
A professora Ana Magalhães, da Divisão de Pesquisa em Arte, Teoria e Crítica pelo Museu de Arte Contemporânea, lançou, recentemente, o livro Classicismo moderno, Margherita Sarfatti e a pintura italiana no acervo do MAC USP. O trabalho se propõe a estudar 71 obras escolhidas por Ciccillo Matarazzo e Yolanda Penteado para compor o acervo do antigo MAM São Paulo, o Museu de Arte Moderna, que viria a passar, mais tarde, seu acervo para o MAC.
As coleções de Ciccillo e Yolanda no Brasil

O casal Matarazzo, entre as décadas de 1940 e 1950, tinha grande participação no meio artístico de São Paulo. Ciccilllo foi o criador do Teatro Brasileiro de Comédia, da Cinemateca Brasileira e colaborador da grande mostra homenageando o quarto centenário de São Paulo, em 1954. Suas coleções particulares de pinturas foram, portanto, fundamentais para compor o acervo do Museu de Arte Moderna e, posteriormente, do MAC. São três conjuntos de obras: a coleção conjunta do casal; e as coleções individuais de Ciccillo e Yolanda, após o divórcio. As pinturas estudadas no livro concentram-se nas obras da coleção conjunta e da coleção individual de Ciccillo. Algo particular desta série é que suas obras foram adquiridas especificamente para o acervo do MAM São Paulo, diferentemente das demais, que foram acervos particulares antes de passarem aos museus.
Na Itália, Margherita Sarfatti

Ciccillo e Yolanda, ainda na década de 1940, adquirem uma série de pinturas italianas, com a curadoria da aclamada crítica de arte, Margherita Sarfatti.
Margherita era uma figura italiana conhecida. Ela foi uma das idealizadoras do Classicismo Moderno no início do século 20, o chamado Novecento, um movimento que retomava aspectos da figuração e elementos clássicos da pintura. Tratava-se de uma vanguarda, segundo a professora, ainda que não acompanhasse as tendências das demais vanguardas europeias. “Eles se entendiam como vanguarda. E nós falamos dessa ideia ampla de Novecento para a escolha da coleção.” Socialite judia, Sarfatti, nos anos 1920, manteve um relacionamento com Benito Mussolini, chegando até a escrever sua biografia. Todavia, após a aproximação do partido Fascista do Nazismo antissemita de Hitler, foi obrigada a abandonar o país, estabelecendo-se na Argentina. Ela foi a ponte entre o casal Matarazzo e a realidade artística europeia.
A curadoria de Margherita tornou-se controversa após o fim da 2ª Guerra Mundial. Apesar dos argumentos estéticos, era evidente que se tratava de uma discordância ideológica, dadas suas relações políticas. “Havia o problema da vinculação dessas tendências da pintura do entre guerras na Itália ao regime fascista”, coloca a professora. “Parece-me que a historiografia condenava muito mais isso, reproduzindo o que a crítica de arte do imediato pós-guerra tinha com essa pintura, do que propriamente a qualidade dessas obras. ”
Do MAM ao MAC, obras ilustres
Graças ao casal Matarazzo e à Margherite Sarfatti, apesar das críticas, o MAM São Paulo recebeu belíssimas e emblemáticas obras italianas, que incluem grandes nomes da História da Arte, como Modigliani e Morandi. Em 1963, devido a crises financeiras, Ciccilo doa o acervo do MAM para a Universidade de São Paulo, que o utiliza para compor ao acervo do novo museu, o MAC USP.

O livro Classicismo moderno, Margherita Sarfatti e a pintura italiana no acervo do MAC USP, da professora Ana Magalhães está disponível na biblioteca do MAC.
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