Pesquisa da FCF-USP estuda microbiota do brasileiro por meio da dieta

Industrialização dos hábitos alimentares pode ameaçar a diversidade de microbiomas

Colônias de bactérias cultivadas em laboratório [Imagem: Reprodução/Freepik]
Pesquisas na área não atendem à realidade do país. [Imagem: Reprodução/Freepik]

Apesar de não ser visível a olho nu, há um pequeno ecossistema dentro do seu intestino que dita muito mais ações do que imaginamos. A microbiota, ou microbioma, é um conjunto de colônias de bactérias que têm variados papéis no corpo humano, desde o auxílio à digestão até a influência no desenvolvimento do sistema imunológico. A partir dessa grande diversidade de espécies bacterianas, que compõem a microbiota, uma linha de pesquisa interdisciplinar da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e universidades estrangeiras, busca traçar um perfil de microbioma para o brasileiro, considerando diferentes dietas, condições econômicas e exposições ao ambiente.

“Quando nascemos, estamos ‘zerados’ de microorganismos; desde o parto até o fim da introdução alimentar, somos colonizados por bactérias, que influenciam diretamente na criação de anticorpos”, explica Christian Hoffmann, professor do Departamento de Alimentos da FCF-USP e especialista em microbiologia. No entanto, a partir do século passado, grandes mudanças nos hábitos de higiene e alimentação têm afetado os microbiomas de populações inteiras. Dietas de alimentos industrializados, ambientes urbanos mais higienizados e uso de uma ampla gama de medicamentos antibióticos vêm diminuindo a diversidade dos micróbios que nos cercam e, consequentemente, daqueles que fazem parte do microbioma. Como resultado, as respostas imunológicas do corpo humano têm se tornado deficitárias, abrindo precedentes para o aumento de enfermidades autoimunes, como asma, alergias e eczemas, especialmente em países da Europa e América do Norte.

Christian explica que, desde os anos 1980, estava claro que havia uma relação entre imunidade e ambiente, mas ainda não se considerava a microbiota como mediadora. Hoje, o tema já está difundido nos espaços científicos, mas a maioria dos dados existentes refletem populações mais homogêneas de países industrializados. Nesse sentido, o Brasil oferece um rico campo de estudo: por suas dimensões continentais, contém uma grande variedade de dietas e diferentes níveis de integração com o ambiente, proporcionando uma diversidade de microbiomas ainda não investigada. 

Estudo compara diferentes dietas brasileiras

A linha de pesquisa interdisciplinar busca contribuir para essa compreensão, comparando microbiotas da população ribeirinha de Belém, PA, às microbiotas da população de São Paulo. Dentre os resultados, concluiu-se que nutrientes advindos de fontes diferentes estimulam a colonização do trato intestinal por diferentes tipos de bactérias, algo que é completamente novo. “Não é só o quanto você come de carboidrato, proteína ou gordura, mas as fontes dessa alimentação, porque isso tem relação com a estrutura da microbiota”, aponta Christian. Os resultados aprofundados dessa investigação devem ser divulgados ainda no próximo ano.

O professor identifica que a importância desses estudos, tanto no cenário brasileiro quanto internacional, é identificar o que caracteriza um microbioma saudável. Em seguida, entender como preservá-lo, e quais benefícios podem ser obtidos com esse esforço. “É urgente que tenhamos essa resposta, porque estamos perdendo nossa microbiota sem sequer estudá-la. Em São Paulo, já existem pessoas com microbiotas menos diversas do que outras. Além da urgência, é preciso profundidade no estudo do tema, já que a área é completamente transversal: não são só microbiologistas trabalhando, mas também bioantropólogos, nutricionistas, fisiologistas e tantos outros profissionais”, destaca o professor.

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