O desempenho escolar insatisfatório é um problema que ultrapassa os muros das salas de aula e reverbera em toda a sociedade. Na dissertação Relação entre responsabilidade docente e desempenho escolar insatisfatório, Regina Rodrigues Miguel, mestre pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), estuda as possíveis causas desse problema.
Sobre a escolha do tema da tese, a pesquisadora afirma que ele sempre esteve presente ao longo da sua trajetória profissional. “Uma fala recorrente do professor que diante de um aluno que não atingia as expectativas de aprendizagem era a [de] responsabilizar o aluno”. De acordo com Regina, o desempenho insatisfatório era sempre atribuído à criança ou à família: “Eram sempre causas externas e isso era uma coisa que me deixava bastante desconfortável”, completa.
Segundo a autora, a qual observou a relação de ensino entre professores e alunos do ensino fundamental em sua pesquisa, a responsabilidade docente vai além do mero repasse de conteúdo.
O professor é um mediador do conhecimento, responsável por criar um ambiente propício para a aprendizagem, identificar as necessidades individuais dos alunos e adaptar sua prática pedagógica a partir delas. No entanto, muitos professores enfrentam desafios em cumprir efetivamente esse papel.
De acordo com a pesquisa, a falta de formação adequada é um dos principais empecilhos ao bom desempenho dos docentes. A formação inicial e continuada deve prepará-los para lidar com a diversidade dos alunos, compreender suas dificuldades de aprendizagem e implementar estratégias pedagógicas inclusivas. Além disso, as condições de trabalho precárias, a sobrecarga de tarefas e a falta de recursos também impactam negativamente a atuação dos professores.
Cabe destacar também os impactos da pandemia de Covid-19 no ensino. Segundo a educadora, notou-se a transformação na prática docente e a necessidade de desenvolver um novo modelo de Escola. Houve uma mudança de comportamento docente e discente: a responsabilidade tornou-se um aspecto primordial e a autonomia revelou-se um recurso extremamente importante. No entanto, trabalhar com crianças pequenas apresentou dificuldades adicionais, visto que esses elementos ainda estavam em processo de desenvolvimento.
Regina afirma que, apesar disso, foi possível identificar um aspecto positivo: o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas. “[Os professores] foram desenvolvendo práticas e recursos didáticos muito interessantes e que passaram a ser usados em sala de aula após [a] pandemia”, completa.
A autora evidencia também como outro fator para o baixo desempenho, a ausência de um projeto educacional amplo e contínuo no Brasil. Ainda, segundo a educadora, a formulação de políticas públicas educacionais consistentes e de longo prazo é fundamental para alterar esse cenário.
Assim, a responsabilidade não recai exclusivamente sobre o professor, mas, também, sobre esferas como a familiar, a institucional e o Estado, as quais afetam diretamente o aluno como destinatário da ação educativa. “Todos são corresponsáveis pelo desempenho escolar satisfatório e pelo insatisfatório. É uma junção de forças que nós temos nesse cenário”.
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