Um banco de dados está sendo estruturado com a finalidade de auxiliar os estudantes da área de saúde a identificarem transtornos de personalidade e poderem lidar melhor com os pacientes em suas futuras profissões. Usando como material filmes brasileiros e estrangeiros, os estudantes poderão aprender de uma forma mais dinâmica e visual sobre casos que encontrarão na clínica.
A ideia surgiu da pesquisadora Tabata Galindo Honorato juntamente com o seu orientador, o professor Francisco Lotufo Neto. A pesquisa realizada no Instituto de Psicologia (IP) da USP vai analisar, até sua conclusão, 133 filmes ganhadores do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e do Oscar de 2001 a 2015, identificando se neles existem personagens com transtorno de personalidade.
O mais surpreendente dos resultados que estão sendo adquiridos é que mesmo quando os roteiristas não baseiam as características dos seus personagens — o que se configura um obstáculo para a pesquisa — pensando no transtorno de personalidade, eles apresentam inúmeros identificadores que podem fechar um diagnóstico. “Daí a dificuldade do projeto, porque nós tentamos buscar cenas que façam sentido dentro de um transtorno, mas o filme é voltado para o lazer, e não para isso”, disse Honorato.
O transtorno de personalidade é classificado em três grandes grupos de pacientes. O grupo A, engloba os que têm comportamentos bizarros: como isolamento severo, falta de laços pessoais, crença extrema em ocultismo e religiões ou intensa desconfiança das pessoas. O grupo B, compreende os pacientes com comportamento antissocial, histriônico — definido por Honorato como um comportamento sedutor, dramático, pessoas com expressão emocional exagerada, que consideram as relações pessoais mais íntimas do que na realidade são — narcisista ou borderline — transtorno caracterizado por comportamentos instáveis. Por fim, o grupo C inclui pessoas extremamente dependentes de outras, esquivas ou com personalidade obsessiva-compulsiva.
Como muitos transtornos são classificados pelos manuais diagnósticos mais importantes sobre saúde mental — o de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10) e o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM 5) — é difícil para os estudantes da área da saúde compreenderem e memorizarem todos com facilidade. Os filmes podem auxiliar nesse processo por criarem uma imagem mental e ligada com personagens dos sintomas desses distúrbios. “A ideia, no fim, é mantermos somente as cenas com maior pontuação, porque tem que ser realista, parecido com o que temos na clínica, mas também tem que ter potencial para o ensino”, disse Honorato.
Durante as investigações, pode-se perceber um predomínio das representações dos sintomas de pacientes do grupo B. “Uma maioria gritante dos pacientes com transtorno de personalidade antissocial são conhecidos no senso comum como psicopatas”. Porém, o termo psicopata é utilizado apenas na psiquiatria forense e no meio judiciário. A hipótese para a maior abordagem dessa classificação de transtorno de personalidade é o fascínio da indústria do cinema pelos psicopatas. “Existe uma valorização de atitudes ilegais no cinema como um todo”, segundo Honorato.
O projeto deve continuar com a aplicação desse banco de dados nas salas de aula da graduação e pós-graduação para mais resultados serem examinados e comprovados.
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