Pesquisadores propõem soluções para universalização energética e desenvolvimento sustentável

Em evento online, Instituto de Energia e Ambiente (IEE) trouxe cientistas estrangeiros para discutir diversas questões relacionadas, como mudanças climáticas e justiça ambiental

Vista da entrada do Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP) Imagem/IEE-USP

Em meio a grande importância do debate das mudanças climáticas e do acesso à energia, o Instituto de Energia e Ambiente (IEE), da Universidade de São Paulo (USP), realizou em 20 de setembro o Seminário Internacional sobre Pobreza e Justiça Energética, um evento online que reuniu palestrantes de diversos países para discutir questões fundamentais no campo da energia, como transição energética, justiça ambiental e universalização.

Ao todo, foram nove palestras conduzidas por pesquisadores de Chile, Argentina e Reino Unido, que trouxeram a perspectiva de seus países e continentes sobre o cenário do setor energético e a influência de eventos de grande porte, como a invasão russa na Ucrânia e as consequências trágicas do aquecimento global.

Ao longo de mais de cinco horas, análises, constatações e propostas de solução foram apresentadas aos ouvintes, consolidando uma iniciativa que auxiliou na difusão para o público de informações relevantes para compreender os problemas energéticos em cada parte do mundo, assim como refletir sobre o papel da sociedade civil na transformação do planeta para um futuro mais sustentável.

O alto custo de energia na Europa

Em uma apresentação sobre o cenário de energia britânico, o pesquisador Neil Simdock, da Liverpool John Moores University, exibiu formas de solucionar o problema dos altos preços das contas de energia no Reino Unido, que dobraram seus valores no último ano após os bloqueios na cadeia de fornecimento geradas pela guerra na Ucrânia. 

Simdock disse que o problema britânico vem da dependência que o país tem em relação ao gás, que gera 40% de toda a eletricidade em seu território. Ele discutiu formas de aliviar a pressão sobre os consumidores domésticos, exibindo dois caminhos para a solução do desafio: o universalismo e o direcionamento estratégico.

Primeiramente, Simdock propõe soluções que abarcam toda a sociedade, como o congelamento de preços de combustíveis. Apesar de universalizar os benefícios de uma medida, soluções universais são caras e acabam atingindo camadas da população que não necessariamente enfrentam problemas, sendo este o caso dos mais ricos.

Por outro lado, ele mostra que soluções direcionadas atingem somente a parte da sociedade que passa pelas dificuldades, como um auxílio financeiro, o que seria mais barato e mais eficiente. No entanto, Simdock aponta que estas soluções são burocráticas e exigem alta tecnologia para a identificação de quem realmente precisa do benefício.

Assim, o pesquisador concluiu que a solução ideal passa por uma síntese das duas propostas, em que se combina a solidariedade do universalismo com a eficiência das soluções direcionadas, como no caso de um congelamento de preços seguido da implementação de uma tarifa sobre os mais ricos.

“Na balança, eu prefiro soluções universalistas do que direcionadas para lidar com a crise de energia, mas elas não são necessariamente excludentes. Você pode combinar ambas”, aponta Simdock.

A pobreza e a sustentabilidade na América do Sul

Para discutir o cenário sul-americano, o seminário trouxe o pesquisador José Pablo Undurraga, da Universidade de Talca, no Chile, que apresentou a questão energética no continente sob três aspectos: a seguridade e acesso à energia, o desenvolvimento sustentável e a equidade.

Na análise, Undurraga exibiu análises sobre Chile, Argentina, Paraguai e Colômbia. O que o pesquisador evidenciou foi que estes países, juntamente dos demais do continente, evoluíram de forma significativa na diversificação energética, ao desenvolverem fontes sustentáveis, como a solar e a eólica.

Estas nações também conseguiram ampliar o acesso à energia, levando eletricidade a milhões de residentes que antes não tinham a possibilidade de acessar as redes elétricas nacionais.

Mas a questão da equidade ainda é um problema sério para o continente. Os preços de energia, que impactam o consumo de muitas pessoas de baixa renda, acabam dificultando a universalização energética, apesar da grande oferta e da garantia de pouca emissão de carbono.

“Se não tivermos energias renováveis, precisamos fazer políticas públicas que melhor atingem essa ambição, temos que melhorar a eficiência energética, porque faz parte da rentabilidade e da forma que utilizamos a energia e, em outro aspecto, [combater] a pobreza energética, entendê-la e medi-la. Este é o desafio”, disse Undurraga.

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