Cuidados com a prole e disputa pela posse sexual são fatores que podem contribuir na perpetuação das espécies

Pesquisador da USP analisa as relações do cuidado parental com a seleção sexual de opiliões

Fotografia de um opilião macho. Imagem: Bruce Marlin / Wikipédia

Controle parental são os comportamentos de cuidado materno e paterno com a prole, até que essa alcance a independência física. Já a seleção sexual é a disputa entre indivíduos de um sexo pela posse do outro. No geral, na natureza, machos competem por fêmeas, que cuidam do desenvolvimento das células reprodutivas.

No entanto, há espécies de opiliões, uma ordem dos aracnídeos, que fogem dessa lógica tradicional. Em alguns desses aracnídeos o controle parental é paterno e o desenvolvimento da prole se dá nos ninhos, construídos e protegidos pelos pais. São eles que esperam que as fêmeas compitam para depositar os ovos nos seus ninhos.

Nesta entrevista à AUN, o pesquisador Glauco Machado (SexLab), do Instituto de Biociências (IB-USP), analisa estudos que ele ajudou a elaborar sobre algumas das relações de cuidado parental paterno e da competição reprodutiva de certos opiliões. Ele expressa a magnitude da peculiaridade desses grupos: Se pegar todos os outros aracnídeos e existem por volta de 100 mil espécies, somente o opilião tem cuidado paternal exclusivo”.

Relações dos sexos com o ninho

A relação dos sexos dos opiliões com o ninho é complexa, pois não é toda vez que as fêmeas conseguem depositar seus ovos. Por algum motivo ainda incerto os machos, às vezes, impedem que isso ocorra.

Além da reprodução, as fêmeas possuem outra função ecológica. “Existem algumas chamadas de residentes, pois, depois delas copularem com o macho, elas não vão embora, ficam perto do ninho, do lado de fora, é como se tivesse fazendo uma segunda defesa da prole”.

Nos momentos que o macho deste aracnídeo sai do seu ninho foi perceptível, além da invasão de predadores em busca dos nutrientes dos ovos, a presença de outros machos, que ocupavam esse espaço, adotando as células reprodutivas do antigo ser. O pesquisador explica: “Um macho é capaz de ostentar um ninho apto quando esse está cheio de ovos, assim ele é visto por fêmeas como um papai super atrativo. Logo, se tiver linhagem [que não necessariamente seja do indivíduo] e ovo é mais fácil dele procriar”.

A construção do ninho

A atividade de construção de um ninho é custosa, demanda muita saliva, viagens para coletar materiais e adversidades climáticas. Assim é crucial, do ponto de vista da competição reprodutiva, saber onde produzir o melhor ninho possível, como forma de garantir um bom controle parental.

Dentro dessas estratégias evolutivas, por estarem diante de um cenário tropical, no geral no centro da América, os machos dessas espécies de opiliões constroem um ninho de barro em troncos caídos: “Em uma floresta tropical, madeiras gigantes caem e, em muitas ocasiões ficam suspensas no solo. Assim eles constroem os ninhos na parte inferior do tronco, sendo uma proteção natural a chuva”, explica Machado.

Contudo, o impacto da velocidade da água das chuvas nos troncos que sustentam os ninhos é outro fator que interfere na seleção sexual dessas espécies: “Os opiliões [com sucesso reprodutivo] vão evitar as zonas laterais dos troncos, onde a força de arrasto da água é muito forte. Ao mesmo tempo que também vão evitar a parte de baixo [inferior], que apesar da força de arrasto ser mínima, pode-se acumular água e inundar os ninhos” conclui Glauco. Como resultado dessa seleção, os aracnídeos que escolhem os sítios mais aptos às condições ambientes, além de gastar menos energia na reparação desses espaços, também são mais atrativos, o que acarreta na perpetuação de seus descendentes.

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