Química é uma matéria difícil de ser aprendida e ensinada. Na educação básica, os professores têm de preparar os alunos para o vestibular e cumprir o cronograma em curto espaço de tempo, mas não conseguem atingir esse objetivo sem sobrecarregar os estudantes de fórmulas e teorias. Como resolver o problema? Joana Aguiar, formada em química pela Unicamp e pesquisadora da USP, apresenta em sua tese de doutorado uma opção para este embate: os mapas conceituais, organizadores gráficos que tornam o estudo mais imediato e dinâmico através do estabelecimento de relações entre conceitos teóricos.
Intitulada Mapas conceituais como material instrucional da Química: estratégias que minimizam a desorientação do aluno e potencializam a aprendizagem de conceitos científicos, a tese aponta os mapas conceituais como uma alternativa ao livro didático tradicional.
Os mapas são compostos por conceito inicial, termo de ligação e conceito final. O termo de ligação é o elo entre os conceitos inicial e final, e geralmente é dado por um verbo. O modo não-linear de relacionar conceitos permite uma leitura mais direta. “É diferente de um texto, que você tem que ler tudo até chegar onde você quer. Como não é linear, você consegue ver diretamente as relações de causa e consequência”, completa Joana.
Podendo ser produzidos pelos próprios alunos, levados como base teórica pelo professor ou usados como método avaliativo, os mapas conceituais se fundamentam na representação visual dos conhecimentos do estudante. Portanto, quanto mais o aluno sabe, mais complexo é o mapa.
Assim, os mapas são boas ferramentas para identificar onde os alunos estão tendo dificuldade. “É interessante porque dependendo do conhecimento do meu aluno, ele liga esses conceitos de forma diferente, então também consigo avaliar o conhecimento dele a partir do estabelecimento dessas relações conceituais”, explica a professora.
Conceitual ou mental
Joana faz questão de reforçar a diferença entre os dois tipos de mapa. “O mapa mental é algo totalmente pessoal, serve para você organizar as suas ideias. Você pode fazer um mapa mental sobre, por exemplo, as atividades que você tem que fazer na semana. Isso ninguém pode dizer se está certo ou errado, pois é uma organização para a própria pessoa”. Ainda, ela diz que tentar entender um mapa mental sem a explicação da pessoa que o produziu pode ser uma tarefa difícil. “Na maioria das vezes, você não sabe qual a relação feita entre os termos se você não estiver junto da pessoa [que o produziu] para ela te explicar as ideias dela”.
Por outro lado, o mapa conceitual se constitui com proposições (frases) que podem ser tiradas integralmente do livro didático. Assim, deve ser lido como um texto comum — o uso do verbo permite isso, pois liga dois termos que estão desconectados. “Se você ler o que está aqui [no mapa] e o que está no texto, vai reparar que é praticamente a mesma coisa. O que importa é o verbo — ele que torna possível entender a mensagem”, diz.
Interação em sala
O artigo intitulado Por que vale a pena usar mapas conceituais no ensino superior?, publicado na Revista de Graduação USP (Grad+), investiga a eficiência do uso dos mapas conceituais nas universidades.
Produzido pelo grupo de estudo do qual Joana Aguiar faz parte, o texto aponta que a utilização contínua do mapeamento conceitual “aumenta a nossa capacidade de organizar estruturas de conhecimento e expressá-las com clareza”. Os mapas tornam estas estruturas visíveis — sendo fácil para o professor reconhecê-las, bem como suas transformações ao longo do tempo. Assim, as dificuldades e progressos dos estudantes são de fácil identificação. “Com isso, o professor é capaz de interagir com seus alunos, considerando o atual nível de entendimento que eles têm sobre os temas de estudo”, explica o artigo.
Ainda, o texto conclui que a adoção de mapas no ensino superior é justificada por três motivos: a possibilidade de visualizar a construção do conhecimento, de potencializar a aprendizagem profunda, e planejar feedbacks precisos e frequentes.
Eficácia x tempo
Os resultados, porém, são obtidos em longo prazo. Sobre isso, Joana explica: “Os mapas conceituais nasceram na base construtivista da educação. Ou seja, você constrói o conhecimento à medida que aprende. Então o que você sabe hoje não é o mesmo que sabe amanhã, e assim por diante”.
Os professores, porém, têm um prazo apertado para passar o conteúdo necessário aos alunos. Com isso, nota-se uma incongruência: apesar de muitos educadores se interessarem pela possibilidade de integrar os mapas conceituais às suas aulas, poucos realmente o fazem. Como transpor esse conflito?
“O que acontece é que muitas escolas não trabalham na base construtivista. É muito difícil, geralmente trabalham na base conteudista”, comenta Joana. A linearidade de explicação de conteúdo adotada nas escolas, essencialmente pautada no livro didático, torna impraticável a adoção dos mapas. “Os professores são muito imediatistas, eles querem que o aluno já saia da aula sabendo, e aí que está o problema: fazer com que o professor acredite na ferramenta e continue usando mesmo não vendo o resultado ali, na hora”.
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