VII Mostra Ecofalante USP traz filmes com debate sobre desastres ambientais

Às vésperas do aniversário de nove anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, mostra exibiu filme sobre os impactos da tragédia

Da esquerda para a direita: Lucas Bambozzi, Karina Martins, Maria Lucia Refinetti Martins e Isabella Walter. Foto: Carina Serra/Acervo pessoal

Entre os dias 23 de setembro e 22 de outubro, a Universidade de São Paulo (USP) sediou a VII Mostra Ecofalante USP e a Agenda 2030, alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Com a proposta de fomentar discussões sobre sustentabilidade em suas diversas dimensões ambiental, social e econômica, o evento organizou uma série de atividades abertas ao público.

Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), a exibição de três filmes foi organizada por Mariana Fix, professora da FAU e coordenadora do INCT Produção da Casa e da Cidade, do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LabHab), e por Isabella Walter, mestranda em arquitetura e urbanismo na FAU e pesquisadora no INCT/LabHab. As três sessões, em 10, 15 e 22 de outubro, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, contaram com debates sobre temas como habitação pública, racismo ambiental e mudanças climáticas. 

No dia 10, foi exibido o filme Arrasando Liberty Square (2023), sobre os impactos do aumento do nível do mar em Miami. No dia 15, foi a vez do filme Filhos de Katrina (2015), que conta sobre os impactos do furacão histórico que assolou o sul dos Estados Unidos em 2005.

A última sessão, do filme Lavra (2021), trouxe o diretor do filme Lucas Bambozzi, Karina Martins (militante do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), membro da Direção Nacional), além da medição de Isabella e da professora Maria Lucia Refinetti Martins, coordenadora do INCT Produção da Casa e da Cidade, sediado no LabHab. O filme relembra a tragédia de 2015 em Mariana, em Minas Gerais, e aborda como o rompimento da barragem da Samarco transformou os municípios afetados e seus arredores. 

Isabella Walter, organizadora da última sessão e autora de dissertação de mestrado sobre os impactos do rompimento da barragem de rejeitos da Samarco, comentou sobre o propósito da mostra e a escolha dos filmes para o evento.

Para Isabella, natural de Mariana, essa foi uma oportunidade de trazer para professores e colegas a questão, que está fora do eixo de São Paulo, e mostrar o quão profundas são as marcas deixadas por desastres ambientais. Fix reforçou que os filmes permitem trazer temas importantes, mas que o ritmo da produção acadêmica ainda não conseguiu trazer para forma de artigos científicos, teses e dissertações. Para ela, eventos como a mostra são uma possibilidade de entrada nessas temáticas e que às vezes se desdobram em pesquisas. “Ou o inverso: tem gente que está pesquisando uma determinada temática, às vezes a temática tem pouca visibilidade dentro da universidade, e de repente a partir de um filme aquele estudante de pós-graduação que pesquisa esse tema consegue trazer o seu conhecimento sobre aquela temática adquirido na pesquisa para um evento que tem um outro tipo de engajamento das pessoas”.

Isabella ainda comenta alguns dos achados de sua pesquisa: “A pesquisa olhou para as especificidades do desastre da Samarco, mas acabou percebendo que desastres ambientais são efeitos do modo de produção capitalista do modelo de desenvolvimento que a gente opta.” 

Para a autora, são perpetuados padrões e relações de poder antigos no país, ao longo de décadas. “O capital se reinventa também nesses cenários, tudo vira oportunidade de negócios para ele, em vários lugares. E cada vez mais o Brasil vai sofrer com desastres.”

A professora Mariana Fix também comentou sobre a importância da seleção cinematográfica para a compreensão dos processos históricos complexos em desastres ambientais. “Os filmes que selecionamos apresentam casos emblemáticos que estimulam o debate sobre habitação, racismo e desastres ambientais”. 

“O primeiro filme [que exibimos] documenta história da privatização do parque público de habitação de um bairro negro nos Estados Unidos e as lutas de resistência dos seus moradores, no contexto da mudança climática. No segundo [filme], o desastre do Katrina é contato pela ótica daqueles que eram crianças quando o furacão passou por Nova Orleans, deixando rastros de destruição.” Para a professora, Arrasando Liberty Square (2023) evidencia o viés racista das operações que expulsaram milhares de pessoas, enquanto Filhos do Katrina (2015) também aponta o viés discriminatório das políticas públicas após o desastre, dessa vez no processo de reconstrução.

Registro ao final do debate que seguiu a exibição do filme Filhos de Katrina
Foto: Tales Fontana/Acervo pessoal

Mariana e Isabella celebraram a qualidade dos debates que seguiram as exibições dos filmes, ressaltando a importância de eventos como a mostra para trazer exemplos palpáveis e em diferentes formatos sobre os temas vistos em pesquisas acadêmicas. Na segunda exibição, ocasião da foto acima, a dupla comenta que os participantes chegaram a expressar a vontade de transformar a produção coletiva das trocas no evento em um texto, para registrar o que construíram junto ao longo do debate..

Para Mariana, a mostra propicia encontros que talvez não acontecessem em outros ambientes da Universidade. “Pessoas que não teriam se encontrado em outras circunstâncias na Universidade, por serem de cursos diferentes, de áreas diferentes do conhecimento, e que em torno de um filme conseguem dialogar de uma forma muito horizontal, porque estão todos em alguma medida mobilizados a pensar o filme a partir da uma parte dos referenciais que trazem das suas áreas, dos conhecimentos, das suas vivências e das suas próprias pesquisas.”

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