
Segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho de 1999, a mineração de pequena escala (MPE) é responsável por cerca de 15% a 20% da produção mundial de minerais não energéticos e 90% a 100% da pedras preciosas produzidas, nos países em desenvolvimento. No Brasil, as MPEs correspondem a 70,5% das empresas de mineração, empregando em torno de 10 milhões de pessoas ao longo de sua cadeia produtiva (40% das ocupações na atividade mineral). Mesmo assim, segundo Antonio Carlos Martins, doutorando do Departamento de Engenharia de Minas e Petróleo, da Poli, “há uma grande deficiência de pesquisa, por conta da falta de investimento”. Com isso em mente, ele tenta, em sua tese, destacar os benefícios que a aplicação da geofísica no planejamento de lavra oferece aos pequenos produtores: “Essas empresas acabam operando com nível limitado de conhecimento geológico, e assim, com um aproveitamento mineral muito ineficiente”.
Assim, o foco da pesquisa foi equiparar os níveis de incerteza geológica – em outras palavras, a chance de não se encontrar o minério – da MPE com aqueles muito inferiores das grandes empresas. Essas, embora também se utilizem dos conhecimentos geofísicos, refinam o planejamento a partir de métodos mais caros como os da sondagem rotativa, em que um furo no solo permite a identificação do minério. Martins, no entanto, ressalta a eficácia da análise geofísica nas aplicações testadas em campo e destaca os números que obteve nas avaliações que fez em três operações de mineração (ouro, manganês e calcário). “Os ganhos de custo de pesquisa alcançaram 94% no caso da mineração de calcário”. Além disso, outros êxitos podem ser constatados nos “ganhos de tempo de execução de 75% a 77%”, em comparação aos métodos tradicionais e na redução do índice de incerteza da MPE, que pode ser visto no gráfico abaixo.

A geofísica também evita o uso de equipamentos utilizados nas técnicas de sondagem, que não só demandam um alto custo de manutenção, como também, tendo que passar por acessos muito difíceis, dificultam o deslocamento das máquinas. Sem contar que o valor de aluguel de máquinas desse porte está além do capital normalmente disposto pela MPE. Em comparação, o método de eletrorresistividade, que é utilizado para a análise geofísica, demanda apenas uma bateria, cabos e eletrodos. Segundo Antonio, para esse método, foram utilizadas duas técnicas: a sondagem elétrica vertical e o caminhamento elétrico. Em ambos, a corrente elétrica é conduzida através dos componentes metálicos do solo, e a partir da diferença de resistividade – ou seja, o quanto de corrente um material deixa passar – entre solo e minério, identifica-se a feição litológica. A diferença é que a primeira é mais pontual, como o furo da sondagem tradicional, enquanto a segunda secciona as áreas em perfis. Os dados retirados em campo são então interpretados num software, que apresenta, por fim, a geometria do minério. “Você consegue determinar a espessura do solo, e dependendo do método, a espessura da rocha também”.

Quanto às desvantagens, Antonio menciona que as técnicas não determinam os teores de pureza do minério – que é uma fração daquilo que tem valor comercial do minério extraído. Numa análise a priori, apenas a sondagem rotativa consegue mostrar isso. Por outro lado, os métodos eletrorresistivos não interferem com o meio ambiente, porque não necessitam de perfurações. Além disso, em seu trabalho, o pesquisador aponta que “o uso de métodos geofísicos pode reduzir de 30% a 50% a quantidade de perfurações negativas [as que não encontram o minério]”.
Com ainda muito a se desenvolver na área de mineração, Martins acredita que os problemas enfrentados pela MPE “não se limitam à questão financeira, mas passam também pela conscientização do aproveitamento sustentável do bem mineral”. Ainda assim, com a expansão de um número cada vez maior de depósitos de menor porte (15% a 20% do mercado de ouro e crescendo), frente ao esgotamento daqueles maiores já largamente explorados, ele reforça a importância da geofísica como novo paradigma da MPE. “(Para) quem tem dinheiro, a geofísica é uma coisa a mais. Para quem não tem nenhum informação, ela ajuda bastante”. Por fim, ele ainda comenta que a equipe do Núcleo de Pesquisa para a Mineração Responsável, do qual ele faz parte, “pretende replicar o trabalho, que será estendido para outras minerações”.
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