Abertura de portas e janelas diminui exposição de cabeleireiros ao formol

Mestrado da Faculdade de Saúde Pública analisou contato do profissional com composto cancerígeno

Formol é liberado o esquentar o cabelo com creme alisante. Foto: Pixabay

O formaldeído, popularmente conhecido como formol, é um composto orgânico que possui ação conservante e é tóxico à saúde quando inalado. O gás, liberado por sistemas de ventilação, materiais de construção, tintas, desinfetantes, cosméticos, entre outros, é reconhecido como cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC). Um dos procedimentos de beleza mais conhecidos por liberar formol é a escova progressiva, feita com o intuito de alisar cabelos.

Um estudo feito por Marcelo Pexe, na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, analisou a exposição de cabeleireiros ao formaldeído durante o procedimento de alisamento capilar. A conclusão foi que, quanto mais portas e janelas estiverem abertas, menor é a exposição do profissional. O uso de ventiladores também ajuda a arejar o ambiente, enquanto locais que usam ar condicionado geralmente têm uma concentração maior de formol, por serem fechados.

Mesmo utilizando um alisante com 7,9% de formaldeído, vapor quase não foi encontrado nas amostras de um salão com grande abertura. Foto: Marcelo Pexe.

Como amostra, vapores de formaldeído foram colhidos do ambiente e posteriormente analisados no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) por meio de cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). As amostragens foram separadas em ativa, passiva e controle. Ao todo, 23 salões do município de Bauru (SP) fizeram parte da pesquisa.

A amostragem ativa captou vapores dos primeiros 15 minutos ao passar a “chapinha” no cabelo da cliente durante a escova progressiva, momento considerado crítico na exposição do profissional. A passiva coletou vapores em uma jornada de 8 horas do cabeleireiro, para analisar a concentração residual de formol após o procedimento.

A amostragem controle, coletada em um dia em que não foram feitos alisamentos, teve o intuito de comparar a concentração de formaldeído quando não há o procedimento. As amostras passiva e controle mostraram que, ainda que reste resíduo de formol, a quantidade é totalmente menor do que quando o procedimento está em processo.

Também foi colhida uma amostra de alisante capilar em todos os salões para analisar a quantidade de formol em cada creme. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que a porcentagem permitida é de até 0,2%. Segundo o pesquisador, todos os salões ultrapassaram esse valor, chegando até 10,96%, 54 vezes mais do que o permitido.

Além de constatar que janelas, portas e pé-direito tinham influência direta na concentração de formol no ar, também notou-se que lavar o cabelo da cliente antes do procedimento de secagem diminui muito a exposição do cabeleireiro ao formol. Pexe ressalta que isso não afeta o resultado do procedimento capilar: “Não se tira o efeito do resultado do produto no cabelo, porque ele já agiu com o tempo. Só o excesso vai ser retirado. Mas isso vai variar de cliente para cliente. A maioria quer formaldeído, com esse cheiro [forte], porque assim vai saber que vai ter resultado no procedimento”.

No centro, mais formol

Utilizando o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS), o pesquisador percebeu que era na região central de Bauru que os alisantes capilares mais extrapolavam o limite estabelecido pela Anvisa. No centro fica a região comercial, onde existem públicos diversificados e a consequente necessidade de atendê-los. “Ali tem o público que trabalha, os funcionários, que necessitam de um produto ‘mais acessível’ e também têm as clientes das lojas que vão lá para consumir, um outro público, pelo fator do poder aquisitivo”, explica.

Dos 23 profissionais visitados, poucos utilizavam uma máscara de procedimento. E os que usavam alguma proteção não o faziam do jeito correto. A máscara que se utiliza para formaldeído possui filtro de gases e vapores. “Vai assustar o cliente, que vai falar ‘nossa, você tá colocando veneno na minha cabeça’”.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*