Radiotelescópio brasileiro é destaque em declaração de parceria estratégica entre Brasil e China

A Declaração Conjunta entre Brasil e China, assinada no dia 14 de Abril de 2023, traz uma nova dimensão de grandeza ao Radiotelescópio BINGO e contribui para a colaboração científica entre os países.

Cooperação entre Brasil e China pode ajudar cientistas a conhecerem melhor o setor escuro do universo. – Foto: Pexels

No dia 14 de abril de 2023, Brasil e China assinaram uma Declaração Conjunta visando a parceria estratégica entre as nações. Um dos destaques foi o projeto BINGO, acrônimo de Baryon Acoustic Oscillations in Neutral Gas Observations, um radiotelescópio projetado para entender o funcionamento de uma das regiões mais desconhecidas do Universo — o setor escuro. Liderado pela USP, o projeto conta com uma ampla colaboração internacional. Localizado no sertão da Paraíba, no município de Aguiar, o radiotelescópio, quando finalizado, será o maior da América Latina.

Elcio Abdalla – Foto: Divulgação/IVEPESP

Reconhecendo os resultados do Programa Sino-Brasileiro de Satélites de Recursos Terrestres, o CBERS, China e Brasil buscam aprofundar sua parceria na exploração espacial. De acordo com o coordenador-geral do projeto, Elcio Abdalla, professor do Instituto de Física (IF) da USP , “a colaboração científica significa que eles aproveitam nosso trabalho e nós o deles. Nós temos um projeto de ótima qualidade, que suplementa os projetos chineses, enquanto a China tem um projeto espacial muito grande, que lança satélites e chegou a ir à lua, e isso pode alargar o projeto BINGO. A gama de possibilidades é muito ampla”.

Além de ser o maior telescópio da América Latina, o projeto BINGO distingue-se por sua unicidade. Ao redor do mundo existem outros radiotelescópios e suas observações se complementam. Na China, por exemplo,  destaca-se o radiotelescópio FAST (Five-hundred-meter Aperture Spherical Telescope), e sua equipe frequentemente conversa com a equipe do radiotelescópio brasileiro. A Declaração Conjunta intensifica a relação de “ganho-ganho” entre os países, no campo da ciência.

O lado escuro do universo

Segundo Abdalla, o Universo visível “corresponde a apenas 5%, o resto é algo escuro que não conhecemos”. O projeto BINGO procura desvendar os 95% restantes, que estão por trás da expansão do espaço e da estrutura das galáxias. O professor explica que “70% do universo é formado por energia escura, um nome fantasia para alguma coisa que não conhecemos ainda, que produz a expansão acelerada do Universo”. E que o restante faz parte da matéria escura, que interage com o restante da matéria apenas através da atração gravitacional.

Esses elementos escuros do Universo abrem um campo teórico e especulativo da física. Avanços incrementais surgem através de esforços contínuos de cientistas ao redor do globo. A esperança de Abdalla é que o radiotelescópio brasileiro ajude na descoberta de um novo campo na física: “eu gostaria de ver nesse campo escuro outra fase do Universo, pensar no que pode acontecer e não vemos é fascinante”, afirma.

O lado humano da ciência

O projeto BINGO impulsiona não apenas a construção do conhecimento científico, mas o impacto da ciência sobre a vida humana. Entre professores, alunos e colaboradores, mais de uma centena de pessoas trabalham diretamente no projeto. O desenvolvimento do radiotelescópio serviu para formação de muitos profissionais que atuam tanto no setor público como privado. Além disso, existe um amplo esforço de divulgação científica pelos pesquisadores.

O professor destaca que sua maior felicidade é a diversidade de pessoas que contribuem com o projeto. “Ele não é fechado, todos são úteis e nós temos o prazer de ver que chegam estudantes de todos os tipos de perfil social, que colaboram e trabalham, o que nos deixa muito felizes”.

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