No começo de julho deste ano, uma arquiteta ligou para o Museu de Geociências da USP (MGC) requisitando a presença de profissionais para averiguar um objeto encontrado por ela durante uma obra no jardim de uma residência próxima ao Parque Ibirapuera. Ela havia se deparado com duas peças, as quais ela suspeitou que poderiam se tratar de partes de um tronco fossilizado: uma pequena e outra com quase dois metros de altura pesando duas toneladas.
Chegando lá, a equipe confirmou suas suspeitas e dentro de duas semanas as amostras foram removidas e levadas para o MGC, o qual é ligado ao Instituto de Geociências da USP (IGc).
O tronco data de aproximadamente 300 milhões de anos e estima-se que seja originário da região de Santa Maria, Rio Grande do Sul, onde há uma grande ocorrência de florestas petrificadas. A amostra ainda passará por mais estudos, como a avaliação de paleobotânicos.
Ideval Souza Costa, geólogo que coordena o setor educativo do Museu, explica que ao morrer, o tronco caiu em um líquido extremamente saturado chamado sílica e passou por um tipo de fossilização denominado petrificação, em que a matéria orgânica do tronco é substituída por sílica. Caso estivesse em uma região tropical, o tronco poderia ter apodrecido, mas as condições climáticas do planeta e de seu local de morte permitiram sua preservação.
O geólogo comemora a aquisição dessas peças de grande valor científico: “Na casa da pessoa, a amostra estava calada; aqui ela se comunica com a sociedade”.
No momento, o tronco se encontra na frente do MGC, mas em breve será preparado um local para que ele possa fazer parte da exposição do Museu assim que as reformas acabarem.
Verba para reforma
Desde setembro do ano passado, as visitas ao MGC estão suspensas devido às reformas no prédio. O edifício, construído na década de 1970, precisava ser renovado, especialmente depois que infiltrações trouxeram mais problemas às estruturas.
A forma que os pesquisadores encontraram para custear as reformas foi através de um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) voltado para a revitalização de espaços científico-culturais. Também foi graças a esse edital que o transporte do tronco foi possível.
A chefe técnica do Museu, Miriam Della Posta de Azevedo, conta que tiveram que agir rapidamente para remover a peça de duas toneladas, caso contrário a empreiteira iria descartá-la para dar continuidade à obra. Como a aquisição do tronco estava dentro do escopo do projeto por ser uma amostra que iria para exposição, parte da verba do edital foi destinada para a contratação da empresa responsável pela remoção e transporte. “Se não houvesse essa verba a gente teria perdido um patrimônio desse”, destaca Miriam.
Os trabalhadores do Museu ainda reiteram o papel social que a Universidade desempenha: “A arquiteta nos procurou porque a USP tem um nome e ela tem que fazer cumprir esse nome. Sabemos da nossa responsabilidade”, afirma Ideval. “Estudei aqui e sinto como se pagasse meus estudos, e acho que a USP tem que ser aberta à sociedade”.
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