A prática esportiva é uma grande aliada de pessoas com deficiência (PCD) por trabalhar questões físicas, sociais e intelectuais que auxiliam na autonomia, reabilitação e desenvolvimento dessas pessoas. Por isso, é importante que os profissionais da educação física e do esporte estejam preparados para atuar com este público, cientes das especificidades de um indivíduo com deficiência física, mental, intelectual ou sensorial.
Para aprimorar a graduação dos alunos da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, Roberta Gaspar, mestranda da unidade, e Otávio Furtado, docente e orientador da pesquisadora, iniciaram a implantação de um programa prático na disciplina Educação Física Adaptada II. Roberta destaca que outras disciplinas já utilizam metodologias parecidas, mas a ideia do novo projeto, para além de fortalecer ainda mais a formação dos graduandos, é fazer a mensuração dos efeitos desse tipo de iniciativa para os alunos e para a comunidade atendida.
Implicações da aprendizagem-serviço
A abordagem educacional trabalhada no projeto é a de service-learning (SL), em português, Aprendizagem-Serviço (AS), prática que vem sendo difundida internacionalmente em cursos de graduação. A AS é uma forma de aprendizagem experimental que busca, no contexto universitário, unir os conhecimentos teóricos adquiridos com uma vivência prática através de um serviço prestado à comunidade. Outro ponto fundamental da metodologia é a conexão com problemas sociais reais, construindo assim um ciclo de aprendizagem para além do quesito profissional.
“Estamos formando alunos não só para adquirirem habilidades técnicas, teóricas, [mas] para adquirirem aqui competências sociais, para eles se tornarem cidadãos melhores.”
Roberta Gaspar
No campo da educação física adaptada, a AS traz ainda mais benefícios, pois proporciona aos alunos a relação direta com pessoas com deficiência, público que algumas vezes é pouco explorado durante a graduação, tanto teoricamente, quanto de forma prática. A pesquisadora destaca também a importância de proporcionar aos alunos o contato “com o mundo real”, uma vez que os participantes do projeto muitas vezes estão em cenários de vulnerabilidade social.
Construção do projeto
Dividido em duas partes, o conteúdo de Educação Física Adaptada é aplicado de forma teórica durante o primeiro semestre letivo e de maneira prática no segundo. Foi durante o segundo semestre de 2023 que o programa da pesquisadora teve início. No primeiro momento, participaram cerca de 18 indivíduos com deficiência, que foram deixados sob a responsabilidade de grupos de alunos da matéria.
Os graduandos tiveram a oportunidade de experimentar realizar um atendimento semelhante ao atendimento profissional: foram responsáveis por receber os participantes, conduzir entrevistas pré-roteirizadas, fazer avaliações físicas e, por fim, desenvolver um plano específico de atividade física para cada participante, focados nas necessidades e demandas individuais. Durante os meses, sob supervisão da pesquisadora e do professor responsável, eles também conduziram a aplicação prática desses programas com os participantes nas dependências da EEFE, aprendendo através do serviço.
Entre os resultados obtidos previamente durante esta fase piloto do projeto, Roberta destaca a forma como a experiência foi positiva tanto para os alunos quanto para as pessoas com deficiência. Além disso, a primeira parte do programa auxiliou até mesmo na complementação da parte conceitual ministrada durante o primeiro semestre de 2024. “Como tivemos os casos [práticos] no semestre passado, conseguimos usar eles como exemplo durante as aulas. A gente consegue dar materialidade para o que está explicando na teoria”, comenta.
Atualmente, a segunda parte do projeto está sendo estruturada. Com previsão de início para o mês de agosto, serão atendidos três grupos diferentes de pessoas com deficiências: crianças com transtornos do espectro austista ou transtornos de neurodesenvolvimento em geral, pessoas com deficiência visual e pessoas com lesões neurológicas decorrentes de AVC (Acidente Vascular Cerebral). O último grupo é novidade em relação ao atendido no ano anterior.
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