutorado: o óxido de ferro, que já é utilizado em exame de contraste em ressonâncias magnéticas, e as partículas de ouro, que ainda não são comercializadas.

Ao utilizar o óxido, a pesquisadora notou um problema: o ideal seria que a molécula tivesse uma afinidade maior com a região da doença, possibilitando melhor visualização da região doente e o acompanhamento da evolução durante o tratamento. Para isso, a nanopartícula foi modificada com agentes de vetorização, que a direciona no sentido das células-alvo tumorais.

Ela explica que essa articulação foi feita para impedir que o antitumoral ataque as células erradas. “O pior problema dos efeitos colaterais dos tratamentos de câncer convencionais é que muitas vezes o antitumoral reage com vários tipos de célula, não somente com a célula doente”. Roberta ainda conta como foi composto o conjunto: “Combinei moléculas que davam estabilidade para a partícula no meio biológico e as moléculas que atuavam como direcionadores para as células tumorais, mais as moléculas que matam as células tumorais”.

Segundo ela, o resultado mais marcante dessa parte da tese foi perceber que um quimioterápico muito utilizado para o tratamento de diversos tipos de câncer se torna dez vezes mais tóxico quando associado às nanopartículas. “Para você matar a mesma quantidade de células tumorais, você precisa de uma quantidade dez vezes menor. Se você precisa de uma quantidade dez vezes menor de remédio, você também diminuiria os efeitos colaterais provocados por eles”.

Com as nanopartículas de ouro, os resultados foram diferentes. A química conta que, apesar de serem um veículo atóxico ao corpo, elas ainda têm uma limitação de produção quanto ao escalonamento. Ou seja, a produção industrial em litros. “Às vezes um processo perfeito nesse volume, quando transportado para uma indústria química, dá muito errado. Porque é muito mais difícil você garantir em um volume gigantesco que todas as moléculas vão interagir do mesmo jeito, sempre tem uma diferença dentro daquele processo”.

Dispositivos

Quando trabalhado em uma quantidade pequena, fácil de controlar e que tenha o volume previamente definido pelo químico, o ouro se torna mais comercializável. A pesquisadora relata que, enquanto os estudos com o óxido de ferro estavam bem avançados, as partículas de ouro eram mais difíceis prosseguir com o problema do escalonamento. “Na partícula de ouro ainda estávamos na primeira etapa, que é poder modular facilmente a partícula para o tamanho, característica e quantidade que a gente quiser”.

Foi assim que Roberta começou a passar grande parte da pesquisa no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O segundo pilar da sua tese foi constituído lá, a partir da construção dos dispositivos de microfluídica.

A ideia do dispositivo surge da necessidade de controlar melhor as moléculas, evitando desperdícios e possibilitando que os resultados tivessem maior êxito. “É absurda a quantidade de material que, às vezes, é desperdiçada tentando otimizar um processo”, diz ela. “Só de manipular o modo que você atua sobre um dispositivo, também muda o resultado que você vai ter. Desse jeito, é possível otimizar com uma economia muito maior”.

Os resultados obtidos no desenvolvimento dos dispositivos de microfluídica foram positivos. “Modulando os parâmetros de operação do dispositivo, então mudando a vazão e a temperatura, era possível mudar o tamanho da partícula final. Então eu conseguia vários tipos de partícula, no volume necessário para fazer aquela caracterização ou a posterior modificação por biomoléculas, de forma facilitada”.

Sociedade

Com o dispositivo em mãos, foi possível realizar com as partículas de ouro os mesmos experimentos que já haviam sido efetuados com as de ferro. Assim, torna viável a chegada desse produto para a comercialização. “O legal desse dispositivo é que possibilita gerar um processo de fabricação de materiais que facilita a produção, mas não só isso: que esteja de um jeito fácil para ser instalado em uma indústria”, comenta.

Além disso, o dispositivo também foi produzido com um material de menor custo, e sua versatilidade também facilita sua chegada à sociedade. “O dispositivo é de cerâmica, por isso já tem uma compatibilidade muito maior, pois sua reatividade é semelhante ao vidro, que é um material que comumente usado no laboratório. Então é possível trabalhar com ácido e com solvente orgânico sendo, portanto, uma tecnologia facilmente acessada pela indústria”.

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