Conquistar a confiança é um desafio latente a qualquer pessoa física ou jurídica. No universo desportivo, há, inclusive, quem pague por esse reconhecimento. Tema da dissertação de mestrado defendida por Rene Fender na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e orientada pela professora Flávia Bastos, Governança em Confederações Olímpicas brasileiras: impactos do primeiro ciclo de implementação do Rating Integra, mostra como a busca de entidades esportivas pelos olhos de patrocinadores recorre, hoje, a ferramentas de análise e qualificação.
Organizações desportivas no Brasil
Toda organização esportiva brasileira, devidamente cadastrada no Sistema Nacional de Desporto (SND), tem como objetivo prezar pela manutenção e desenvolvimento das práticas físicas no país. No topo do guarda-chuva, encontram-se os Comitês Olímpico e Paralímpico Brasileiro (COB e CPB, respectivamente). Ambos detém, em detrimento da Lei Agnelo Piva, o dever de distribuir o capital proveniente das loterias federais para as demais confederações.
Os repasses de verba, feitos pelo COB e CPB, seguem uma lógica pautada no sucesso, transparência e desempenho dos órgãos inferiores. A partir da análise, delimita-se a quantidade de recursos destinada a cada um deles. “Sem as duas organizações no topo do SND, seria muito difícil para outros clubes, federações e entidades receberem seu devido aporte”, indica Fender. A conduta das instituições “mães” é indispensável, pois delimita métodos e operacionaliza processos.
Instrumentos avaliativos no esporte
Atualmente, o emprego de mecanismos classificatórios no meio esportivo é uma constante. No entanto, até alcançar o seu lugar ao sol, foram necessários anos de denúncias. Entre as décadas de 70 e 80, identificaram-se uma série de esquemas de corrupção correlatos às edições dos Jogos Olímpicos. A percepção desse fenômeno gerou uma comoção internacional a fim de alterar o status quo e evitar a repetição desse cenário.
A partir do movimento de ruptura, instrumentos direcionados à avaliação de órgãos desportivos começaram a ser desenvolvidos. No Brasil, o principal mecanismo público de qualificação foi lançado pelo COB, apenas em 2017. O chamado Programa Gestão, Ética e Transparência (GET), cumpre esse papel por meio de sua aplicação obrigatória a qualquer confederação.
Rating Integra
Criado em 2019, o Rating Integra é fruto de uma parceria entre entidades esportivas e patrocinadores. Liderado pelo grupo de empresas intitulado, “Pacto pelo Esporte”, o programa diferencia-se por fugir um pouco do âmbito da acusação e abraçar o da promoção. O sistema é pautado sob um objetivo dual: garantir visibilidade aos comitês e instruir melhor os investidores. “Sua premissa é demonstrar aos players do mercado, quais as entidades mais adequadas a serem aportadas”, explica.
Em contrapartida ao GET, trata-se de um parâmetro pago, opcional e autodeclarado. Logo, afasta-se das características de um método de denúncia. Uma entidade com questões judiciais mal resolvidas, por exemplo, não teria razões para buscar, ativamente, pela plataforma. “Apesar de contar com essa vertente no entrelinhas, o propósito central do Rating Integra não é identificar escândalos nem processos corruptivos dentro das confederações”, acrescenta o pesquisador.
Principais vantagens
No final das contas, o Rating Integra é um instrumento de promoção. Não à toa, foi elaborado por um conglomerado de companhias interessado em nivelar o mercado. Além disso, os resultados de quem realiza o teste apenas tornam-se públicos caso atinjam a “nota de corte” estabelecida. Ou seja, as más gestões, governanças e intransparências são, simplesmente, omitidas.
Para as confederações, o benefício reside nos feedbacks. A partir da análise de seus pontos fortes e fracos, são tecidas sugestões de melhora. Caso o órgão obtenha uma nota satisfatória, seu nome será posicionado em um ranking e veiculado no site. Sua posição transforma-se em moeda de troca para dialogar com as corporações.
No caso dos patrocinadores, a regalia é adquirir um olhar mais nítido do mercado. “Com o Rating, abandona-se o ‘achismo’ nas escolhas. Saber qual a entidade melhor gerida torna o investimento em algo confiável”, finaliza Fender.
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