Descobertos indicadores biológicos de poluição na Antártica

Objetivo é estabelecer de uma forma mais efetiva modelos de técnicas que possam ser usados em monitoramento ambiental

Pesquisadores coletando organismos marinhos na Enseada Martel, Baía do Almirantado, em frente à Estação Brasileira "Comandante Ferraz". Imagem: Rosalinda Carmela Montone.

Estudos realizados por um grupo de pesquisadores identificaram espécies que podem ser utilizadas como indicadores ambientais em regiões marinhas costeiras na Antártica. O objetivo era avaliar os possíveis efeitos antrópicos das atividades humanas locais nas proximidades da Estação Antártica Comandante Ferraz e das atividades humanas no mundo, que poderiam afetar os organismos da região.

De acordo com Vicente Gomes, professor do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo e pesquisador no trabalho, através da análise das quebras nas fitas de DNA do núcleo dos eritrócitos do peixe de espécie Trematomus newnesi, foi possível concluir que tanto a técnica utilizada, chamada de Ensaio Cometa, quanto a espécie de peixe escolhida, são úteis para detectar o potencial genotóxico de águas Antárticas. A genotoxicidade é a capacidade de um agente produzir efeitos tóxicos sobre o material genético. O projeto é vinculado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT – APA).

O peixe estudado, Trematomus newnesi. Fonte: Google Imagens

O professor conta que os danos ao DNA foram significativamente maiores em peixes expostos às águas em frente aos tanques de combustível e à saída do esgoto – criado pela presença das estações de pesquisa – se comparados aos danos ao DNA de peixes-controle expostos em regiões livres de fontes de contaminação. “A gente fez experimentos tanto local, quanto experimentos no laboratório, para estabelecer um padrão para as técnicas” explica.

“Nós selecionamos através de uma pesquisa bastante minuciosa as espécies que respondiam de uma forma mais evidente ao impacto que a gente queria avaliar, que era principalmente radiação ultravioleta e variação de temperatura, no sentido do impacto global, e o despejo de esgoto e a contaminação das águas por óleo no sentido de impacto local” explica Gomes.

Através do aperfeiçoamento da técnica, foi possível documentar que mesmo pontualmente, a presença de esgoto e o uso de petróleo na região causam impactos nas espécies locais. Entretanto, o que essas alterações podem fazer nos organismos em longo prazo é difícil dizer sem mais aprofundamento do estudo.

Ensaio Cometa

Quanto à técnica, de Ensaio Cometa, Gomes ressalta “O que a gente fez foi ajustar a técnica para os organismos Antárticos, isso ninguém tinha feito ainda”.

O procedimento é feito por eletroforese, que consiste em passar uma carga elétrica na estrutura dos fragmentos de DNA analisados, que migram de acordo com a sua carga elétrica. Nesse caso específico, o DNA é preparado de uma tal forma que as suas partes frágeis se fragmentam. Se elas estão fragilizadas por alguma alteração sofrida, essas regiões acabam se rompendo de vez, então é possível localizar onde ocorreram os danos à fita. Quanto maior o grau de dano, mais fragmentos sobram. Quando é feita a eletroforese, os pedaços migram formando uma cauda em volta do núcleo da célula, imagem semelhante à um cometa.

Quanto maior e mais densa estiver a cauda, e menor for a cabeça do cometa, maior é o grau de impacto. A partir desses experimentos são classificadas as diferentes formas e tipos de cometas que aparecem durante a preparação, possibilitando a formação de uma escala. “Através dessa quantificação dos diferentes graus de dano, a gente pode dizer se o DNA sofreu mais ou menos quebra” explica o professor.

“A gente verificou que àqueles peixes que foram coletados em locais próximos à saída do esgoto e próximo ao lugar onde se armazena combustível tinham mais quebra da fita de DNA do que aqueles que estavam em regiões onde não tinha presença do homem” e conclui: “A grande contribuição é poder mensurar o efeito a alguma ação do homem, para depois ser usado como monitoramento em longo prazo”.

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