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Muitos adultos que hoje têm o hábito de frequentar exposições entraram em um museu pela primeira vez quando eram crianças. Público cativo, as crianças são levadas a conhecer esses espaços de cultura por meio de excursões escolares ou em passeios junto a adultos. Buscando desenvolver ações junto a esse grupo, Andrea Amaral Biella, que faz seu doutorado na Faculdade de Educação da USP, desenvolveu o projeto Interar-te. Em vigor no Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP) desde 2006, o programa desenvolve ações que proporcionam à criança e a seus familiares ou amigos um conhecimento amplo do universo artístico, trabalhando desde o desenvolvimento de projetos de obras até a discussão de critérios de curadoria.
O Interar-te surgiu da experiência prévia de Andrea Biella em educativos de outros museus. Ela conta que durante o final de semana, nos períodos de ócio da família, é comum alguns pais trazerem seus filhos para o museu. Entretanto, muitas vezes eles querem deixá-los com o educativo enquanto saem para comer algo ou para fazer compras. Por isso, ela entendeu que o Interar-te, além de ter um papel de formação de público ao apresentar o MAC às crianças, deveria ter a função social de promover um encontro intelectual entre família e o menor.
As oficinas desenvolvidas pelo projeto sempre partem de uma obra ou do setor de uma exposição, levando o adulto e o menor a conhecerem melhor o acervo do museu. Nos 11 anos de projeto, jamais houve uma oficina repetida, por isso as obras e atividades envolvidas podem ser bastante diferentes. Variando produção e reflexão, as oficinas podem envolver a coleta de materiais e montagem de uma obra, desenvolvimento de um projeto artístico ou discussão de critérios de curadoria a partir de parte do acervo do Museu.
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Biella explica que muitas vezes a oficina envolve a vivência de uma técnica, como é o caso da oficina de xilogravura. Nela, os menores e suas famílias conhecem parte do acervo moderno e contemporâneo de obras do MAC que envolve essa técnica. Depois põem em prática o que viram, desenvolvendo uma obra. Para isso, primeiro discutem projeto: a criança faz o desenho e o adulto, como seu assistente, cava o decalque na madeira. Ao final, criança e adulto estampam, imprimem e discutem o seu processo de criação.
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Além do papel fundamental de formação de público, ao colocar adultos e crianças como parceiros de um processo colaborativo, o Interar-te promove a integração familiar.
A educadora explica que nas entrevistas que fez com as famílias que participaram das oficinas, “elas deram a devolutiva de que aqui eles convivem em um contexto que não é o cotidiano, e que isso faz com que eles se conheçam mais”. Outro dado revelado pela sua pesquisa é de que os adultos costumam frequentar mais o Museu com crianças, sejam elas filhos, sobrinhos ou filhos de amigos, visando a torná-las público frequentador de museus.
Esses dados deram a Biella a convicção de que o projeto estava caminhando em um rumo certo. Para ela, a vivência artística proporcionada pelo Interar-te “é uma educação para a vida”. Quando a experiência do museu se restringe ao período escolar, pode haver um problema, porque ele “é um período só da vida. Existe o antes, o durante e o depois do período escolar, que é vivido junto à família. A infância e a adolescência são momentos importantes de formação de hábitos, e isso faz uma diferença grande na vida adulta”, explica.
As barreiras invisíveis do museu
Vivenciar as obras do museu com a família também proporciona às crianças uma experiência diferente daquela que elas têm quando o visitam em excursões escolares. De acordo com Biella, “as crianças e jovens disseram que com a escola eles não escolhem as obras que veem porque geralmente tem uma relação com a programação pedagógica”. Apesar de o educativo não se limitar às programações escolares, a visita em grupos grandes faz com que as crianças às vezes se dirijam a obras só porque os seus colegas se concentraram lá. Embora essa experiência em grupo também seja importante, com a família, por estarem em um grupo menor, as crianças têm a sua individualidade mais respeitada, podendo exercitar seu gosto ao dirigir-se às obras por motivações mais pessoais.
Outro dado relevante levantado pela pesquisa de Andrea Biella a respeito do Interar-te é que o público espontâneo do Museu, que é o público-alvo das oficinas, geralmente pertence às classes A e B. Já os públicos das classes C e D só costumam frequentar o museu por meio de excursões escolares ou de passeios intermediados por ONGs ou outras instituições de sua confiança.
Por isso o educativo do MAC desenvolve um outro projeto que, por meio de instituições que estão nas periferias da cidade, consegue deslocar a população mais pobre da comunidade ao museu. Sobre esse projeto, a educadora explica que “é um trabalho que vem de dois lados, de a gente abrindo as portas do museu e de uma instituição com quem eles têm vínculo e que os traz, porque sozinhos dificilmente eles viriam”.
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Apesar da entrada ao MAC ser gratuita, Biella analisa que o pouco público espontâneo de classes C e D muitas vezes se deve às “barreiras invisíveis das instituições”. Essas barreiras podem ser a falta de dinheiro para se deslocar até o museu ou mesmo a intimidação que pode ser causada pelo prédio. Por isso, ao receber essa população “o trabalho do educativo vai no sentido de apresentar esse lugar para o público se sentir à vontade”.
Serviço
O Interar-te é um programa gratuito voltado ao público espontâneo do museu. Ele acontece uma vez por mês, de janeiro a novembro, sempre aos sábados de manhã.
As inscrições acontecem às 10:00 e a oficina inicia às 10:30, tendo duração de aproximadamente duas horas. Para verificar a data do próximo Interar-te, você pode seguir a página do MAC-USP no Facebook, no https://www.facebook.com/usp.mac
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