Pesquisa da EE USP investiga a relação da família no envelhecimento saudável

Trabalho contou com um estudo qualitativo de pessoas que recebem atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Sapopemba, São Paulo

Objetivo do estudo foi compreender a relação do idoso com seus familiares e de que maneira isso contribui para o seu envelhecimento. Foto: Portal do Amigo Idoso

Por Amanda Panteri – amanda.panteri@gmail.com

Ana Carolina Albiero Leandro da Rocha, estudante da Escola de Enfermagem da USP (EE/USP) e enfermeira na Estratégia de Saúde da Família, do Ministério da Saúde, teve sua tese de doutorado defendida no dia 29 de agosto de 2016. Com cerca de 46 pessoas entrevistadas, o objetivo do estudo foi compreender a relação do idoso com seus familiares e de que maneira isso contribui para o seu envelhecimento.

Ana conta que resolveu aprofundar o projeto iniciado durante o desenvolvimento de seu mestrado. Nele, a enfermeira estudou a espiritualidade como um fator auxiliador no processo de aceitação das doenças crônicas por parte dos pacientes com mais de 60 anos, e percebeu que, para muitos deles, a família era a principal razão de sentido na vida. Ao iniciar a fase de coleta de dados para a tese de doutorado, em julho de 2015, seu foco voltou-se então justamente para esse vínculo, e se ele interfere ou não no envelhecer mais saudável.

As perguntas feitas aos dois grupos (pacientes e parentes) eram muito parecidas e se resumiam basicamente a questões sobre qualidade de vida, enfrentamento de adversidades e dados socioeconômicos. Além disso, o genograma – espécie de árvore genealógica que analisa os relacionamentos entre os membros – de cada família foi feito em vista de uma melhor visualização do arranjo.

Espiritualidade x Religiosidade

Espiritualidade e religiosidade: conceitos distintos. Crédito: Morguefile

Os conceitos espiritualidade e religiosidade são comumente confundidos como sinônimos, e apesar de poderem estar associados, são distintos. Ana procurou diferenciar bem essa definição em seus trabalhos. Para ela, “espiritualidade é aquilo que dá sentido à vida, e a religião é uma das maneiras de expressar a espiritualidade. Então eu posso ser uma pessoa muito espiritualizada e nem um pouco religiosa, posso ter muitas coisas que dão sentido à minha vida, posso querer viver, mas não necessariamente ter uma religião”. Essa, inclusive, foi uma das características observadas durante as entrevistas.

Contudo, a religião pode sim ser um recurso de enfrentamento de dificuldades encontradas pelo idoso e, consequentemente, se transformar em uma causa da espiritualidade. A inserção social que a convivência em um grupo religioso proporciona, por exemplo, ajuda em muito na prevenção do isolamento e até de comorbidades como a depressão.

Resultados

Após a análise de conteúdo e seleção das falas, os resultados foram divididos em um quadro com três unidades temáticas. A primeira, que diz respeito aos movimentos e mudanças enfrentadas pela pessoa, reúne relatos de alterações cognitivas e físicas percebidas. Com relação aos familiares, os trechos mais comuns abordam questões como a dependência que o idoso passa a ter e as dificuldades financeiras.

Ao falar sobre equilíbrio, a família é geralmente o maior espaço de vínculo e confiança do idoso e contribui em muito para o desenvolvimento de sua espiritualidade. Contudo, ela também pode apresentar conflitos geralmente associados à disputa pelo cuidado ou ao alcoolismo, tabagismo e uso de drogas. A religião, como já explicado, entra nesse cenário e pode auxiliar no processo.

A terceira unidade, a resiliência (tendência de se recobrar facilmente ou se adaptar a mudanças não desejadas), avaliou a capacidade de cada um ao enfrentar os próprios problemas. O otimismo, nesse caso, foi uma característica observada. “As pessoas se sentirem otimistas e felizes por estarem saudáveis e independentes ajuda muito e dá força”, reforça Ana.

A população brasileira está ficando cada vez mais velha e sua pirâmide etária cada vez mais parecida com as dos países desenvolvidos. Devido a isso, estereótipos sobre a terceira idade já não são mais cabíveis dentro da nossa realidade, enquanto esforços no sentido de melhorar o envelhecimento, sim. “O resultado é muito melhor quando promovemos a saúde e o hábito de vida saudável do que quando corremos atrás de tratar as doenças que aparecem. Temos que pensar por esse lado da prevenção”, confirma Ana.

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