Professores da Faculdade de Odontologia (FO) da Universidade de São Paulo desenvolveram o Guia de prevenção, abordagem e tratamento do tabagismo para cirurgiões-dentistas, documento que contém uma série de estratégias e metodologias que podem ser utilizadas pelos profissionais da odontologia para abordar os pacientes fumantes. Conforme o professor Cláudio Pannuti, um dos autores do guia, o tabagismo é uma prática com sérios efeitos adversos à saúde bucal, sendo os mais significativos o aumento do risco de câncer bucal e de doenças periodontais.
Além disso, Pannuti destaca que os pacientes com esse hábito estão mais suscetíveis à periodontite, condição que afeta os tecidos ao redor e resulta em perdas dentárias. Os fumantes que possuem implantes dentários também enfrentam riscos elevados, incluindo a perda óssea ao redor do implante, que pode causar sua inutilização.
Cessação
De acordo com o especialista, a cessação do hábito de fumar traz benefícios significativos para a saúde bucal, incluindo redução das doenças bucais e uma melhor resposta aos tratamentos periodontais. Para Pannuti, os dentistas estão em uma posição privilegiada para intervir contra o vício, já que estão em contato frequente com seus pacientes e possuem muitas oportunidades para comentar o assunto.
“Os dentistas podem explorar os efeitos visíveis do tabagismo, como o amarelamento dos dentes, as manchas e o mau hálito. Esses efeitos não são tão graves quanto cânceres de boca e pulmão, mas afetam a qualidade estética da cavidade bucal, então podem ser alternativas eficazes para influenciar contra o vício”, explica o docente.
Para facilitar a mudança de comportamento, o professor enfatiza a importância do treinamento adequado para dentistas e de estratégias de abordagem que podem variar desde métodos breves até práticas mais intensivas. Entre as abordagens mais comuns, podem ser empregadas a terapia cognitiva-comportamental (TCC), a terapia de reposição de nicotina e os fármacos não-nicotínicos.
Fatores psicológicos
Entretanto, Pannuti reforça que é fundamental compreender os componentes psicológicos do comportamento dos fumantes, como os gatilhos que levam ao uso do cigarro. Além disso, a complexidade do processo de mudança de comportamento também precisa ser considerada, pois não se deve forçar um paciente a parar de fumar caso não esteja disposto.
Com base no modelo teórico dos psicólogos Prochaska e DiClemente (1982), o professor explica que o primeiro estágio de mudança comportamental é a pré-contemplação, na qual o fumante não considera parar. Nesta fase, o papel do profissional de saúde é informar sobre os benefícios da cessação e oferecer apoio quando o paciente estiver pronto para mudar.
À medida em que o paciente avança para a fase de contemplação, começa a considerar a possibilidade de parar de fumar, embora ainda sinta ambivalência. Nesse momento, o dentista deve reforçar os benefícios de deixar o cigarro, como a melhoria do hálito e a diminuição do risco de problemas graves. “A mudança precisa ser intrínseca, não adianta forçar ou ameaçar. A decisão de largar o cigarro precisa partir do próprio fumante”, destaca Pannuti.
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