
Reinaugurado há poucos dias do bicentenário da Independência, o novo Museu do Ipiranga — ou Museu Paulista — volta a receber o público após 9 anos de reforma. Fechado em 2013 por instabilidades estruturais, foi construído em 1985 para ser um monumento à Independência, e, hoje, é o maior projeto da Lei Rouanet, segundo Amâncio Jorge de Oliveira, vice-diretor. Com o intuito de atrair o público, o acervo já conhecido foi analisado e exposto de forma a levar as pessoas a terem uma visão crítica sobre a história do Brasil.
A demora para a reabertura, segundo o vice-diretor, deve-se às dificuldades logísticas de retirar as obras, colocá-las em lugar seguro e captar o dinheiro para a reforma. A restauração também encontrou empecilhos na adaptação do espaço, uma vez que um dos pilares do novo Museu é a acessibilidade. Transformar um espaço do século 19 em um ambiente composto por elevadores, escadas rolantes e rampas, sem danificar a estrutura externa e a visita imersiva do público, foi um desafio.
Por meio de recursos multimidiáticos, as exposições promovem o pensamento crítico acerca de uma história que já não diz respeito ao Brasil de hoje, mas que fazia sentido em outro tempo. Em coletiva de imprensa no Museu, a educadora Denise Peixoto compartilhou com a AUN como, para ela, “é essencial que o público faça perguntas, como: a que interesse as obras atendiam ao serem encomendadas e produzidas? Por que tais momentos foram representados assim? Por que o gênero de pintura histórica representa os personagens dessa forma?”.
Itens comuns à vida doméstica, como louças, eletrodomésticos, móveis, e adereços femininos, dos últimos 150 anos, dialogam com a constante mudança social, em específico, da cidade de São Paulo. Na comemoração do centenário de 1922, o então diretor do Museu, Afonso Taunay, encomendou pinturas e esculturas para narrar a história seguindo o que era a referência do momento, conta a educadora.
Dessa forma, a estrutura fiel à montada por Taunay no início do século 20 possibilita ao público uma visão imersiva ao que era contado como história na época, ao mesmo tempo que essa mesma história é questionada pelo próprio Museu, que convida as pessoas a fazerem o mesmo.
Para Denise, a possibilidade de apresentar diversas formas de interpretação é promover a visão decolonial, que pensa criticamente sobre o que comumente é aceito como a história verídica, mas que na verdade, são representações do passado, uma narrativa construída. “As exposições tentam mostrar para o público como essas imagens foram produzidas, reproduzidas, consumidas e inseridas no nosso cotidiano, quase que naturalizando o passado como se ele tivesse sido exatamente assim”, afirma a educadora.
Museu para todos
Garantir o acesso de pessoas com deficiência é uma das premissas do Museu. Para isso, todas as salas possuem mesas multissensoriais para serem tocadas, recriando diversas imagens e itens expostos, além de tradução para deficientes auditivos e cegos, em libras e em braille. “São mais de 3.700 unidades do acervo dispostas, 333 objetos multissensoriais e 70 audiovisuais”, explica Vânia Carneiro de Carvalho, professora e diretora do acervo do Museu. “Fizemos um investimento muito grande em acessibilidade para que o Museu não fosse apenas fisicamente acessível, mas também cognitivamente.”
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